Os irmãos de 7 e 9 anos que passaram 26 dias desaparecidos na floresta amazônica improvisaram e se alimentaram de sorva – um fruto típico da região – para não morrerem de fome na mata, segundo o coordenador do DSEI (Distrito Sanitário Indígena) de Manaus (AM), Januário Carneiro Neto, que acompanha o caso. Eles foram encontrados na terça-feira (15), por um cortador de lenha, e estão em tratamento especializado na capital amazonense.
Segundo o coordenador, o irmão mais velho era quem procurava as árvores que tivessem o fruto, muito consumido por comunidades tradicionais da Amazônia. A sorva é uma espécie pequena, de formato arredondado, com sabor adocicado e cor esverdeada.
“Conversei com o irmão mais velho, e foi isso que os salvou. Não foi uma ideia, foi um instinto de sobrevivência. Se eles sentiam fome, iam lá e comiam. É uma frutinha pequenininha que estava de fácil acesso para eles, era o que tinha”, frisou o coordenador, corrigindo uma informação inicial de que eles haviam ficado sem comer durante o sumiço.
De acordo com ele, os irmãos Glaucon e Gleison, encontrados em grave estado de desnutrição e desidratação, ainda estão muito assustados e falam pouco sobre o período em que estiveram perdidos na selva. O coordenador classificou o resgate como um “milagre”.
![Irmãos comeram fruto típico do AM para sobreviver na floresta por 26 dias](https://osegredo.com.br/wp-content/uploads/2022/03/sorva-fruta-comestivel-tipica-do-amazonas-1647653766890_v2_750x421.jpg.webp)
“Isso foi um milagre de Deus, proteção dos espíritos da floresta”, comemorou ele.
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Uma foto enviada pelo DSEI, na manhã de hoje, mostra os garotos sentados no leito de uma enfermaria. Eles aparentam estar mais magros e abatidos. Na imagem, é possível perceber lesões no rosto e na perna esquerda do menino de 7 anos. “Eles estão com os pais, e em plena recuperação alimentar”, ressaltou Neto.
Menino carregou irmão nas costas
Uma das enfermeiras que atendeu os meninos disse que o irmão mais velho contou que precisou carregar o mais novo nas costas, por vários momentos, na floresta. Segundo ela, o garoto de 7 anos tinha dificuldades para andar, por causa de feridas nos pés, provocadas pelo contato com o solo.
Ainda segundo a enfermeira, os meninos relataram que usavam folhas de árvores para coletar a água que caía das chuvas e, assim, não morrerem de sede. O tio dos garotos disse ao UOL que, para a família, “a maior aflição já passou”.
Busca por tratamento especializado
As crianças permanecem internadas no HPSC (Hospital e Pronto-socorro da Criança) da Zona Oeste de Manaus. Elas foram transferidas de Manicoré, a 390 km de Manaus, em uma UTI (Unidade de Terapia Intensiva) aérea, após o Ministério Público expedir um ofício determinando o deslocamento, caso não fosse possível atendimento especializado – em até quatro horas – no Hospital Regional de cidade.
A SES (Secretaria de Estado da Saúde) informou hoje que os meninos estão clinicamente estáveis e que recebem os cuidados necessários para reverter o quadro de desnutrição e escoriações. Eles ainda não podem ingerir alimentos sólidos.
“Ambos apresentaram melhora considerável do quadro e boa recuperação das funções renais. Já houve introdução alimentar, com dieta pastosa, para reequilíbrio e fortalecimento da flora intestinal, para posteriormente receber dieta sólida”, detalhou o órgão.
Resgate
Os irmãos desapareceram no dia 18 de fevereiro após saírem de casa para caçar passarinhos, informou o Corpo de Bombeiros, à época. A guarnição anunciou o encerramento das buscas no dia 25 de fevereiro, mas familiares e moradores continuaram a procura pelos garotos.
Eles foram encontrados em uma região localizada a cerca de 35 quilômetros da comunidade onde moram, em Manicoré.
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