No dia 28 de dezembro de 2019, Sabrina Carvalho entrou em trabalho de parto do primeiro filho.
Ela já tinha definido o plano de parto, optando por um procedimento sem anestesia. A primeira equipe que a atendeu, por volta da 1h, respeitou sua vontade, mas com a troca de plantão, às 7h, veio o pesadelo.
“O médico já entrou fazendo muito barulho, me dando puxos enquanto eu estava de quatro apoios na maca. Ele insistia para me dar analgesia e eu disse que aguentava. Aí ele riu de mim com o anestesista. Me cortou, usou fórceps e ainda me tocou umas cinco vezes em uma hora”, contou Sabrina.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que o médico faça um toque vaginal na parturiente a cada quatro horas. Sabrina ainda foi obrigada a ficar deitada durante o parto, posição que ela havia recusado em seu plano de parto.
“Foi uma experiência horrorosa, de violência e desrespeito. Fiquei pedindo perdão para o meu filho e o médico ainda disse que eu estava sendo ridícula”, disse a mulher que estava acompanhada do marido, da doula – profissional que presta assistência à gestante durante e depois do parto – e de uma fotógrafa.
O bebê de Sabrina ainda teve cefalohematoma, lesão causada por uma hemorragia no crânio, por causa do uso do fórceps.
Nesta semana, a violência obstétrica voltou a ser discutida depois que uma mulher foi vítima de estupro durante o parto no Rio de Janeiro.
Legislação
Não há lei federal que criminaliza a violência obstétrica. Porém, Minas Gerais tem uma lei, desde 2018, que assegura o direito das mulheres de receber atendimento humanizado, a fim de prevenir a violência obstétrica.
Mesmo assim, Sabrina teve que ir a três delegacias diferentes para fazer a denúncia contra o médico. O processo ainda corre na Justiça.
“Eu fiz a denúncia porque tinha noção da violência que estava sofrendo. Muitas mulheres sequer sabem que estão passando por maus-tratos durante o parto. Eu expus o que aconteceu comigo para ajudar e alertar outras mães”, disse Sabrina.
Ela está grávida pela segunda vez e se prepara para ressignificar a experiência do parto.
“Vai ser tudo diferente. Do jeito que planejei receber minha filha”, contou.
A Polícia Civil disse que boletins de ocorrência sobre violência obstétrica podem ser feitas em qualquer unidade policial. “Em todas as regionais, na capital, região metropolitana e interior, a vítima pode procurar a Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher da cidade para denúncia e orientações”, disse a corporação.
Além da legislação estadual, há também um projeto de lei sobre o assunto que tramita na Câmara Municipal de Belo Horizonte. O texto já foi aprovado em 1º turno, mas não há data para ser apreciado em 2º turno.