Duas mulheres estão em uma sala. Uma está de calça jeans, tênis, costuma se intitular um moleque. Bebe cerveja e faz questão de dizer que não gosta de drinks doces, de mulherzinha. Os homens são, alguns amores, e outros, amigos. Ela gosta de dizer que tem mais amigos, no masculino da palavra, do que amigas. “Nem sei andar de salto”, diz orgulhosa. Ela ri das que gritam por causa de um inseto. Ela se orgulha de não ser fraca. Ela não é auto suficiente ainda, mas pelo menos está tentando.
A outra mulher da sala está de salto alto, saia e maquiagem. Adora dançar ao som das divas do pop. Seus cabelos são compridos e ela os mexe de um lado para o outro. Gosta de pintar as unhas. Os homens são, alguns amores, e outros, amigos. Ela se orgulha de não ser fraca. Ela não é auto suficiente ainda, mas pelo menos está tentando. Estão ali na mesma sala, separadas por um espaço vazio. Mal sabem elas quantas coisas têm em comum.
Cada uma tem um certo preconceito contra a outra. A primeira aprendeu que mulher deveria ser forte. “Com tantos avanços, por mais que ainda se tenha tanto o que conquistar, o que vem fazer essa mulher aqui toda patricinha? Deve ser uma fraca”, ela pensa. A segunda acha que a primeira deveria colocar um batonzinho e arrumar o cabelo.
Ela questiona muitas coisas. Sabe que são incontáveis as lutas e desigualdades que as mulheres tiveram e ainda têm que passar para conseguir seu espaço. Sabe que consegue se fazer feliz. Não concorda com muitos padrões da sociedade. Quer fazer o que acha certo. Quer mostrar que manobra bem um carro, que pode vestir o que gosta, se dedicar às amizades que quiser, e que a aparência não a limita, nem a restringe. De quem eu estou falando? Das duas. A firmeza está em ambas.
Essas duas mulheres podem ser pessoas diferentes ou podem até ser a mesma pessoa em diferentes épocas da vida. Ou ainda separadas por dias da semana. É claro que não existem só elas. Que infinidade de mulheres somos. Conquistamos tantos direitos, inclusive de não usar salto se não quisermos, nem maquiagem, nem saias e vestidos. Mas, e se quisermos, sim, qual o problema? Se te faz bem, se te deixa feliz?
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A gente esquece que a intenção é justamente não criticar o estilo de vida diferente do nosso. É abraçar a liberdade. Seja ela de usar jeans e tênis, como saia e salto alto. O senso crítico, a firmeza, as qualidades de mulher não dependem de nada disso. Parece uma discussão tão simples mas, sinceramente, existe, sim, um prejulgamento dos dois lados.
Podemos continuar lutando por nossos direitos, até mesmo lutando contra nossos próprios preconceitos, tão arraigados em algumas frases repetidas sem pensar. Existe beleza em ser moleca e beleza em ser feminina. O bonito mesmo é que temos o direito de escolher. De mudar. De voltar. De repensar. De experimentar.
No meio desses pensamentos, ouço um poema que fala sobre a feminilidade. Sobre detalhes tão bonitos que compõem nosso universo, que podemos abraçar, se quisermos. A autoria é da ativista pelos direitos das mulheres e dos negros Maya Angelou (1928-2014). Em uma das partes do poema Mulher Fenomenal, ela diz:
“(meu segredo) …É o fogo nos meus olhos, E o brilho dos meus dentes, O balanço da minha cintura E a satisfação nos meus pés.
Eu sou mulher, fenomenalmente. Mulher fenomenal, esta sou eu.”