Com vários acidentes causados por motoristas em carros automáticos, a preocupação e a discussão aumentam.
No dia 21 de setembro, a morte de uma criança de apenas 4 anos, após um carro de luxo invadir uma escola, em São Paulo, por ter pisado no pedal errado e acelerado o veículo é apenas mais um episódio de uma série de acidentes que tem ocorrido nos últimos meses envolvendo motoristas de carros automáticos no Brasil. Por isso, cada vez mais esses acidentes têm preocupado as autoridades e gerado discussões sobre a importância da formação de condutores.
O uso da marcha de forma equivocada em carros automáticos também gerou acidente envolvendo o ator mirim Gustavo Corasini, de 12 anos, no dia 23 de agosto. O melhor amigo do artista, Eduardo Delfino, de 13 anos, não resistiu ao acidente. O acidente aconteceu quando a motorista engatou a ré por acidente, atingindo em cheio Gustavo e Eduardo.
Além disso, a confusão com as marchas também causou outro acidente em abril, onde uma motorista perdeu o controle da direção e invadiu uma padaria no Morumbi, em São Paulo. Usando uma Land Rover Discovery 4, segundo o R7, o acidente aconteceu durante uma manobra, onde a condutora não notou que o carro estava na função D (de “drive”, que significa “dirigir”). Ao tentar parar o carro, ela pisou no acelerador sem querer e acabou ferindo três pessoas.
De acordo com os especialistas ouvidos pelo R7, os acidentes não são casos isolados e apenas retratam o risco da condução de carros automáticos no Brasil. De forma geral, os motoristas não fazem nenhum tipo de preparação específica para dirigirem esses casos, o que preocupa os especialistas, especialmente pelo número de acidentes que tem ocorrido.
O especialista em segurança de trânsito e perito em acidentes Lucio Machado, o motorista brasileiro não está preparado para dirigir um veículo automático por causa da formação pautada apenas nos carros manuais, além de ações cobradas no exame, como a realização de balizas. Para ele, deveria haver um treinamento específico e uma observação na CNH para atestar a capacidade da pessoa no uso do sistema automático veicular. O especialista também ressalta que o processo, no entanto, precisa envolver uma grande mudança, começando pelo treinamento dos instrutores das autoescolas.
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Com a grande preocupação do que anda acontecendo no trânsito, envolvendo os carros automáticos, as autoridades têm levado o tema para as casas legislativas. O senador Eduardo Gomes (PL-TO), por exemplo, apresentou um projeto de lei em 2021 que prevê que as pessoas que quiserem conduzir apenas carros automáticos poderão ter a habilitação específica para tal na CNH, além de também precisar fazer o exame de direção veicular com esse tipo de veículo. Apesar dos esforços, o projeto ainda não tramitou no Senado.
Ainda conforme o R7, Lucio Machado disse que a discussão sobre as novas regras não avança por causa de um problema cultural, onde as pessoas acham que isso seria apenas mais um argumento para a autoescola aumentar o preço dos exames, sem perceber que há uma necessidade maior que isso.
Lucio Machado, especialista em segurança de trânsito e perito em acidentes, também diz que as pessoas acabam migrando para o carro automático com o pensamento de que é um veículo mais fácil de conduzir, porém, ele é mais complexo do que pensam. Além de trocar de pedal e de usar o câmbio na posição errada, o condutor pode deixar o veículo em marcha alta, no automático, utilizando apenas o freio para reduzir a velocidade, o que desgasta a frenagem e pode causar acidentes.
Aumento de carros automáticos no Brasil
Segundo o Quatro Rodas, um estudo da OLX diz que as vendas de carros automáticos em sua plataforma online cresceram 68% no primeiro semestre de 2021, em comparação a 2020. Já segundo a consultoria Jato Dynamics, os veículos com câmbio automático representam 40% das vendas atualmente no Brasil. Assim é possível ver que, diferente dos Estados Unidos, onde os carros são majoritariamente automáticos, no Brasil, apesar do carro manual ainda prevalecer, isso tem mudado aos poucos.