Quantas vezes não nos deparamos com aquele fatídico momento em que simplesmente não sabemos como agir, então nos frustramos e deixamos as crianças ainda mais confusas?
A educação infantil pode ser um dos momentos mais desafiadores para pais, responsáveis e cuidadores, porque a simples expectativa de tentar ajudar a criança em todas as suas etapas de crescimento e desenvolvimento, suprir as expectativas da sociedade e ainda manter uma vida equilibrada podem ser processos exaustivos.
Quando lidamos com a maternidade e a paternidade sem parâmetros de perfeição e sem cobrança exagerada, enxergamos as crianças como são: únicas!
Esses pequenos indivíduos, que dependem de nós para absolutamente tudo, não estão em busca de perfeição, mas de segurança, de acolhimento, de carinho e de alguém que lhes ensine um pouco sobre tudo. Nas redes sociais, muitas famílias se conectam com perfis que passam informações sobre as etapas de desenvolvimento da criança e, de maneira unânime, os 2 anos entram no top 5 dos maiores medos dos pais de primeira viagem.
Chamado de terrible two, ou “terríveis dois anos”, essa é a fase em que as crianças entram no processo de deixar de ser bebês e descobrem que simplesmente não precisam acatar tudo que os adultos falam. É justamente o momento em que se dão conta de que também são indivíduos, que têm vontades e voz, querendo impô-la a todo momento.
Veja bem, em um mundo ideal, em que não precisaríamos acordar as crianças muito cedo para que estivessem às 7h na escola, para que nós adultos cumpríssemos nossa rotina de trabalho remunerado, assistir a esse crescimento seria algo simplesmente maravilhoso. Porém frequentemente nos vemos à beira de um abismo, tentando conciliar a vida na sociedade capitalista com as exigências e demandas de uma criança que ainda responde basicamente aos instintos.
Bom, em primeiro lugar, é preciso deixar claro que, independentemente da ocasião, a agressão não é uma saída, assim como qualquer outra forma de castigo. Estudos recentes mostram que crianças que sofreram qualquer tipo de violência na primeira infância têm mais dificuldade de se estabelecer em trabalhos na vida adulta, em manter uma relação profunda com outras pessoas, além de mais chances de desenvolver transtornos emocionais.
Porém existem alguns passos que podemos dar quando enfrentamos esses momentos tensos, em que precisamos cumprir horários ou estamos apenas cansados do dia inteiro e acabamos “esbarrando” em uma criança que quer a todo custo impor suas vontades, seus desejos. Confira abaixo alguns deles:
1. Procure entender o que está acontecendo
Sempre que uma criança demonstra insatisfação, é possível encontrar as raízes desse problema. Por exemplo, o filho começou a se debater na cadeira do carro porque um brinquedo caiu no chão, e é simplesmente impossível parar para resgatar aquele objeto no meio do trânsito caótico. Esse é apenas um cenário fictício, mas aposto que os pais sabem muito bem imaginar vários outros possíveis aqui, independentemente disso, esse é o momento de tentar fazer uma retrospectiva tentando compreender o que está acontecendo.
Pode ser que tenha passado do horário de a criança comer, pode ser que esteja com sono, que tenha sido exposta demais a telas naquele dia ou que simplesmente esteja entediada. Sempre existe uma razão um pouco mais abaixo da superfície que explica justamente o que pode ter desencadeado aquela “fúria” repentina, e entender isso é o primeiro passo para tentar estabelecer uma relação saudável com o conflito e a frustração.
2. Nunca parta para o confronto, agressão ou gritaria
Sabemos que, em muitos momentos, a paciência parece sumir com todos os outros problemas que ainda existem para serem resolvidos, mas nada vai adiantar confrontar a criança naquele momento de raiva. Ainda que ela tenha se jogado no chão do mercado, ainda que ela tenha quebrado um copo, ainda que ela tenha feito exatamente aquilo que você pediu inúmeras vezes para não ser feito, de nada vai adiantar.
