Os brasileiros mostram apoio para incluir a educação sexual na Base Nacional Comum Curricular dos alunos.
Nas escolas e entre os pais, o tópico da educação sexual está sempre em pauta, pois para uns pode ser algo bastante polêmico, enquanto para outros, é uma questão de educação e prevenção das crianças contra violências sexuais.
De acordo com a Folha de São Paulo, uma pesquisa do Datafolha mostra que 73% dos brasileiros concordam que a educação sexual deveria estar presente nas escolas do país. Além disso, 9 entre 10 pessoas concordam que discutir sobre o assunto nas salas de aula é muito importante pois pode ajudar as crianças e adolescentes a se prevenirem contra o abuso sexual, tema que tem sido muito discutido por causa dos casos de estupro no Brasil.
Os números da pesquisa também expõem as contradições entre a opinião de boa parte da população, bem como as investidas de grupos conservadores. Apesar disso, os termos de orientação sexual e gênero foram excluídos do documento final da BNCC (Base Nacional Comum Curricular) pelo Ministério da Educação, em 2017, além de haver críticas sobre a tentativa de “erotizar as crianças” e “ensinar ideologia de gênero”.
Conforme relato do gerente de programas da ONG Childhood Brasil, Itamar Gonçalves, umas das principais oposição sobre a educação sexual seria por crenças pessoais ou pelo receio da sexualidade precoce destas crianças. Segundo a pesquisa do Datafolha, o brasileiro acha que a educação sexual deve acontecer, em média, a partir dos 12 anos de idade.
Itamar Gonçalves destaca que é um desserviço às pessoas falarem que a educação pode sexualizar os alunos, e que esse tipo de pensamento impacta diretamente a autopreservação e a proteção das crianças e adolescentes.
Enquanto isso, ainda de acordo com a Folha de São Paulo, Lúcia Duarte, especialista em saúde pública, tendo trabalhado por 30 anos com doenças infecciosas, afirma que vivemos em uma sociedade moralista. Para ela, existem pais que têm dificuldade de tratar desse assunto com os filhos, por isso, as políticas públicas precisam ser mais direcionadas para eles.
Além disso, a resistência de abordar a educação sexual com as crianças teria relação com a ideia de que falar sobre sexualidade é falar sobre o ato sexual em si, segundo a socióloga e educadora sexual Cida Lopes.
De acordo com a Base Nacional Comum Curricular, esse assunto precisa aparecer desde o ensino fundamental até o ensino médio, de modo a ajudar os alunos a entender as mudanças que fazem parte da adolescência e também de tomar decisões que respeitem o seu corpo e o corpo do outro.
Para a professora do ensino fundamental e integrante do grupo de estudos Gênero, Educação e Cultura Sexual da USP, Luana Pires Barbosa, o tema precisa ser abordado respeitando a faixa etária dos alunos.
Matéria eletiva sobre sexualidade
Desde 2021, a Escola Estadual Rocca Dordall, que fica localizada na zona leste de São Paulo, oferece aos alunos do ensino médio uma matéria eletiva sobre sexualidade, que faz parte do Programa Inova Educação, do governo de São Paulo. Segundo a coordenadora, Neline de Araujo Pignatari, até agora a disciplina teve grande participação dos alunos.
As aulas da escola são ministradas por dois docentes, sendo um homem e uma mulher, e funcionam de maneira dinâmica, com atividades interativas e palestras, onde as Infecções Sexualmente Transmissíveis são abordadas sem censura.
Conforme o Folha de São Paulo, a estudante Evellyn Samara, de 18 anos, disse que já tinha conversas sobre sexo dentro de casa, mas as aulas ajudaram muito a falar sobre sexualidade e proteção com seus amigos.
Aula de biologia
No Colégio Novo Pátio, uma escola particular da zona norte de São Paulo, a educação sexual é abordada dentro da matéria de biologia, para os alunos do 3º ano. A professora Bianca Sanctis, de 43 anos, pede aos alunos escreverem temas conhecidos e desconhecidos em um papel e distribui os assuntos em colunas na lousa, onde eles leem as frases e o debate inicia.
Segundo a professora, após a aula, é comum que vários alunos tentem conversar com ela para falar algo pessoal, incluindo temas como virgindade e início da vida sexual.