A senhora acreditava que o dinheiro poderia ser de uma poupança que foi confiscada no governo Collor, mas se enganou.
Esquecer dinheiro em bancos pode parecer algo incomum, mas o Banco Central provou que não. O BCB anunciou que vai liberar no mês de março cerca de R$ 8 bilhões que ficaram esquecidos nos bancos por pessoas físicas e empresas. Na primeira fase, R$ 4 bilhões serão devolvidos às pessoas que nasceram antes de 1968.
Basta acessar o site disponível para consulta, colocar o CPF e a data de nascimento, que é possível saber se você tem algo para receber. Caso o saldo esteja zerado, pode ser que exista algum valor na segunda etapa, prevista para maio, que agrega um conjunto diferente de fatores.
Atualmente, o dinheiro está sendo devolvido aos cidadãos que encerraram contas ou poupanças com saldos disponíveis; tiveram tarifas cobradas indevidamente; parcelas ou obrigações cobradas indevidamente; cotas de capital e rateio de sobras líquidas de beneficiários de cooperativas de crédito; e recursos não procurados de grupos de consórcio encerrados.
Muitos brasileiros descobriram que tinham valores a receber com o comunicado do BCB, e passaram a alimentar o imaginário com a quantia disponível. Para Antônia Campos, de 83 anos, não foi diferente. A moradora de Natal, no Rio Grande do Norte, soube que tinha dinheiro para receber, e chegou a imaginar que poderia ser o valor confiscado de uma poupança na época do governo Collor.
Segundo reportagem do G1, Antônia fez muitos planos com o possível dinheiro, e ficou sabendo depois que os filhos consultaram o sistema do Banco Central. Acreditando que o valor seria alto, seu maior desejo era conseguir trocar de carro, mas os sonhos foram por água abaixo quando soube que tinha apenas R$ 2,82.
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Ela afirma que queria trocar de carro porque achava o seu pequeno demais, e chegou a ficar tão ansiosa que gravou o dia para não esquecer, mas ficou se perguntando o porquê de o banco ter guardado seu dinheiro de graça. O valor é referente a um consórcio que iniciou há muitos anos, mas que acabou abandonando depois de uma briga que teve com os participantes.
Como tinha o dinheiro da poupança que havia sido confiscado no governo Collor, acreditou que o valor a receber poderia ser alto. Depois de vender uma casa, acabou guardando o dinheiro, mas a União não o devolveu, fazendo com que continuasse sem ver essa quantia novamente.
Dona Antônia teve uma surpresa um tanto desagradável quando descobriu que o dinheiro não chegava sequer a R$ 3, e defendeu que prefere trabalhar para conquistar aquilo que deseja. Ao longo de sua vida, chegou a atuar com a venda de bolos, cocadas e jóias, mas acabou freando os negócios com a chegada da pandemia.
Mesmo aos 83 anos, Antônia conta que pretende continuar suas vendas, mas seus filhos preferem que ela descanse. Quanto aos negócios, ela dá uma dica para quem está começando agora: é preferível vender cocada do que jóias de ouro, já que comida não pode ser devolvida, o que não afeta os negócios.
Em 2020, completou 30 anos do confisco da poupança dos cidadãos brasileiros. Na tentativa de conter uma inflação que chegava a 84% ao mês, a Ministra da Fazenda Zélia Cardoso de Mello, anunciou as medidas de um novo plano econômico.
Chamado de Brasil Novo, o plano incluía a troca da moeda para cruzeiro, criação de imposto sobre operações financeiras, congelamento de preços e salários, aumento da tarifa de serviços públicos, extinção de 24 empresas estatais, demissão de mais de 80 mil funcionários e o bloqueio das cadernetas de poupança. Durante 18 meses, estima-se que o equivalente a 30% do Produto Interno Bruto (PIB) tenha sido confiscado pelo governo.