Nesta segunda-feira, 26, Faustão passou por um transplante de rim após ser internado às pressas no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, no domingo, 25.
A velocidade da cirurgia gerou suspeitas entre internautas, que acusaram o apresentador de ter recebido o órgão de forma privilegiada, “furando a fila”.
Apesar disso, a Central de Transplantes do Estado de São Paulo informou à imprensa que critérios de seleção e prioridade colocaram Faustão como o 13º na fila pelo órgão, posição que ocupava desde 6 de fevereiro.
Para esclarecer a situação, a revista IstoÉ Gente buscou o Dr. José Eduardo Afonso Junior, coordenador médico do Programa de Transplantes de Órgãos do Hospital Israelita Albert Einstein, local da cirurgia do apresentador.
Como funciona a fila para transplante de rim?
José Eduardo explica que, ao contrário das filas para transplante de outros órgãos, a fila para rins não segue apenas a ordem cronológica. Para compreender o motivo, é necessário, antes de tudo, entender o contexto médico.
Na fila dos rins, um dos critérios de distribuição é o critério imunológico. Nós temos, geneticamente, um ‘código de barras’ que se chama HLA, e podemos, durante a vida, criar anticorpos contra o HLA de outras pessoas inicia o médico, esclarecendo que essa condição é especialmente comum em pessoas que necessitam de um novo rim, pois quem sofre de insuficiência renal crônica frequentemente apresenta anemia e recebe transfusões sanguíneas.
Não é incomum ter pacientes chamados de sensibilizados, que têm anticorpos contra o HLA de outras pessoas. No caso dos rins, faz-se também a distribuição de acordo com a compatibilidade imunológica. Quando o potencial doador vira doador, seu sangue é coletado para que seja determinado o HLA e a distribuição dos órgãos é feita, então, para um receptor que seja compatível imunologicamente, não só para quem estava há mais tempo na fila do transplante prossegue o especialista.
Em seguida, ele esclarece que, para pacientes com painéis de anticorpos HLA idênticos, a ordem cronológica na fila é o critério determinante.
Apesar disso, a ordem cronológica na fila é priorizada em situações específicas, como quando um paciente não tem acesso venoso para realizar a hemodiálise ou quando já passou por outro transplante de órgão, como o coração — situação de Faustão. Isso ocorre porque, frequentemente, os medicamentos tomados no pós-operatório são prejudiciais aos rins.
Transplante de um doador vivo
José Eduardo relata que, mesmo quando o paciente já possui um doador compatível na família, é necessário que ele ingresse na fila de transplantes.
É preferível para não submeter uma pessoa viva a uma cirurgia para retirada do rim esclarece.
É possível receber um rim de um doador vivo, desde que seja um parente de primeiro grau do paciente e atenda a todos os critérios de compatibilidade.
São transplantes com hora marcada, mais preparados, e por isso também costumam ter resultados melhores acrescenta.
Para doadores que não sejam parentes de primeiro grau, o médico destaca:
Só é permitido que um doador não aparentado doe o rim para outra pessoa se houver uma autorização judicial e uma aprovação do comitê de bioética do hospital que vai realizar o transplante.
A finalidade dessa medida é prevenir conflitos de interesse em doações, como o uso de recursos financeiros para acelerar a cirurgia. Conforme José Eduardo, “não existe qualquer chance de alguém vender o rim para uma pessoa. Isso é coisa folclórica.”
Faustão “furou a fila” do transplante?
Quanto às especulações que circularam na internet, José Eduardo é enfático:
Não existe “furar a fila”. Ela é controlada pela Central de Transplantes, e na mesma fila são pacientes do SUS e de hospitais privados. Existe ser priorizado por algum critério que exija a medida por risco de morte.
E prossegue:
No Brasil, o sistema de transplante é extremamente sério, justo e auditado não só por instituições públicas relacionadas à saúde mas também por instituições de cunho jurídico. Então falar que alguém furou a fila é tão leviano quanto cruel, porque quem está na fila de espera e não consegue ter clareza das informações que vê em redes sociais, por exemplo, já sofre para caramba porque tem uma doença terminal e acaba sofrendo mais ainda porque se sente desprestigiado por não ter dinheiro ou algo do tipo.
Por fim, o médico argumenta que o Sistema Nacional de Transplantes do Ministério da Saúde é altamente sério.