No Quênia, casais do mesmo sexo não podem adotar crianças ou até mesmo contrair casamento. De acordo com a Wikipédia, o estado queniano não reconhece nenhum tipo de relação entre pessoas do mesmo sexo. Qualquer tipo de união homossexual é condenado por lei, sendo passível de punição por até 5 anos.
Em 2019, o país instituiu a indecência grosseira, que é crime de acordo com a Seção 162 do Código Penal Queniano, punível com até 21 anos de prisão, o que também vale para qualquer tipo de prática sexual denominada como sodomia.
A sociedade queniana é conservadora e a grande maioria da população tem opinião negativa a pessoas homossexuais, ou seja, aquelas que se relacionam com pessoas do seu mesmo sexo biológico.
Em 2023, o Pew Research Center fez uma pesquisa que chegou à conclusão de que pelo menos 90% dos quenianos se opõem ao casamento entre pessoas do mesmo sexo. 13 anos atrás, o então primeiro-ministro do Quênia, Raila Odinga, pediu que mulheres homossexuais fossem presas junto com os homens homossexuais.
![Sou padre e gay: como é a igreja que acolhe LGBT no Quênia, onde a homossexualidade é crime](https://osegredo.com.br/wp-content/uploads/2024/01/sou-padre-e-gay-como-e-a-igreja-que-acolhe-lgbt-no-quenia-onde-a-homossexualidade-e-crime-imagem-1.jpg.webp)
Nesse contexto é que uma igreja tem sobrevivido, na clandestinidade, atendendo fieis homossexuais.
Em entrevista à BBC News, John, nome fictício para preservar a identidade do entrevistado, comentou que deixou sua paróquia quando lhe disseram que sua sexualidade era pecaminosa e que ele deveria permanecer no celibato.
Após ter saído, ele descobriu a igreja onde atualmente prega. A maioria dos fiéis vêm porque conheceram o lugar através do famoso boca a boca. Para evitar perseguição, os próprios membros devem ter o máximo de cautela ao compartilhar detalhes das reuniões, principalmente para garantir que não seja algum tipo de armadilha de alguém de fora que os queira denunciar.
Quem quer participar das reuniões é previamente analisado, antes de ter permissão para frequentar o espaço. Atualmente, existem mais de 30 pessoas que participam dessa igreja.
Uma das entrevistadas relatou que após o falecimento do seu pai, por complicações do HIV, a família inteira passou a ser tratada de maneira diferente por várias pessoas. Desde darem à família copos e pratos diferentes, porque acreditavam que sua família poderia transmitir o vírus.
“A igreja era um dos lugares que não podíamos visitar porque as pessoas achavam que minha mãe era ‘suja’”, relata a entrevistada.
Ao serem impedidos de assistir às celebrações, várias pessoas passaram a buscar sermões no Youtube, enquanto buscavam outros homossexuais para compartilhar pensamentos e criar laços de amizade.
Nessa época, o combate à homossexualidade cresceu na África Oriental. Em Uganda, leis anti-homossexuais ficaram mais rigorosas.
No Quênia, ainda há quem os ataque. Nesses 10 anos de existência, tal igreja, que não teve o nome divulgado, precisou mudar de lugar pelo menos umas nove vezes, para manter seus membros seguros.
No entanto, os fiéis passaram por várias histórias. A igreja já foi saqueada, os membros foram atacados pela sociedade e a polícia chegou a exigir suborno para que pudessem proteger os membros e o espaço, quando não os ameaçavam de espancá-los e até de prendê-los.
Após o culto, vários membros buscam os pastores da igreja para pedir suporte emocional sobre questões de rejeição por parte da família, falta de moraria entre outros temas que são ainda um verdadeiro desafio para essas pessoas por serem abertamente homossexuais.
Contudo, a crescente onda conservadora tem atingido a vários países africanos. No início do ano passado, pastores anglicanos, segundo o site Guia Me, não aceitaram a decisão da Igreja da Inglaterra em abençoar casamentos de casais do mesmo sexo. A justificativa é que a igreja tem se afastado dos ensinamentos bíblicos.
“A Igreja da Inglaterra é muito boa em fazer declarações contraditórias e esperar que todos acreditem que ambas podem ser verdadeiras ao mesmo tempo. Agora ela se afastou da Bíblia e sua mensagem é o oposto. Eles estão até se oferecendo para abençoar o pecado. Deus não abençoa o que Ele chama de pecado. Isso está errado”, disse o bispo Stephen Samuel Kaziimba Mugalu, de Uganda, em declaração sobre a decisão vinda da Inglaterra.
Para o pastor Jackson Ole Sapit, da Igreja do Quênia, essa mudança pode ser classificada como “infeliz crescimento da eclesiástica liberal desonesta dentro da Comunhão Anglicana”.
O Arcebispo Metropolitano de Nairóbi, em declaração, proibiu que o clero inteiro em sua arquidiocese abençoe casais do mesmo sexo. Para ele, a doutrina da Igreja Católica deve ser respeitada por todos os clérigos que morem na cidade e que ministrem em sua Arquidiocese. A carta foi publicada, segundo o site Instituto Plínio Corrêa de Oliveira, em 23 de dezembro de 2023.
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Philip Anyolo, Arcebispo Metropolitano de Nairóbi, ainda disse que “qualquer forma de bênção de uniões e atividades entre pessoas do mesmo sexo vai contra a palavra de Deus, dos ensinamentos da Igreja, das tradições culturais africanas e das leis de nossas nações, além de ser um escândalo para os fiéis”.
O caso de Uganda não é isolado no continente africano. De acordo com a Anistia Internacional, países como Mauritânia, Sudão, Nigéria do Norte e Somália do Sul, pessoas homossexuais correm risco de pena de morte.
Em outros países do continente africano, a homossexualidade é um crime passível de prisão, porém as leis mais duras estão na Gâmbia, Serra Leoa e na área centro-africana, onde alguns países podem punir até com a prisão perpétua.
Apesar de no Egito a homossexualidade não seja criminalizada, pessoas homossexuais são perseguidas. Já no Niger, Mali, Burkina Faso, Costa do Marfim, Congo, Gabão e Madagascar, pessoas homossexuais não têm nenhuma proteção, mas a discriminação ainda existe, de acordo com o divulgado pelo site da Unisinos.
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