Médico pediu tomografia, mas não chegou a revisar o exame.
Um médico foi preso no Rio de Janeiro por omissão de socorro após ter sido flagrado dormindo no Hospital do Andaraí, zona norte do Rio, nesta última quarta-feira (30). O médico foi indiciado por homicídio culposo, quando não há intenção de matar.
A vítima teria dado entrada na unidade com um sangramento na boca. Segundo testemunhas ouvidas pela Polícia Civil, o médico teria realizado um exame e após o resultado, não atendeu a paciente porque teria dormido durante o plantão.
Só foi constatado a gravidade da situação por outra médica que assumiu o plantão posterior. A mulher já estaria em uma cadeira de rodas aguardando o resultado do exame, mas foi levada em estado grave para o atendimento. A vítima não resistiu e acabou morrendo após 40 minutos.
Segundo o jornal O Globo, o médico foi identificado como sendo o urologista Arthur Vinícius de Andrade após não ter atendido a paciente Elisangela Souza de Almeida, de 45 anos. A vítima tinha câncer e morreu após aguardar mais de cinco horas por atendimento no hospital.
Em depoimento, familiares da vítima relataram que chegaram ao hospital por volta das 0h30 com a vítima vomitando sangue. O médico urologista, que estava de plantão na unidade, teria dito que o Hospital do Andaraí não tinha atendimento específico para ela. Após insistência da família, o médico teria pedido um exame de sangue de emergência, que teria ficado pronto após duas horas, aproximadamente. A família só teria acionado a Polícia Militar após ficar cerca de 1h30 sem atendimento depois de terem recebido o resultado do exame de sangue.
Quando chegaram ao Hospital do Andaraí, os policiais ouviram a versão do médico sobre o incidente. Ainda segundo o jornal, a Polícia Militar teria pedido a uma enfermeira que chamasse o médico responsável pelo atendimento de Elisangela Souza de Almeida, mas a enfermeira não retornou.
Já por volta das 5h, um policial foi ao alojamento dos médicos para procurar o urologista Arthur Vinícius quando o flagrou dormindo. Quando foi questionado pelo policial, o urologista teria respondido que outra médica atenderia Elisangela Souza de Almeida. A profissional, ao tomar conhecimento do caso da vítima, que estava em tratamento contra o câncer, pediu uma tomografia para avaliar o caso.
Quando terminaram de atender a ocorrência, já que Elisangela Souza de Almeida foi atendida por uma nova médica plantonista, os familiares da vítima voltaram a chamar os policiais que estavam saindo do hospital, desta vez, pedindo ajuda porque Elisangela teria começado a vomitar sangue e estava passando mal.
Ao chegarem ao local onde é realizado o exame de tomografia no Hospital do Andaraí, os policiais viram vários profissionais atendendo a paciente, com exceção do urologista Arthur Vinícius de Andrade.
Elisangela teria piorado e os profissionais a levaram para outra sala de atendimento, onde também estava o urologista. Após o atendimento de emergência, a médica plantonista e o urologista Arthur Vinícius de Andrade anunciaram o falecimento de Elisangela Souza de Almeida aos familiares.
Elisangela deixa marido e duas filhas. A mulher estava tratando um câncer de laringe e passou mal na última terça-feira. Primeiramente ela foi levada para a UPA de Nilópolis, mas a unidade não tinha profissionais capacitados para atendê-la. Depois os familiares tentaram atendimento para Elisangela no Hospital Municipal Souza Aguiar, onde também foi recusado o atendimento sob a mesma justificativa. Somente no Hospital Andaraí, que é federal, que conseguiram atendimento para Elisangela.
Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro afirmou que Elisangela Souza de Almeida foi atendida pelo Hospital Souza Aguiar e lá foram prescritos medicação e exames. Ainda segundo a Secretaria, a paciente teria deixado a unidade à revelia, sem aguardar a conclusão dos exames.
Em entrevista ao jornal O Globo, os familiares de Elisangela contestam a versão da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, afirmando que nos hospitais mencionados, não havia atendimento e que “ali só poderiam administrar dipirona e que o melhor seria seguir para o Andaraí”, revelou Priscila Azevedo, que é enteada e acompanhou a madrasta durante as negativas de atendimento médico.
Segundo o R7, a direção do Hospital do Andaraí afirmou que abriu um processo administrativo interno para a devida apuração dos fatos.
O médico prestou depoimento na delegacia, onde pagou uma fiança de R$ 10 mil e foi liberado. O urologista Arthur Vinícius de Andrade responderá por homicídio culposo e lesão corporal.