Dijane Silva passou um ano e meio hospitalizada por conta das sequelas da covid-19, mas conseguiu receber alta no fim do ano passado.
A covid-19 impactou a vida da população mundial, e está caminhando para o seu terceiro ano presente na rotina dos cidadãos. Se antes a aglomeração e até mesmo o compartilhamento de utensílios pessoais podiam ser encarados como algo tranquilo, agora o uso das máscaras, o distanciamento social e a higienização frequente das mãos tomam conta dos hábitos de quem se importa com a saúde.
Por ser altamente transmissível, os estragos do vírus são mais impactantes do que muitos imaginavam, principalmente por seu fator de imprevisibilidade. Não foram poucos os indivíduos sem comorbidades e jovens que morreram ou tiveram duras sequelas do novo coronavírus.
Esse é o caso de Dijane Silva, de 34 anos, acometida de uma síndrome rara depois de contrair a doença. De acordo com reportagem do UOL, Dijane é moradora de Taquarana, interior de Alagoas, e passou um ano e meio hospitalizada por conta das graves sequelas. Ela desenvolveu a chamada síndrome de Ondine, um distúrbio que faz com que o paciente pare de respirar durante o sono, exigindo uso de um respirador para dormir, além de cuidados de uma equipe médica.
Mas depois de um ano e meio internada, Dijane escolheu procurar a Defensoria Pública do Estado, pedindo que o Sistema Único de Saúde (SUS) arcasse financeiramente com um home care para ela. O retorno para casa, além de liberar um leito no hospital, melhora a qualidade de vida do paciente, que volta ao seu ambiente familiar.
No fim do ano, ela recebeu decisão favorável da justiça e pôde voltar a conviver com sua mãe. Mesmo sendo um grande avanço, elas precisaram adaptar-se à nova realidade, mudando-se do sítio para a cidade, já que a assistência médica é a principal necessidade de Dijane.
![Síndrome rara pós-covid faz mulher parar de respirar enquanto dorme](https://osegredo.com.br/wp-content/uploads/2022/01/2-Sindrome-rara-pos-Covid-faz-mulher-parar-de-respirar-enquanto-dorme-400x225.jpg)
Nova vida
Vencer a covid-19, surpreender médicos e profissionais da área da saúde com força e determinação para sair do hospital, além de uma mudança radical em seu estilo de vida nunca foram uma opção, mas a única estrada viável para Dijane. Além de mudar para a cidade com a mãe, ela agora necessita de auxílio de técnicas de enfermagem o dia inteiro e de um bipap à noite, aparelho que auxilia os pulmões no processo respiratório, além de dois litros de oxigênio diariamente.
A dificuldade para respirar só apareceu depois que a mulher já tinha sido tratada contra a covid-19, em 2020, agora a rara síndrome exige o trabalho de uma equipe multidisciplinar, composta de médico, enfermeiro, nutricionista e fisioterapeuta. E mesmo com a decisão favorável da justiça e a chance de retomar algumas vivências, Dijane ainda sente que a síndrome a atrapalha em uma das coisas que mais gostava de fazer: sair para visitar amigos e parentes.
Descoberta da síndrome de Ondine
Dijane contraiu covid-19 em agosto de 2020, e no dia foi internada no Hospital de Emergência, sentindo muita falta de ar. Foram 20 dias de internação. Mas precisou voltar no dia seguinte porque estava com dispneia, problemas para respirar, sequelas do vírus.
A alagoana começou a se culpar peremptoriamente, e como as sequelas começavam a demonstrar que mudariam sua vida para sempre, os principais pensamentos que lhe ocorriam eram de que deveria ter se cuidado mais, higienizado mais as mãos e saído menos de casa. A cobrança começou a consumi-la, mas invariavelmente precisou fazer as pazes consigo mesma, já que não era diferente de nenhum outro paciente.
Depois de passar por três hospitais, foi apenas em maio de 2021 que o diagnóstico de sua doença foi fechado. O neurologista e pesquisador Fernando Gameleira foi quem notou que Dijane poderia ter desenvolvido síndrome de Ondine como consequência da covid-19. De acordo com o médico, uma parte do cérebro detecta quando o gás carbônico se acumula no organismo, o que faz com que iniciemos o processo de respiração.
Para quem tem a síndrome, esses sensores apresentam certas alterações, não incentivando o corpo a respirar, o que pode causar a morte do paciente. Gameleira conta que essa é a primeira vez que o distúrbio é desencadeado por uma doença, já que os pacientes normalmente nascem com ele ou o adquirem depois de severo trauma, como encefalice, tumor cerebral ou AVC.
Fernando Gameleira reforça que Dijane foi salva porque recebeu atendimento de alta qualidade enquanto esteve internada e suspeita que ela já tinha uma doença neuromuscular e, como consequência direta da covid-19, desenvolveu a síndrome de Ondine. A paciente agora não deseja mais pensar no tempo que ficou internada, ela quer apenas se recuperar.