Há pouco menos de um ano, Gisele Rocha, de 27 anos e Adriano Castro, de 31, se conheceram na internet e começaram a conversar sobre viagens. Na ocasião, ele viajava entre a África e a Europa após largar o emprego de dez anos em um escritório, como analista de sistemas e desenvolvedor de software. Ela, jornalista recém-formada, vivia a frustração de um intercâmbio cancelado às vésperas da viagem.
Juntos, além de construir uma relação de marido e mulher, os dois já viajaram para 13 países em três continentes e, em três locais especiais, se casaram. A regra para escolha é gostar do país e o fundamental é respeitar as culturas locais. No dia 9 de maio, saem de Juiz de Fora, onde moram atualmente, e embarcam para uma viagem de seis meses para os Estados Unidos, onde pretendem comprar um motorhome e explorar locais menos conhecidos.
“Desde o início quisemos fazer algo fora do padrão, não só contando que vimos a Torre Eiffel, por exemplo, ou outros pontos turísticos tradicionais, mas dando informações diferentes, com mais conteúdo cultural. Foi assim que tivemos a ideia de fazer o nosso próprio casamento ao redor do mundo”, contou a jovem.
Ela garantiu que sair por diversos países explorando novas culturas nunca foi sua principal meta de vida, mas uma situação desagradável a fez enxergar uma nova possibilidade de viver de uma maneira não convencional.
“Eu já gostava de viajar durante a faculdade, mas nunca tinha pensado nisso. Às vésperas de embarcar para um intercâmbio, na França, a empresa que organizava cancelou o contrato. Foi um choque e me vi numa situação em que estava sem dinheiro e sem trabalho. Comecei a fazer alguns freelas, até que apareceu um muito bom, que cobriria o mês inteiro, tranquilamente. Foi aí que pensei que, se organizasse tudo direitinho, conseguiria fazer em qualquer lugar”, explicou.
Já para Castro, a rotina em frente a um computador durante dez anos trouxe o stress necessário para querer fugir do escritório. “Fui ficando saturado e, em 2013, larguei o emprego e investi em uma empresa, que não deu certo. No final de 2014, fiz uma viagem para o Marrocos e alguns países da Europa levando o notebook e fazendo alguns trabalhos como freelancer. Foi quando conheci a Gisele”, contou.
Em março de 2015, já com a ideia de investir em um blog sobre viagens, Castro voltou ao Brasil e, junto com Rocha, criou o Viajei Bonito, em junho. O site, que mostra experiências vividas pelo casal em suas viagens e tenta incentivar novos exploradores, já está perto de se manter sozinho, graças aos acessos e a parcerias com hostels e albergues pelo mundo.
“Hoje somos nós dois e alguns freelas que escrevem e recebem por texto. Já conseguimos bancar o blog e algumas partes da viagem, mas ainda precisamos fazer outros trabalhos. A expectativa é que, em alguns meses, possamos nos dedicar exclusivamente ao site”, projetou o analista de sistemas.
Três meses após a criação do site, os dois já subiam ao altar pela primeira vez, na Lituânia, no dia 26 de setembro. Ao todo, o casal gastou cerca de R$ 400. “Foi o mais caro de todos. O Adriano tem um casal de amigos lá que nos ajudaram muito a organizar tudo e, com esse dinheiro, pagamos músicos, cerimonialistas e ajudantes, em uma espécie de ajuda de custo”, revelou Rocha.
Em seguida, o casal foi para o Vietnã, onde, no dia 27 de novembro, casaram pela segunda vez. “Nós não pretendíamos fazer ali, mas acabamos topando. Organizamos tudo em menos de 12 horas, compramos algumas roupas e achamos um fotógrafo que nos cobrou algo em torno de R$ 200. Lá é tudo muito barato e, no final, compensou”, disse.
Já no dia 5 de dezembro, eles realizaram a cerimônia mais barata de todas, na Tailândia. “Esse nós já pensávamos em fazer. Pagamos apenas pelas roupas típicas, menos de R$ 100. Pedimos apenas que um monge nos desse a benção e, como não pudemos fotografar, colocamos um tripé na frente do local, com um bilhete avisando que estávamos tirando fotos para o nosso casamento”, recordou.
Para Gisele, o que mais assusta organizando os casamentos é o preço cobrado pelas cerimônias no Brasil. “É incrível ver como tudo é mais barato em outros lugares. Com R$ 400, por exemplo, você não paga nem os convites do casamento aqui no Brasil e nós fizemos tudo na Lituânia”, comparou.
Para manter o orçamento no limite, ela explicou que o casal precisa fugir do rótulo de turista. “Quando falamos que queremos uma renovação de votos, as pessoas já imaginam que somos turistas, tentam colocar muita coisa no pacote e acaba ficando caro demais. Então, nós tentamos organizar tudo do nosso jeito, com ajuda de conhecidos e preservando a cultura local”, afirmou.
A jovem também deu uma dica valiosa para quem pretende experimentar uma nova rotina de vida em outros países ou continentes e não sabe lidar com dinheiro. “Nós não somos ricos e sabemos que, se quisermos continuar levando esse tipo de vida, temos que frear o consumismo, levar uma vida mais simples, menos ligada ao materialismo e mais à espiritualidade, mas sem parar de pensar no futuro também”, disse.
Atualmente, os dois trabalham em suas respectivas áreas para conseguir manter todas as contas em dia e continuar viajando. “Vendemos algumas fotografias, eu faço trabalhos de tradução e o blog já está dando um retorno, que não cobre todas as despesas, mas já ajuda. O Adriano também faz os freelas dele. Queremos que o blog nos sustente, só que não é assim tão rápido”, explicou a jornalista.
Para receber dinheiro dos trabalhos, eles adortaram estratégias seguras, que consomem menos impostos, mas que podem demorar um pouco a render. “Até agora, só recebemos em dólar. Tudo é feito por transferência e dá muito trabalho. Às vezes, demoramos três meses para receber um freela, mas ainda assim achamos que vale a pena”, informou.
O casal também disse que todo o dinheiro é declarado no Brasil e, em viagens para um lugar novo, sempre vale ter uma reserva. “Para o exterior, sempre levamos um pouco de dinheiro em dólar e sacamos o restante só no destino. Como fazemos muita conversão, saímos no prejuízo se não fizermos isso. Também evitamos cartão de credito, porque as taxas são muito maiores”, orientou Rocha.
Com a experiência de viajar pelo mundo, os dois garantem que a principal mudança é interna.
“Aprendemos a ver cada povo com olhos diferentes, preferimos olhar ao redor antes de dar uma opinião. Apreendemos a entender comportamentos, valorizar coisas pequenas e não viver no piloto automático. Nossa cabeça se abriu completamente, entendemos melhor o nosso comportamento e outros posicionamentos e passamos a entender que muitos dos costumes não são a toa, tem algum motivo”, refletiu.
A prova disso é a renovação de votos da qual eles desistiram, justamente por não se adaptar com os costumes locais. “Íamos fazer uma cerimônia na Rússia, tínhamos essa ideia há tempos, mas não gostamos do país e de como fomos recebidos lá, aí desistimos na hora”, concluiu.
De maio a novembro, enquanto estarão na América do Norte, eles esperam que outras cerimônias entrem no currículo. Para acompanhar a trajetória do casal e interagir com eles, basta acessar o Viajei Bonito ou segui-los no Instagram e no Facebook.
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Publicado originalmente em: G1