Ariane de Oliveira foi vista pela última vez em sua casa, na aldeia Jaguapiru, em Dourados, e seu corpo foi encontrado em uma propriedade rural próxima.
No início do mês, a notícia de que a adolescente indígena Ariane Oliveira, de apenas 13 anos, tinha desaparecido na porta de casa, enquanto seus pais dormiam, chocaram a população. O caso aconteceu na aldeia Jaguapiru, em Dourados, interior de Mato Grosso do Sul, e mobilizou a comunidade que estava em busca do seu paradeiro.
Aldineia Oliveira, mãe de Ariane, informou aos oficiais que ela estava brincando no celular com o irmão, os dois ouviram uma batida na porta e ela desapareceu. Os pais só foram saber do ocorrido quando o filho os acordou, explicando o que tinha acontecido, mas já nessa ocasião eles não encontraram a adolescente.
Segundo reportagem do G1, tudo aconteceu na noite do dia 2 de setembro, a família passou a madrugada procurando a jovem, e na manhã seguinte avisaram o cacique da aldeia, que informou imediatamente as autoridades. Segundo informações do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Ariane era neta do Nhanderu (rezador) Getúlio Oliveira, membro da Aty Guasu (Grande Assembleia Guarani e Kaiowá).
Os próprios moradores da aldeia organizaram uma força-tarefa e saíram para tentar encontrar Ariane, na esperança de que ainda estivesse viva. Nove dias depois do desaparecimento, o próprio pai da adolescente foi quem encontrou seu corpo em uma propriedade rural próxima da aldeia, causando desespero na comunidade e em toda a família.
Os familiares de Ariane relataram que ela estava sofrendo ameaças de morte através de cartas e bilhetes, e no ano passado a adolescente já havia sumido de casa uma vez. Aldineia relatou que a menina foi dopada e encontrada na frente da própria casa dias depois, e que desde então eles passaram a receber ameaças.
A Polícia Civil prendeu um suspeito assim que o corpo foi encontrado, encaminhando-o à Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário (Depac) da região, mas não chegou a dar mais detalhes. No dia 12 de setembro, um adolescente de 17 anos confessou ter matado a adolescente estrangulada e escondido seu corpo para que ninguém desconfiasse da ação.
Caso de feminicídio em investigação
O rapaz que não teve o nome divulgado foi localizado nas redondezas e conduzido para a delegacia com o apoio da liderança indígena, o delegado que investiga o caso, Dermeval Inácio, alegou que desconhece se ele tinha ou não algum tipo de envolvimento com a adolescente. Segundo informações repassadas à mídia, o suspeito teria confessado matar a vítima “motivado por ciúmes”.
O suspeito foi encaminhado para a Unidade Educacional de Internação (Unei) Laranja Doce, em Dourados, no Mato Grosso do Sul, onde deve aguardar enquanto o processo pela morte da adolescente corre. A situação é semelhante a uma prisão preventiva, com a diferença que menores de idade são submetidos a medidas socioeducativas de no máximo três anos.
Embora as autoridades classifiquem o crime como feminicídio, cuja pena pode variar de 12 a 30 anos, como o rapaz ainda é menor de idade, vai responder por homicídio qualificado, que ocorre quando o suspeito tem a intenção de matar por um motivo específico, no caso o ciúme. Por ter 17 anos, sua pena seria de, no máximo três anos, mas as investigações continuam para averiguar se ele realmente tinha algum envolvimento emocional com a vítima.
Moradores da aldeia Jaguapiru realizou dois sepultamentos no mesmo dia, 13 de setembro, dos adolescentes Ariane Oliveira, e de Cleiton Isnard Daniel, de 15 anos. De acordo com o Cimi, os moradores lamentam as perdas dos adolescentes, e clamam para que a violência em seus territórios possa ter um fim. Cleiton teria cometido suicídio por causas ainda desconhecidas pela família e pela comunidade.
Em nota, o Cimi ainda relembrou do histórico de ocorrências violentas que impactam de maneira devastadora os povos indígenas de Mato Grosso do Sul, como o estupro coletivo da menina Raíssa, que ocorreu no ano passado. “Crimes de natureza hedionda ou feminicídios, como os que envolvem crianças, e até mesmo o suicídio de jovens, infelizmente são situações que estão espalhadas por toda extensão de nossa sociedade, mas, como ocorre com a Reserva de Dourados, podem também ser produzidos ou pelo menos potencializados”, diz outro trecho da nota.
Se você presenciar um episódio de violência contra crianças ou adolescentes, denuncie o quanto antes através do número 100, que está disponível todos os dias, em qualquer horário, seja através de ligação ou dos aplicativos WhatsApp e Telegram.
O mesmo número também atende denúncias sobre pessoas idosas, mulheres, pessoas com deficiência, pessoas em restrição de liberdade, comunidade LGBT e população em situação de rua. Além de denúncias de discriminação étnica ou racial e violência contra ciganos, quilombolas, indígenas e outras comunidades tradicionais.
Também é possível denunciar casos de maus-tratos e negligência a crianças e adolescentes nos Conselhos Tutelares, Polícias Civil e Militar e ao Ministério Público, bem como através dos números Disque 181, estadual; e Disque 156, municipal.