O ex-presidente declarou seu posicionamento sobre o assunto tabu, dizendo que embora ele não seja a favor do aborto, o tópico é uma questão de saúde pública e deve ser tratado como tal.
O ex-presidente Luís Inácio “Lula” da Silva é uma figura com uma forte presença midiática, tanto nos veículos brasileiros quanto no exterior. Notado por sua eloquência, em discursos que moveram multidões, Lula foi um líder de estado marcante na história do Brasil – e este fato precisa ser reconhecido até mesmo por aqueles que são contra as formas de governar usadas por ele durante seus dois mandatos, no começo dos anos 2000.
O político, que ficou conhecido primeiramente por ser uma voz potente no movimento sindical dos metalúrgicos, também é um dos nomes mais comentados na política atual, mesmo que esteja fora do poder desde 2011. Com sua prisão altamente coberta pela mídia – assim como o processo que provou as incongruências neste processo, lhe concedendo a liberdade mais uma vez – e sua aparente preparação para a corrida presidencial de 2022, Lula se tornou uma das pessoas públicas que mais geram assunto na política.
Uma das falas do ex-presidente, inclusive, ecoou por muito tempo pelos murais da internet, sua opinião sobre o aborto, que levantou uma discussão sobre o assunto que ainda é muito controverso no país.
De acordo com informações do portal Bandnews, Lula afirmou que a pergunta sobre seu posicionamento em relação ao aborto já foi feita a ele milhares de vezes, no que o ex-presidente respondeu que em sua opinião pessoal, ele se declara contra, mas nem por isso desmerece o fato de que o aborto deveria ser tratado como uma questão política pública. O político falou ainda sobre as questões de classe que envolvem o aborto, ressaltando o fato de que mulheres com poucas condições acabam se submetendo a clínicas clandestinas perigosas, com altos índices de mortes, enquanto mulheres mais abastadas tinham a oportunidade de realizar o procedimento fora do país, em lugares onde o aborto já fosse legalizado.
Lula chamou atenção sobre o fato de que, embora ele fosse contra, não havia como seguir sem reconhecer que abortos são praticados no país. Seu posicionamento era de que o aborto deveria ter a atenção do estado, e disse que era uma “questão de bom senso”. Para Lula, é preciso que a gestão pública faça o que for preciso para amparar o cidadão, e neste tópico, isso se expressaria a partir da realização de abortos seguros e a fiscalização deste processo pela saúde pública.
A fala do ex-presidente causou comoção nas redes sociais, com vários usuários – tanto anônimos quanto pessoas públicas – atraindo tanto opiniões a favor quanto contra. O deputado federal Carlos Jordy foi uma das pessoas públicas insatisfeitas com a fala de Lula, dizendo em suas redes sociais que o ex-presidente queria “destruir famílias e assassinar inocentes”.
Do outro lado do espectro, daqueles que compreenderam a fala de Lula, o autor Marcelo Rubens Paiva foi um que demonstrou apoio à fala do ex-presidente, vendo o sentido de suas palavras. Para Paiva, a fala de Lula deixou claro que ele colocava suas obrigações como líder estatal acima de suas crenças pessoais, tratando o aborto como uma questão de saúde séria, como deve ser.
Embora ainda seja um assunto tabu no Brasil – devido a grande carga de juízo de valor que o assunto aborto carrega para alguns – alguns fatos sobre esta questão são incontestáveis. Somente em 2020, mais de 80 mil mulheres foram atendidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) por conta de abortos mal sucedidos, tanto os provocados ou espontâneos. Os números são da base de dados DataSUS. De fato, como declarou o presidente, mesmo proibido, mulheres realizam abortos por vários motivos no Brasil, várias delas se sujeitando a morte ou graves sequelas simplesmente por não terem o apoio e uma estrutura segura para encerrar uma gestação. A fala do ex-presidente sugere que os interesses pessoais de ninguém devem vir à frente do interesse coletivo – neste caso a saúde de milhares de mulheres – mesmo que a pessoa em questão seja quem chefia o país.