Sabe por que esse ímpeto do adulto de querer dar um sermão não resolve? Simplesmente porque aos 2 anos as crianças não têm desenvolvimento neurológico suficiente para lidar com as frustrações e os sentimentos mais complexos, ou seja, elas acabam “se perdendo” nas emoções, e têm alguns “acessos de raiva”, algo comum para a idade delas. Se preciso for, saia por alguns segundos do cômodo, ou se estiverem na rua, tente respirar fundo para conter aquela raiva que surge de início.
3. Mostre que você está disponível para acolher
Algumas crianças não gostam do contato físico nesse momento de frustração, outras só querem um colo. Independentemente de como for o seu filho, é indispensável se mostrar disponível para o acolher, para ajudá-lo a passar por aquele momento difícil. Nossos filhos precisam de ajuda e apoio, precisam aprender como lidar com toda essa profusão de sentimentos, e a melhor coisa é mostrarmos na prática como se faz.
Diga que você compreende que aquilo o deixou frustrado ou que imagina como aquilo doeu ou causou tristeza, e que você está ali para um abraço ou um colo. Ao contrário da ideia popular de que o colo pode atrasar o desenvolvimento, estudos revelam que é o oposto, o acolhimento e o colo apenas ajudam a fortalecer a independência da criança mais rapidamente, assim como a autonomia e a autoestima.
4. Depois do furacão, é o momento da conversa
Depois que o choro e a confusão tiverem passado, é o momento de estabelecer um diálogo com seu filho, analisando apenas a faixa etária para adaptar o vocabulário para melhor entendimento. Ouça-o para saber o que ele sentiu, o que provocou aquela sensação de raiva ou tristeza, e posteriormente explique que você também se sente assim, que também acha difícil lidar com esse sentimento.
Assim que estabelecer essa ponte com a criança, tente explicar-lhe os motivos para ela não se jogar no chão do supermercado, não quebrar objetos, não bater em colegas, mas sem fazer aqueles apelos emocionais do tipo: mamãe ficou muito triste, mamãe vai chorar. Lembre-se que a criança não precisa se sentir ainda mais confusa, muito menos ter manipuladas suas emoções, ela precisa verdadeiramente compreender que bater em um colega causa dor ou quebrar um copo oferece riscos a quem está por perto.
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5. Repita quantas vezes forem necessárias
Pode ser que você faça tudo isso e que o mesmo comportamento volte a acontecer, por isso trabalhe a paciência e repita quantas vezes forem necessárias. Procure exemplos do cotidiano em que você também se sentiu mal ou frustrado e mostre como agiu, que manteve a calma e que essa é uma boa forma de lidar com as pessoas, porque vivemos em sociedade.
De fato, nos primeiros anos de vida, os desafios são muitos, assim como a quantidade de perguntas que essas crianças fazem, elas estão aprendendo absolutamente tudo. Por isso, antes de brigar, de partir para o confronto, certifique-se de que ela sabe que aquele comportamento pode causar mal aos outros. Muitas vezes, o pequeno se comporta de tal forma apenas porque acredita ser aquele o jeito certo, e justamente por isso precisamos tentar entender o que está acontecendo antes de tomar qualquer medida precipitada.
6. Tenha um bom relacionamento com seus filhos
Por fim, estabeleça um relacionamento verdadeiro com seus filhos, baseado na confiança, na verdade e na honestidade, e procure se comportar da maneira que espera que um dia seus filhos se comportem. Sem manipulação, sem brigas ou agressões, seja honesto e explique o que é certo e o que é errado, e esteja sempre disponível para sanar dúvidas e questionamentos deles.
Faça com que eles participem da rotina da casa, que também tenham suas responsabilidades, suas tarefas, e explique o quão importante isso é quando vivemos em sociedade. Esse tipo de relação não apenas estabelece limites, como faz com que sejam adultos emocionalmente fortes, capazes e questionadores, que não aceitam qualquer resposta como verdade e não são facilmente enganados.