Não sou a melhor mãe. A maternidade não fez milagres em mim, mas estou tentando ser a melhor mãe que posso ser.
Dia das mães chegando e eu preciso falar. Não sou a melhor mãe do mundo e por muito tempo isso me feriu demais.
A gente abraça a maternidade que nos vendem nas revistas, onde as trocas de fraldas são realizadas por mães sorridentes, metidas em vestidos leves e brancos, amamentando seus filhos e trocando carreiras promissoras pelo maravilhoso dom de ser mãe. Lindo! De coração, lindo mesmo!
Mas eu não fui essa mãe e quando minha primeira filha nasceu e não despertou em mim esse instinto materno e divino, eu me senti um monstro. Uma série de culpas tomaram conta de mim e o que eu fiz? Eu fui tentar ser esse tipo de mãe que posta no Facebook que ter um filho é a melhor coisa do mundo, que daria a vida pelos filhos, esse tipo de mãe leoa e protetora da cria, andando pela rua cheia de sacolas e carrinho de bebê defendendo a prole do mundo com um sorriso no rosto.
Espera! Eu não estou dizendo que ser mãe não é a melhor coisa do mundo. Só estou dizendo que para mim, ser mãe foi mais uma das coisas da vida. Eu quis demais ser mãe e me sentia muito incompleta até acontecer. Eu chorava imaginando que não aconteceria. E quando aconteceu, me lembro como se fosse hoje, eu deitei na minha cama, a noite, sozinha em casa, botei a mão na barriga olhando pro teto e pensei: “Tem alguém aqui dentro. E agora?”
Agora minha vida tinha mudado para sempre… Eu cuidei da gravidez, amamentei, troquei fraldas, fiquei sem dormir e amei cada minuto dessa tarefa de ser mãe. Mas eu também quis que o tempo passasse para eu voltar para a minha vida, aquela vida sabe, a minha, só minha, sem levar bolsa de fraldas no restaurante ou ter que escolher sempre um lugar onde crianças possam brincar.
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Mas ninguém fala sobre isso. Quase ninguém assume que ficou muito cansada, exausta, que jurou que não teria mais filhos, que queria a vida de volta. A gente sente medo e vergonha, sente culpa por parecer ingrata. Desrespeitamos o fato de que temos forma própria e nos forçamos a caber no formato pré-definido pela sociedade, pelas gerações anteriores de que ser mãe é abrir mão da própria vida em função dos filhos.
Assumo. Eu vou nas reuniões escolares que acontecem no meio do expediente morrendo por dentro porque tenho muito trabalho. Eu não gosto de rodinhas de mãe tricotando, eu faço idiotices com meus filhos e deixo eles se virarem sozinhos no banho ou para comer. Eu me sinto cansada e tem dias que queria apenas pegar um livro para ler sem aqueles sonoros “mãe, mãe, mãe” ecoando pela casa feito um disco riscado. Meus filhos dormem na minha cama e eu encho eles de beijos, quando já estão nos braços de Morfeu.
Eu ouço minha filha falando dos seus amores infantis de escola e explico para ela que ela ainda não tem idade, mas deixo ela falar e rio com ela desses sentimentos tão puros que só vão existir uma vez na vida. Deixo meus filhos escolherem suas roupas e calçados desde sempre e não tem essa de “porque eu mandei”, mas sempre conversamos (desde que a ordem não se perca).
Sou nervosa, às vezes grito, sou brincalhona, sempre rio, sou triste, às vezes choro na frente deles mesmo para saberem que sou humana e aí, meu filho vem com uma caixa de primeiros socorros de brinquedo, dizendo que vai cuidar do meu dodói e todo machucado do meu peito ganha uma bandagem nesse momento.
Não sou a melhor mãe. A maternidade não melhorou minha afinidade com os deveres de casa, eu não amo a cozinha e o cheiro de roupa lavada (exceto se outra pessoa fizer para mim) e eu continuo achando que esses serviços são secundários para a minha personalidade.
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É, não aconteceu um milagre em mim desde que ouvi o primeiro choro. Mas eu faço tudo isso, nem que seja por obrigação. Não tenho amor pelas tarefas do lar. Não tenho, não!
Doeu demais amamentar nas primeiras vezes, minha barriga enrugou e ganhou estrias, eu nunca fiz dieta e eles nunca tiveram cólicas por isso.
Eu virei um pouco pediatra, um pouco psicóloga, sempre amiga e mãe da melhor maneira que consegui ser. Sendo eu mesma. Mas não foi sem culpa que saí de casa e ainda saio para trabalhar todos os dias, especialmente nos dias de febre, de coriza e garganta inflamada.
Eu falei, falei, falei e o que eu quero dizer é que ser mãe é sim uma coisa maravilhosa. Eu vejo esses monstrinhos articulados e argumentadores que estou criando, tantas vezes tão parecidos comigo e vejo que no final, estou fazendo um bom trabalho. Mesmo não sabendo fazer pão e preferindo comer no restaurante a passar horas de domingo no fogão. Eu descobri que existe um tipo de amor que cresce todos os dias e ele não tem nada a ver com abrir mão da própria vida porque me tornei mãe.
Eu quero que meus filhos aprendam a sobreviver no mundo e o mundo não dá colo sempre. Nem eu… Eu falo não para “mãe, me dá banho?” e às vezes eu entro com todo mundo no chuveiro.
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Eu não sou a melhor mãe do mundo… Mas sou a melhor mãe que posso ser e… nos sorrisos e abraços, estou achando que estou fazendo um bom trabalho. É… acho que estou sim…
Feliz Dia das Mães para você que é essa mãe de revista. Quero te dizer que moooorrooo de inveja e queria mesmo ser como você que sabe preparar festas sozinha, que borda e costura todo rasgadinho na roupa que aparece. E Feliz Dia das Mães para você que terceiriza todo o trabalho possível e briga com seu egoísmo todos os dias tentando se explicar que a gente pode ser mãe e querer ter uma vida também.
Feliz Dia das Mães para nós. Cada uma ao seu modo, estamos tentando apenas ser a melhor mãe que pudermos ser.
Que façamos um bom trabalho… sempre.
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Direitos autorais da imagem de capa: olga_sweet / 123RF Imagens