Ajudar os outros é bom, mas que tipo de ajuda podemos dar quando não conseguimos ajudar a nós mesmos?
Precisamos aprender a cuidar de nós. Aliás, precisamos aprender a nos colocar em primeiro lugar.
Porque egoísta não é aquele que cuida de si, egoísta é aquele que apenas olha para si, que é indiferente à dor alheia, e que espera que o mundo venha cuidar das suas feridas.
Cuidar de si e do próprio bem-estar não tem nada a ver com egoísmo, com indiferença, com vaidade ou com má vontade. Trata-se apenas de um gesto de autorresponsabilidade.
Aquele que ama de verdade vai olhar para os outros, sim, mas jamais vai esquecer de olhar para si mesmo.
A grande verdade é que aprendemos que o outro sempre tem que vir na nossa frente. Que precisamos nos abandonar, ferir, trair, esquecermos a nós próprios para felicidade alheia. Talvez tudo isso seja válido, quando se é por amor, porque neste sentido o nosso bem-estar também está ali. Ficamos satisfeitos com a nossa atitude. Mas o autoabandono, por si mesmo, nunca se justifica. Ainda mais quando é por obrigação social.
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Uma ajuda por obrigação social, porque “é feio não fazer”, não é uma ajuda verdadeira, é um teatro. Um mundo feito de encenações pode achar isso normal, entretanto, essa é apenas uma atitude de um jogo de cobranças que se inicia. Faz-se algo porque espera-se outra coisa em troca.
Essa atitude, sim, é egoísta, e é filha da famosa frase: eu cuido de você e você cuida de mim.
Não se respeita as vontades verdadeiras, as atitudes sinceras, as possibilidades reais que cada um tem de ajudar o outro, a espontaneidade, o altruísmo, o amadurecimento emocional de cada um. Cria-se, com ela, uma dependência do outro, um jogo sujo de cobranças, e, principalmente, o autoabandono.
Ninguém tem “condições” de cuidar completamente do outro. Podemos solidarizar, podemos nos sensibilizar, ter uma empatia com o outro, mas jamais teremos a possibilidade de, realmente, sentir a dor ou a alegria do outro, e muito menos o dom de saber as suas necessidades. Neste cenário, esperar que alguém consiga suprir todas as carências do outro é surreal.
Porém, o mundo parece exigir isso de nós, como se tivéssemos que dizer “sim” para tudo e para todos, menos para nós. Como se fosse válido esquecer que também somos humanos, que também temos sentimentos, necessidades, anseios, dores, limites, incertezas, sonhos e amores, em prol de atendermos o outro.
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Não, isso não é uma atitude positiva. Não podemos nos abandonar e esperar que alguém venha nos salvar, enquanto tentamos salvar os outros. Não podemos nos ferir, achando que, machucados, vamos curar as feridas alheias.
É preciso ajudar o outro. E é por isso que precisamos estar inteiros, saudáveis, bem-dispostos, prontos para amar e doar esse amor. Alguém abandonado é alguém ferido, amargo, que só ajuda esperando que em troca disso alguém venha tratar dos machucados que nós mesmos fizemos e deixamos de lado em troca de alguns aplausos.
Você precisa cuidar bem de si sem se sentir culpado por isso. Não é errado cuidar de si mesmo. Errado é se abandonar e esperar que outro venha cuidar de você. Errado é se matar pelos outros, muitas vezes apenas ajudando a criar pessoas folgadas, dependentes, frágeis emocionalmente, e até mesmo exploradoras. É esse tipo de pessoa que tem o prazer de fazer você sentir vergonha por não ajudá-las. Fazem chantagens emocionais para conseguir o que querem, assumindo o personagem da vítima, e transformando você em um vilão que deve se sentir culpado.
Não caia na chantagem alheia. Nada que é bom é feito por raiva, medo, culpa ou vergonha. Todo ato no bem, nasce na boa vontade do amor.
Dizer não também é um ato de amor. É um gesto de demonstrar amor por si, quando se é para preservar o próprio bem-estar, e pelo outro, quando é para ensiná-lo que ele também precisa aprender a fazer coisas por si.
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Você não precisa ser uma pessoa grosseira. Há mil maneiras de se dizer alguma coisa. O que não se pode é se calar e ignorar a própria dor.
Você tem limites e precisa aceitar isso. Você tem necessidades que deve suprir, e precisa aceitar isso. Você é o único responsável por si, e precisa aceitar isso.
Por isso, cuide de você, sem medo ou vergonha. Que o seu “sim” seja SIM, e o se “não” seja NÃO, de corpo inteiro, verdadeiros e firmes, alinhados com aquilo que você realmente quer dizer, sem desculpas ou disfarces, sem grosseria ou ignorância, apenas a sinceridade daquele que avalia o que é melhor para si e para todos, como um todo.
Que toda sua ajuda seja sincera, que seja de coração, que seja pautada pela vontade sincera que parte da alma, e não por constrangimentos sociais.
E que você saiba que só pode cuidar bem do outro e do mundo, aquele que cuida muito bem de si, sem vergonha de fazer isso!
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