Um momento pode mudar tudo! – Sobre as reviravoltas que o mundo dá…
A cada dia acredito mais que a mudança, quando tem que acontecer, pega-nos de jeito, revira-nos do avesso, caça-nos, encontra-nos, incomoda-nos, grita-nos, aperta-nos, mas acontece, não tem para onde correr.
É como se você passasse uma vida inteira fugindo de algo que, lá no fundo, você sempre soube que teria que lidar um dia.
É aquela coisa: você pode até fingir ser quem não é, fazer o que não gosta, comprar o que não precisa, trabalhar com o que detesta, construir-se na fachada de qualquer coisa que o esconda da sua essência, mas, uma hora, o calo aperta, o coração machuca, a alma grita, o grito sai da garganta.
Não dá para viver uma vida morna, desconectada de quem a gente realmente é. Simplesmente não dá.
Eis o maior arrependimento de quem já se vê num leito de morte: ter apenas existido. Ter passado pela vida, sem ter realmente vivido.
É engraçado como o nosso destino é traçado em um único momento. O momento em que você disse sim. O momento em que você disse não. O momento em que resolveu partir. O momento em que resolveu ficar. O momento em que começou. O momento em que terminou. O perdão não dado. O perdão sincero. Tudo o que poderia ter sido, mas não foi. Tudo o que simplesmente foi e que você não gostaria que tivesse acontecido, mas que aconteceu.
Um único momento. E a vida revirando as gavetas, tirando todas as nossas certezas de lugar, fazendo as vezes de escola, de carrasca, de amiga, de colo, de ombro, de tempo, de tudo.
E a gente ali, às vezes, sem entender o porquê. Sem saber que está tudo certo. Que aconteceu absolutamente tudo o que tinha que ter acontecido para que estivéssemos exatamente onde estamos agora.
Ah, o agora. Aquele momento que pode mudar tudo. Fazer de outra forma. Recomeçar de uma outra maneira. O momento em que você pode simplesmente escolher dar-se uma chance na vida, olhar para dentro e descobrir que é muito mais forte e mais capaz do que imagina, dar o primeiro novo passo, virar a página, escrever uma nova história. Porque não adianta correr: quando as coisas têm que acontecer, elas acontecem.
Por muito tempo tive muito medo das mudanças, porque a zona de conforto me provia da tal da ideia de segurança e proteção que eu sempre ansiei na vida.
Era como se mudar me desestabilizasse emocionalmente e me colocasse numa posição de risco que eu não estava disposta a correr. Mas veja que bela ironia: ao mesmo tempo em que era extremamente confortável permanecer no lugar comum, conhecido, quentinho, protegido, eu achava penoso demais ter que arrastar a vida com a barriga, ligar o piloto automático e seguir a cartilha como se eu fosse um zumbi.
“Eu vejo gente morta”, dizia o personagem do filme O Sexto Sentido. “Com que frequência?”, perguntavam. “O tempo todo”, ele respondia. E eu conseguia enxergar gente morta também. Morta de tédio, de raiva, de cansaço, de descrença, de falta do que fazer. Gente que arrastava a vida, como se arrasta um carrinho no mercado. Até quando? Por que será que, quando mais precisamos de nós mesmos, mais nos faltamos?
Estava aí a equação que eu vivia varrendo para debaixo do tapete, tipo roupa que a gente soca no armário quando chega visita. Por fora, tudo limpo, arrumado, organizado. Por dentro, uma bagunça.
É assim que as coisas acontecem: chega uma hora em que a porta se abre e a coisas começam a cair lá de dentro. A água entorna do copo, porque ele já estava cheio demais. E aí, o que a gente faz?
A gente se dá conta de que chegou o momento de lidar com isso. De que é melhor organizar-se internamente primeiro para que o nosso exterior possa ser o reflexo exato da paz que começamos a buscar no interior.
E então acontece uma coisa doida: embora a gente sempre tenha se munido de um mundo de coisas de todos os lados, socando tudo aqui e acolá, começamos, pela primeira vez, a nos sentirmos realmente completos na vida.
Ao esvaziarmos aquilo que nos enchia, completamo-nos. Não é louco isso?
A mudança. Um único momento.
Quando é que você dará a si mesmo a chance de viver o seu?
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