Conheço um monte de gente que se arrepende da escolha do parceiro, do curso na faculdade, de ter tido filhos num determinado momento ou com um certo alguém.
Conheço também quem está insatisfeito com o trabalho, com o que acontece no meio religioso no qual faz parte… Gente que vive infeliz por vários fatores, mas que opta por se calar não apenas por faltar coragem, mas também por temer reações e julgamentos alheios.
Porque no auge das redes sociais, bonito é ser feliz, ter uma família de comercial de margarina e ser um bem resolvido sem qualquer tipo de culpa por fazer escolhas erradas. Esses são vistos como chatos, ingratos e sobretudo problemáticos.
Afinal, com tanta gente sem comida no mundo, não pode mesmo ser importante o seu dissabor se a fome não é o seu caso, certo? A pressão para se ter um mundinho perfeito é tanta que chega a ser constrangedor se dissermos que estamos sem razões para comemorar.
Minha vida não é perfeita, e daí?
A solteira tem que afirmar que está assim por opção e ignorar o fato de ser difícil encontrar quem vale a pena mudar a sua condição e que está cansada de decepções. O casado não pode ter um momento delicado que já associam a infelicidade no seu relacionamento, como se ele não tivesse mais uma vida própria.
A educação dos filhos “é coletiva”, e se assumir que a maternidade e a paternidade não é um mar de rosas (como fez uma moça recentemente), você também será muito criticado.
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E nem pense em dizer que não pretende ter filhos! Isto seria terrível! Ah, se termina um ciclo de estudo você tem a obrigação de no mesmo ano de preferência conseguir algo na “sua área” e ser bem-sucedido, do contrário você perdeu tempo e jogou dinheiro fora – como se fosse fácil conseguir algo no mercado de trabalho.
E por aí vai. Assim, grande parte da sociedade vai levando, passando por complexos dilemas, mas com aquela falsa obrigação de exibir que está tudo maravilhoso, já que afirmar o oposto gera infinitas discussões e opiniões não solicitadas.
E sem perceber, de mentirinha em mentirinha principalmente para se enganar, muitos acabam se perdendo sobre quem são e sobre o que efetivamente querem. Porque voltar atrás não cai bem nunca, e ainda afasta pessoas, pois querem por perto apenas quem é 24hs por dia positivo e sem memória para o que aconteceu de ruim – independente das marcas e mágoas causadas com o passar dos anos.
É óbvio que existem aqueles que precisam de tratamento por sofrerem com diversos transtornos, e suas dificuldades para enfrentar os dias são consequências de um estado psicológico que exige cuidados e atenção.
Mas os plenamente alegres em tempo integral podem não saber, porém, também não estão saudáveis. Afinal de contas, a questão não é viver se lamentando ou gritando felicidade. O que não pode é haver inverdades no modo como se está realmente. E com o direito a ostentar um belo sorriso sim se a fase for boa. Ou se recolher se o momento não for oportuno, se o arrependimento bater ou se a dor da decisão incorreta apertar.
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E quem te cerca talvez não entenda ou te critique, mas quem você escolheu para dividir a vida sempre te entende. Deixe de lado o medo de ser você! Chega de ignorar o que você sente e quer ou não quer mais, mude sim de rumo se sentir necessidade, e aprenda a deliciosa arte de ter sob controle não tudo, mas o suficiente para não permitir que o mundo ao seu redor deforme você.
Pare de se adequar e de fugir do que precisa ser feito. E se torne finalmente o que sabe que nasceu para ser: você! Ainda que isto te custe um menor número de “amigos”, incluindo os virtuais.