No dia 8 de fevereiro de 2023, o Google decidiu homenagear a modelo Mama Cax, mulher negra e com deficiência que tornou-se um verdadeiro símbolo de luta pela diversidade no cenário da moda.
Ao invés da logo tradicional, uma ilustração colorida de Mama, desenvolvida pela artista Lucy Lucien, apareceu na página inicial do site de buscas, causando muita curiosidade e repercussão nas redes sociais.
Continue a leitura para entender a trajetória da haitiana-americana que deixou um legado impressionante na história das passarelas, principalmente no que diz respeito à resistência e representatividade.
Recomeço de Mama Cax
Mama Cax, nome artístico de Cacsmy Brutus, nasceu em Nova Iorque em meados de 1989, mas passou parte de sua infância no Haiti. Aos 16 anos, ela teve a perna amputada devido a uma cirurgia nos quadris para tratar um câncer nos ossos e no pulmão.
A perda do membro deixou a jovem depressiva, já que precisava reaprender a viver e se locomover de uma nova forma, mesmo sendo tão jovem. Por esse motivo, ela demorou bastante para aceitar a prótese recém-implantada.
Com o decorrer do tempo, ela fez as pazes com sua autoestima e passou a encarar aquele desafio com mais gentileza. Mama começou a usar próteses coloridas como extensão da personalidade artística e seu interesse por moda. O gesto, embora singelo, foi o ponto de partida de uma nova trajetória.
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Em entrevista à revista “Here”, em 2019, ela declarou: “A positividade do corpo não é realmente sobre o exterior e ser vaidoso”. Na sequência, continuou: “Trata-se de saber que uma vez que você ama seu corpo, você se torna confiante.”
Representatividade
Ao tornar-se adulta, passou a usar suas redes sociais como uma ferramenta importante de militância. Em suas publicações e nas palestras que ministrava, Mama abordava um assunto pouco explorado no segmento fashion até então: representatividade.
Em tempos de beleza sendo medida por padrões como altura, olhos claros, pele branca e cabelos lisos, Mama Cax foi uma figura ilustre ao ir na contramão de tudo isso que a sociedade taxava como perfeição.
Ela estrelou sua primeira campanha na indústria fashion em 2017, e em 2018, foi capa da revista Teen Vogue. No dia 8 de fevereiro de 2019, atingiu o auge de sua carreira ao desfilar na Semana de Moda de Nova York. E não parou por aí!
Após sua apresentação, a carreira decolou: foi até Paris conceder entrevistas, voou rumo a Dubai e Londres para fazer sessões de fotos; palestrou em um painel no South by Southwest, um dos maiores eventos de inovação do mundo, e se destacou cada vez mais.
Falecimento
Quatro dias antes de sua morte, Mama Cax fez uma declaração importante que pegou seus fãs de surpresa. Por meio de um post no Instagram, ela alegou que 2019 foi um de seus melhores anos, e ao mesmo tempo o mais desafiador.
“Estava me preparando para algumas semanas maravilhosas, comecei celebrando um aniversário com meu amor na Sérvia, voei para Nova York para um trabalho rápido e depois tive uma rápida sessão de fotos em Londres antes de ir para Los Angeles para celebrar uma parceria frutífera de um ano com minha família #sephorasquad”, iniciou.
Na sequência, compartilhou que enquanto estava em Londres, começou a sentir fortes dores abdominais, e por conta disso, foi levada às pressas para a sala de emergência sob suspeita de inflamação. Depois a mandaram de volta para o hotel com alguns medicamentos para dor.
“Na manhã seguinte, piorou, mal consciente, pedi ao hotel para chamar uma ambulância. Eles descobriram que eu tinha vários coágulos sanguíneos na perna, na coxa, no abdômen e perto de um filtro IVC perto dos meus pulmões (que é um dispositivo médico que impede coágulos de entrarem nos pulmões). Até essa visita de emergência, eu não tinha ideia de que tinha tal filtro (que eu presumi ter sido colocado durante meus dias de quimioterapia há 14 anos) – mesmo assim, esse filtro salvou minha vida”, pontuou.
