Uma das mulheres que foram atendidas pelo anestesista Giovanni Quintella Bezerra, filmado enquanto estuprava uma grávida durante um parto no Hospital da Mulher Heloneida Studart, na Baixada Fluminense, chegou à Delegacia de Atendimento a Mulher (Deam), na tarde desta quinta-feira (14), para prestar depoimento.
A mulher foi uma das três pacientes que passaram pelo parto cesariana com o anestesista no domingo (10), quando ele foi filmado pela equipe de enfermagem praticando o crime contra uma das gestantes.
A Polícia Civil investiga 30 possíveis casos de estupro de pacientes de Giovanni Quintella. Esse número representa o total de procedimentos cirúrgicos que contaram com a participação do anestesista.
Paciente questionou hospital
A mulher chegou à DP acompanhada dos advogados. Um deles, Joabs Sobrinho, afirmou que a cliente acredita que foi estuprada – ela já desconfiava de atitudes de Giovanni, como puxar assuntos que não estavam relacionados à cirurgia e insistir para colocar a sonda nela, o que geralmente não é feito pelo médico.
O advogado também afirma que ela questionou a atitude do hospital diante do comportamento do médico.
“Ela tem sentido [que ele a estuprou]. Mas o que mais maltrata ela é saber que o hospital também tem culpa. Se eles perceberam que aquele ato tinha um abuso, não tinham que ter montado um segundo ou terceiro [parto]. Tinham que ter denunciado. Ninguém denunciou. ‘Ah, vamos filmar’. Foram atrás de uma prova mais contundente, de um vídeo.”
A defesa também criticou a unidade de saúde por não ter procurado a paciente antes.
“A equipe sabe que todo mundo hoje que sofre com estupro, a palavra da vítima é suficiente, agora imagina uma equipe médica dizendo que um colega está abusando. Não se reportaram a ninguém, ela saiu do hospital terça, não sabia do caso, não foi procurada por ninguém, agora a assistente, pela repercussão chamou. Ela tem que tomar um coquetel, mas não conseguiu, está amamentando”, disse Sobrinho.
Anestesista deu nome falso
Segundo o advogado da vítima, o anestesista Giovanni Quintella apresentou um comportamento muito estranho antes de iniciar o primeiro parto do último domingo.
“Ela estranhou muito o comportamento. Ele sabia que ela é mãe solteira e por esse motivo ele começou a indagar muitas coisas que não tinham nada a ver com a cirurgia, como fazer elogios da tatuagem dela. Ele disse que as letras estavam muito bonitas, que era muito bem feita. E nunca na frente das pessoas, sempre sozinho”, disse o advogado.
Além de relatar o comportamento estranho do médico, a defesa da vítima disse que ele se apresentou para ela com um nome falso.
“Outra coisa estranha foi quando ela perguntou o nome dele. Ele disse que era Yago. Ele disse: ‘Prazer, eu sou o anestesista, vou cuidar de você, meu nome é Yago”.
Vítima se sente exposta
Ainda de acordo com o advogado, a mulher está muito abalada com a situação.
“Ela ficou muito chocada porque ela não lembra exatamente o que aconteceu, ela estava inconsciente. Mas ela tá muito triste porque todos os vizinhos, amigos e outras pessoas (…) tá expondo muito a intimidade dela. Ela é mãe solteira. Então é muito complicado. Ela tá realmente sofrendo, principalmente por não amamentar a criança. Isso para ela é o fim”, disse.
“Ela tem uma reparação muito grande. Ela tá com a imagem dela exposta no país todo. Ela tá passando por um momento muito delicado. O primeiro dia de vida do filho ela vai lembrar que foi estuprada”, completou.
O depoimento na Delegacia da Mulher de São João de Meriti começou por volta das 17h40. Segundo a delegada Bárbara Lomba, existem “fortes indícios” de que ela também tenha sido abusada pelo médico, visto que há relatos de uso excessivo de anestésico durante o procedimento cirúrgico.
O marido da segunda mulher atendida no domingo também esteve na Delegacia da Mulher nesta quinta-feira. Ele prestou depoimento sobre o caso e saiu sem falar com a imprensa.
“Já temos informações de que elas foram sedadas também, possivelmente desnecessariamente”, afirmou Bárbara Lomba, na manhã desta quinta-feira.