O idealizador do produto, Maurício Delfino, tinha o objetivo de proporcionar aos negros a experiência de também entrar em uma piscina.
A representatividade pode ser classificada como a “expressão dos interesses de um grupo” a partir da figura de um representante. Dessa forma, a pessoa escolhida para representar um grupo, um partido, um movimento, uma nação ou uma classe deve falar em nome daqueles que a escolheram, e ela, por sua vez, precisa atender às demandas desse coletivo.
Há alguns anos, muitas minorias têm exigido que seus pares alcancem posições de poder, isso porque a representatividade não está apenas relacionada à busca pelos interesses de um grupo, mas também auxilia na formação da subjetividade dos próprios cidadãos. Por exemplo, quando uma criança negra assiste a um filme cujo protagonista (ou o herói) é negro, tem a chance de se enxergar naquela figura, e assim se enxergar em espaços de destaque ou protagonismo.
Criar a subjetividade da identidade de minorias é importante e pode ser aplicado em vários contextos e espaços. Quando uma menina vê uma importante cientista fazendo descobertas para a sociedade, consegue se enxergar naquele cargo; quando um indígena ocupa uma cadeira no Congresso, alimenta o sonho de crianças e adolescentes indígenas de trilhar caminhos semelhantes.
E dentro dessas experiências, essas minorias querem ser aceitas nos espaços, enxergar-se tão importantes quanto as demais. Para o administrador de empresas Maurício Delfino, idealizar sua marca de toucas de natação para cabelos afro começou justamente assim: com o objetivo de permitir a pessoas negras boas experiências ao entrar numa piscina, usando produtos feitos para elas.
Percebendo que não existiam toucas de natação para pessoas com cabelos afro, tranças rastafáris e blackpower, viu aí demandas que precisavam ser atendidas, então criou sua empresa em 2018, sob o nome de “Da Minha Cor”. Logo no primeiro ano de atividade, ela vendeu R$ 1 milhão, de acordo com reportagem do UOL.
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![Marca fatura R$ 1 milhão com toucas de natação para cabelos afro](https://osegredo.com.br/wp-content/uploads/2022/01/2-Marca-fatura-RS-1-milhao-com-toucas-de-natacao-para-cabelos-afro-397x400.jpg)
Delfino criou um produto destinado a um público que sempre precisou se adequar, que usava equipamentos feitos para pessoas brancas e com cabelos majoritariamente lisos, por isso sua marca se espalhou rapidamente. Além de vender pela internet e pontos físicos, ele atinge marketplaces, academias e exporta para a França, Moçambique, Portugal e Estados Unidos.
As toucas são feitas 100% de silicone, em três fábricas terceirizadas na China. O material é mais grosso e resistente, para não se romper com facilidade, são mais confortáveis e se moldarem com eficácia à cabeça. Os produtos não fazem distinção de gênero, possuem consciência ambiental, são adeptos do consumo consciente e ajudam a passar o “senso de pertencimento” aos clientes.
Olimpíadas e proibição
A Federação Internacional de Natação dos Jogos Olímpicos baniu o uso das toucas para nadadores com cabelos afro ou volumosos em Tóquio, no ano passado. O órgão justificou a proibição dizendo que as toucas não “seguem a forma natural da cabeça”. De acordo com entrevista concedida ao The Guardian, Danielle Obe, membro fundadora da Associação de Natação Negra, disse à época que a decisão desconsiderava “as desigualdades sistêmicas e institucionais inerentes ao esporte”.
![Marca fatura R$ 1 milhão com toucas de natação para cabelos afro](https://osegredo.com.br/wp-content/uploads/2022/01/3-Marca-fatura-RS-1-milhao-com-toucas-de-natacao-para-cabelos-afro-392x400.jpg)
Em julho de 2020, um estudo publicado no International Journal of Aquatic Research and Education, intitulado “Mortes por afogamento: uma análise introdutória”, avaliou que crianças negras de 5 a 14 anos têm 2,6 vezes mais chances de se afogar do que crianças brancas. Esse número reflete, de acordo com os autores, a exclusão sistemática de pessoas negras de piscinas públicas e outras formas de atividades aquáticas ao longo dos anos.
Nos Estados Unidos, muitas escolas também proíbem alunos negros de usar penteados, tranças ou penteados culturalmente específicos, fazendo com que pais e alunos se unam para pressionar a legislação e as autoridades. Desde 2019, alguns estados criam legislações que proíbem empregadores e escolas públicas de penalizar alunos negros por usar os cabelos à própria maneira.