Infelizmente, ainda é comum deparar-se com pessoas de rua, que não tem condições para viver dignamente, com casa, comida e saúde básica. Por outro lado, outros seres que sofrem nas ruas são animais, com cachorros e gatos, que são abandonados e acabam fazendo companhia para as pessoas que também não tem um lar.
Um homem chamado Laudisnei de Souza, de 41 anos, dorme nas calçadas de São Paulo há dois anos, segundo informações do UOL. Nos primeiros meses na rua, Laudisnei optava por dormir em centros de acolhimento oferecidos pela prefeitura, quando o frio intenso abatia a cidade. Porém, no último ano, as coisas mudaram quando Scooby Doo, seu cachorro, apareceu em sua vida. Por causa do seu único amigo da rua, Laudisnei passou a preferir ficar no relento, ao ir para abrigos que recusam a entrada de animais.
De acordo com o UOL, o homem disse que não vai abandonar seu único amigo somente para passar uma noite fria e longe de Scooby Doo. Infelizmente, muitos abrigos não permitem a entrada de animais, o que faz com que Laudisnei dispense ajuda para ficar ao lado do seu fiel amigo. Somente em São Paulo, há 117 serviços de acolhimento oferecidos pela prefeitura, porém, apenas 9 deles tem espaço para animais de estimação, onde os cães ficam no canil, do lado de fora do abrigo.
O padre Julio Lancellotti, que difunde uma campanha contra a aporofobia, de origem grega que se refere ao medo e rejeição de pessoas pobres, segundo o G1, no dia 18 de maio, publicou em seu Instagram um documento para as pessoas que vivem na rua e recusam o serviço de acolhimento da prefeitura. O documento incluía três motivos para a recusa: “distância da vaga”, “impossibilidade de levar animal de estimação” e “outros”.
Para Laudisnei, a proposta que encaminha as pessoas que vivem em situação de rua para abrigos não os trata como seres humanos, e acredita que a prefeitura deveria disponibilizar moradia para eles. Segundo relato ao UOL, padre Julio Lancellotti disse que conversou com pessoas próximas da prefeitura e perguntou para elas se deixariam seus animais de estimação se o condomínio em que vivem implantasse um canil no local, e todas disseram que não.
Além disso, a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social também se posicionou sobre o assunto para o UOL, no qual afirmaram que ainda em maio iniciaram um serviço de transporte de cães para os moradores em situação de rua, que será feito em caixas de transportes instaladas nos veículos. A Secretaria também afirmou que novas informações serão divulgadas em breve.
Projeto de lei “Padre Júlio Lancellotti”
A luta do padre Júlio contra as desigualdades dos moradores de rua é tanta que, em 2021, a Comissão de Desenvolvimento Urbano, da Câmara dos Deputados, aprovou um projeto de lei chamado “Padre Júlio Lancellotti”, que proíbe a construção hostil, que utiliza equipamentos físicos para afastar e restringir o uso de espaços públicos nas cidades, principalmente por pessoas em situação de rua, segundo o G1. O padre foi ouvido após quebrar a marretadas vários blocos de paralelepípedos que foram instalados na parte inferior de viadutos na Zona Leste de São Paulo, em fevereiro de 2021.
Comentários à publicação do padre
Nos comentários do documento postado do padre Lancellotti, as pessoas ficaram indignadas com a atuação da prefeitura. “É de uma crueldade sem tamanho. Só quem já esteve com os irmãos de rua sabe o que acontece.”, escreveu um seguidor. Outra pessoa também disse: “Deveriam aceitar os animais e não abandonar junto com as pessoas.”. “Meu Deus! Como pode os poderes públicos serem contra o povo?”, falou mais um. Além desses, muitos outros comentários afirmavam a repulsa da população.
Relato de outros moradores de rua
Ainda segundo informações do UOL, um morador chamado Elcides Pedroso, de 39 anos, que vive na rua há dez anos, afirmou que perdeu as contas de quantas vezes não conseguiu entrar em um abrigo porque não aceitavam animais de estimação. Elcides é sempre acompanhado por Bob, seu cachorro, e prefere dormir na calçada com o amigo, do que ficar sem ele.
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Quando o frio se intensifica ou chove muito, Elcides vai para o abrigo, mas deixa Bob no ferro-velho de um amigo, que é fechado e tem espaço para o cachorro ficar. Fugindo dos preconceitos das outras pessoas, Elcides diz que cuida melhor do Bob do que de si mesmo e o cão está com as vacinas em dia. Além disso, quando tem pouco dinheiro, prefere comprar a ração para Bob e ficar sem comer.
Já na barraca improvisada de Silvana, 43 anos, que passou a viver na rua por causa da crise que a abateu no primeiro ano da pandemia. A mulher prefere deixar seus cachorros dentro da barraca e conta com doações e ajuda de veterinários voluntários para tratar dos seus animais de estimação.
Perto da barraca, havia também Marcos Paulo Oliveira, de 46 anos, conhecido pelos outros como Blue. O homem tem dois cachorros, Princesa e Lula, que também vê dificuldade em levar os animais para o abrigo. Além do mais, mesmo que os abrigos tenham canil, Princesa e Lula estão acostumados a dormir junto com o dono durante a noite.