E com leucócitos ZERO no sangue ela dançava.
Dançava com seu Brad.
Sim, o Brad Pitt, nome que deu àquele aparelho que carrega o soro e que eu não faço a menor ideia do nome real.
Melhor Brad Pitt.
Que nunca a deixava, que encafifou com ela e a perseguiria por todo o período de internação.
E, Brad, você não me larga, hein? Que paixão, dizia.
Um mês no hospital. Trinta dias. Quanto tempo para uma pessoa extremamente ativa, que vai, vem, faz e desfaz para um monte de gente.
De repente, leucócitos ZERO (é o que, de fato, se espera em um transplante de medula).
Uma música para dançar (My Girl, na linda regravação da banda Pato Fu) e um Brad que não larga de nosso pé.
Trinta dias que me ensinaram trinta anos.
Eu, apenas uma visita, tinha a liberdade de ir e vir. E, numa dessas idas, sentei-me, na recepção do hospital, quando um voluntário se pôs ao piano e tocou uma serena e linda música. Meus olhos marejaram…
Senti-me em uma novela de Manoel Carlos, mas tão real, que eu não sabia o fim. Torcendo para que tudo desse certo. Rezando muito.
Pensei, então, na função da emoção nesses dias difíceis. Precisamos cantar, precisamos dançar, precisamos chorar. E deixar as lágrimas correrem. Precisamos da nossa imaginação, de nossos “Brads” e “Angelinas Jolie”. Precisamos brigar com eles e amá-los também.
Isso me fez pensar sobre Jesus, em seus momentos mais difíceis, quando morria na cruz. Sempre ouvi, durante a missa, que Jesus, em seus instantes finais, dizia: Senhor, por que me abandonaste? Confesso que nunca havia entendido essa passagem. Tão contraditória. Jesus sabia que Deus não o abandonaria. Perguntei sobre essa passagem a um estudioso da Bíblia e, então, ele me explicou que essa fala era uma música¹ da época de Cristo. Nossa, eu que amava as passagens da vida de Jesus, senti ainda mais admiração pelo grande mestre. Naquele momento de tortura e padecimento terríveis, Ele cantava!!!
Sim, Ele cantava a Deus para aliviar o seu sofrimento. Mais um ensinamento de humildade de um ser perfeito a nós, homens e mulheres, imperfeitos.
Cantemos, pois. E, se pudermos, dancemos também. E se sua voz não conseguir sair, cante em pensamento. Mas cante, cante…e abençoemos a vida a cada instante…