Um vídeo de câmera de segurança mostra o momento que um empresário atira no ombro de um suspeito de tentar roubar seu relógio da marca Breitling, avaliado em R$ 40 mil, momento antes, na Zona Sul de São Paulo. Em seguida, ele aparece chutando o rosto do homem (veja vídeos acima).
O caso ocorreu na manhã de sexta-feira (27) na Rua Demóstenes, no Campo Belo. O empresário acabou preso em flagrante na delegacia porque o bandido já estava rendido por um policial civil. O agente havia até atirado nas pernas do criminoso, quando ele fez menção de atirar, segundo a Polícia Civil. Depois foi descoberto que o assaltante estava com uma arma falsa.
As imagens mostram o momento que o policial rende o suspeito, que cai perto de um poste, numa esquina. O agente ainda aponta a arma para o bandido, que deixa cair a arma de brinquedo que carregava. O policial contou que estava passando pelo local e havia abordado o criminoso depois de ser alertado por testemunhas de que ele tinha tentado assaltar um motorista com um carro de luxo dentro de um posto de combustíveis, ali próximo.
Em seguida, a câmera registra o momento que o empresário que quase foi roubado pelo bandido aparece dirigindo seu Porsche. Ele para na esquina e sai do veículo com uma arma. Mesmo vendo o suspeito rendido, o empresário atira nele. A bala transfixou o ombro e parou no peito do homem.
Empresário alega ser CAC
Após discutir com o policial, o empresário aparece voltando para perto do suspeito e chuta o rosto dele. Depois disso, o agente contou na delegacia que desarmou o empresário, que se identificou como CAC, que é a sigla usada para quem é Caçador, Atirador desportivo e Colecionador de armas.
A arma do empresário, uma pistola Taurus 9 milímetros, foi apreendida pela Polícia Civil. O empresário foi identificado como João Henrique Marfim Stakowiak, de 38 anos, no 27º Distrito Policial (DP), Campo Belo, onde acabou indiciado pelos crimes de tentativa de assassinato e porte ilegal de arma de fogo de uso restrito.
De acordo com o boletim de ocorrência do caso, João Henrique não agiu em legítima defesa. E pelo fato de ter dito que era CAC, ele não estava indo ou voltando de um clube de tiro naquela ocasião. Além disso, testemunhas contaram que ele atirou diversas vezes contra o suspeito quando o perseguia com seu Porsche, saindo do posto. E que os disparos atingiram imóveis próximos.
Justiça decreta prisões preventivas
Neste sábado (27) o empresário passou por audiência de custódia na Justiça, que decretou a prisão preventiva dele. Ou seja, ficará detido por tempo indeterminado até seu eventual julgamento pelos crimes dos quais foi acusado.
A Justiça também decretou a prisão preventiva do criminoso, identificado como Sidney Fernandes, de 40 anos. Ele já teve passagens criminais anteriores por outros crimes. Até a última atualização desta reportagem o homem permanecia internado no Hospital Saboya, no Jabaquara, Zona Sul. De acordo com o boletim de ocorrência ele estava detido com escolta da Polícia Militar (PM).
A Secretaria Municipal de Saúde informou que não poderia divulgar o estado de saúde dele.
“A vítima foi presa porque deixou de ser vítima porque fez justiçamento. Então, o ladrão foi autuado por crime de roubo e o empresário foi autuado em flagrante por tentativa de homicídio”, afirmou o delegado Eduardo Luiz Ferreira.
Em seu interrogatório à polícia, o empresário alegou que atirou no criminoso em legítima defesa depois que ele tentou roubar seu relógio no posto e ameaçou matá-lo. O suspeito do roubo não foi ouvido porque permanecia internado no hospital.
Especialista comenta
Segundo Bruno Langeani, diretor do Instituto Sou da Paz, segundo a lei, quem é CAC pode portar arma desde que seja para o transporte dela em eventos ou lugares oficiais para prática do esporte. E eventualmente pode usar essa arma para se proteger, o que não foi o que ocorreu nesse caso, segundo a polícia.
“A Polícia Civil foi muito feliz no enquadramento porque claramente a situação ali não se enquadra em legítima defesa. Foram feitos agressões e um disparo contra o suspeito quando já estava rendido, desarmado, e nem era arma de fogo, era um simulacro”, disse Bruno.
O Instituto Sou da Paz tem trabalhos e pesquisas sobre as consequências do uso de armas no Brasil.
“O porte desse CAC estava irregular também. O regulamento do Exército permite que eles estejam armados e usem essa arma, eventualmente, em legítima defesa para proteger o seu acervo quando eles estão indo da sua casa ao clube de tiro ou ao local de competição ou eventualmente num local de caça e no retorno”, falou Bruno.
“Nesse caso não se configurou que esse atirador estava nesse trajeto. Então ele portava arma em situação irregular, de acordo com o regulamento do Exército, e também, posteriormente, fez o uso dessa arma de fogo não para uma legítima defesa, mas para uma tentativa de homicídio mesmo”.
O Exército brasileiro informou, por meio de nota, que os atiradores desportivos e caçadores precisam obter uma guia de tráfego para transportar as armas. Essa guia permite apenas o transporte entre o local onde a arma está guardada e o local da prática desportiva, da caça ou para manutenção. Quem é apenas colecionador também precisa dessa guia, mas só pode transportar a arma entre o local onde ela fica e uma eventual exposição. As armas devem ser transportadas desmuniciadas, ou seja, sem carregadores, e com as munições separadas da arma.