O primeiro-ministro britânico disse publicamente que atletas trans não deveriam competir em modalidades femininas e que esse pensamento “fazia sentido” para ele.
O debate sobre atletas transgênero mulheres competindo em esportes femininos continua sendo uma pauta persistente em alguns países. No último dia 7, o primeiro-ministro da Grã-Bretanha Boris Johnson, num discurso público, afirmou que pessoas nascidas biologicamente do sexo masculino não deveriam entrar em competições esportivas femininas.
A fala veio porque a ciclista Emily Bridges foi barrada no Campeonato Nacional de Omnium do Reino Unido. Segundo reportagem da BBC, os embates sobre os direitos dos atletas transgênero têm sido cada vez mais acirrados, principalmente envolvendo figuras políticas; membros do atual governo afirmaram que os órgãos esportivos é que devem decidir quem compete ou não.
Ainda assim os políticos enxergam no assunto uma oportunidade de ganhar seguidores, principalmente entre os conservadores. Os partidos de direita na Grã-Bretanha têm apresentado divisões neste tempo que antecede as eleições locais (5 de maio), e Johnson foi aquele que escolheu entrar mais fundo na questão das “guerras culturais” que a região presencia.
“Não acho que homens biológicos devam competir em eventos esportivos femininos. E talvez seja controverso, mas faz sentido para mim”, disse o primeiro-ministro aos repórteres. Além disso, ele defende que as mulheres tenham espaços separados em todos os lugares, como hospitais, sendo destinados apenas ao uso do público feminino – biologicamente, de acordo com as últimas falas do conservador.
![Boris Johnson recusa ciclista trans e dispara: “Homens biológicos não devem competir com mulheres”](https://osegredo.com.br/wp-content/uploads/2022/04/2-Boris-Johnson-recusa-ciclista-trans-e-dispara-Homens-biologicos-nao-devem-competir-com-mulheres.jpg)
Boris ainda disse que seu posicionamento não necessariamente deveria colocá-lo contra a população trans, por quem nutre muita simpatia. A declaração do primeiro-ministro aconteceu depois que o governo anunciou ter planos de retirar a proibição das “terapias de cura gay”.
Depois do anúncio, parlamentares conservadores que apoiam a proibição fizeram protestos, e membros da cúpula do atual governo disseram que a legislação continuaria, mas que estavam excluindo a “terapia transgênero”, que permite o aconselhamento de adolescentes que compreendem que querem transicionar para outro gênero.
Boris ainda disse que eles proibiriam a terapia de conversão gay, inclusive achava a questão “abominável”, mas que existiam “complexidades e sensibilidades quando você passa do reino da sexualidade para a questão de gênero”, e que ele temia que ainda existam tópicos que precisam ser resolvidos.
Caso Emily Bridges
A ciclista foi proibida de competir no Campeonato Nacional de Omnium do Reino Unido, depois que a UCI, órgão que controla o esporte, afirmou que ela era inelegível. Segundo reportagem para a CNN, Emily conta que se sentiu “assediada e demonizada”, que anulou a autorização recebida da British Cycling.
![Boris Johnson recusa ciclista trans e dispara: “Homens biológicos não devem competir com mulheres”](https://osegredo.com.br/wp-content/uploads/2022/04/3-Boris-Johnson-recusa-ciclista-trans-e-dispara-Homens-biologicos-nao-devem-competir-com-mulheres.jpg)
A decisão inicial de permitir que Bridges competisse causou controvérsia, com ameaças de boicote por outras corredoras, se ela pudesse competir. As pessoas contrárias à participação de atletas trans em modalidades femininas declaram que elas possuem injustas vantagens, mesmo depois do tratamento hormonal.
A levantadora de peso neozelandesa Laurel Hubbard consagrou-se como a primeira atleta transgênero a competir nas Olimpíadas de Tóquio, no ano passado. No mês passado, a nadadora da Universidade da Pensilvânia, Lia Thomas, tornou-se a primeira transgênero campeã da National Collegiate Athletic Association (NCAA) na história da Divisão I. A atleta venceu os 500 metros livres.
As últimas diretrizes do Comitê Olímpico Internacional (COI), atualizadas em novembro do ano passado, estabelecem que nenhum atleta deve ser excluído da competição por suposta vantagem injusta em razão do gênero. E até o momento nenhum estudo foi apresentado pela comunidade científica – aprovado por órgãos oficiais – comprovando a vantagem biológica.