Alguns meses depois, o câncer nos ossos e no pulmão se agravou muito levando Mama Cax a óbito no dia 16 de dezembro de 2019 aos 30 anos. A história de vida da modelo foi abraçada com muito carinho e acolhimento, graças a sua jornada marcada pela força, luta e resistência.
Curiosidades
- Sobrevivente de câncer: Mama Cax foi diagnosticada com câncer ósseo aos 14 anos e teve parte da perna direita amputada como resultado. Ela enfrentou o câncer com coragem e se tornou uma voz importante na comunidade de sobreviventes de câncer;
- Ativismo pela diversidade na moda: como modelo com uma deficiência física, Mama Cax defendeu a inclusão e a representação diversificada na indústria da moda. Ela desafiou os padrões convencionais de beleza e promoveu a aceitação do corpo em todas as suas formas;
- Participação em eventos importantes: Mama Cax foi convidada para falar em diversos eventos, incluindo o Women Leaders Global Forum, onde discutiu temas como autocuidado e positividade corporal. Sua presença e voz foram reconhecidas em várias plataformas;
- Trabalho como palestrante e facilitadora: além de seu trabalho como modelo, Mama Cax liderou workshops e palestras sobre positividade corporal, inclusão e aceitação. Ela compartilhou sua história pessoal e inspirou outros a abraçarem sua singularidade;
- Impacto nas redes sociais: Mama Cax era ativa nas redes sociais, onde compartilhava sua jornada, pensamentos e experiências. Ela tinha uma grande base de seguidores e usava sua plataforma para promover mensagens positivas e de empoderamento;
- Reconhecimento e homenagens: ao longo de sua carreira, Mama Cax recebeu diversos prêmios e homenagens por seu trabalho como modelo e ativista. Sua influência e contribuições deixaram um legado duradouro na indústria da moda e na comunidade global.
Significado
Em certa ocasião, ao ser questionada pela publicação norte-americana da Glamour a respeito do que significava para ela subir na passarela e desfilar, Mama foi categórica: “É um ato de amor próprio”. “Modelar não é apenas cuidar de mim, mas cuidar da minha comunidade e garantir que todas as portas que eu abrir permaneçam abertas”. Esse foi seu propósito de vida!
Por ter desfilado na Semana de Moda de Nova York pela primeira vez no dia 8 de fevereiro de 2019, o Google resolveu homenageá-la nessa data, por ser um marco e tanto em sua carreira profissional e pessoal.
Em 2018, Cax foi convidada para ser o rosto da linha Adaptive, da Tommy Hilfiger, voltada para pessoas com deficiência. A iniciativa da etiqueta e a escolha da modelo foram amplamente comentadas pela mídia.
Para ela, só o fato de ver que tinha muitas pessoas com deficiência admirando sua trajetória e estar naquele espaço já era um motivo de honra e orgulho. “A linha é incrível. Inclui muitas peças que se juntam com ímãs”, relatou na época em entrevista à The Standard.
Sobretudo, sua missão era quebrar estereótipos sobre pessoas com deficiência e promover a inclusão delas para o primeiro plano, não apenas em visibilidade, mas também para representação justa e autêntica.
“Li em algum lugar que a beleza não é o preço que você paga para existir neste mundo e quando falo sobre positividade corporal, é mais do que a superfície, sempre lembro minha plateia de que seus corpos os permitiram ir ao trabalho e, no final do dia, os levarão para casa de seus entes queridos, não é isso o suficiente para apreciá-lo. E seja quem você for, se não estiver pronto para amar seu corpo pelo que ele é, admire-o pelo quanto ele já te levou”, escreveu ela em uma publicação.
Durante sua vida, Mama Cax tomou medidas drásticas para agradar os outros. Depois pôde concluir que positividade corporal não se resume somente em abraçar a si mesmo e a jornada do seu corpo, mas também em aprender que, se seu abraço aos corpos não incluir todos os corpos, não é positividade corporal.
Você já conhecia a história de Mama Cax?
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