Mergulho em águas rasas podem causar grave lesão na medula espinhal caso a pessoa bata a cabeça.
O comerciante Elder Souza celebrava o Natal com seus familiares em 25 de dezembro de 2019 em um sítio de Bodoquena (MS), quando sofreu grave acidente em um mergulho.
Na ocasião, ele e alguns parentes foram até um rio da região no período da tarde. O rapaz que conta que ficou um pouco para trás porque estava com sua esposa grávida, e o acesso era difícil.
Todos os seus entes chegaram e foram entrando no rio. Ao chegar no local, Elder notou que havia uma parte rasa e outra funda. Ele relatou à BBC News Brasil que seu tio havia pulado e caído direto no fundo. Logo, ele quis pular direto na parte funda também.
Portanto, Elder Souza se deslocou até um barranco próximo e correu para pegar impulso e saltar. Foi aí que o comerciante bateu de cabeça em um banco de areia e quase desmaiou. Ele sentiu tudo preto e na hora só que não poderia morrer porque tinha seu filho prestes a nascer.
Elder diz que os parentes pensaram que ele estivesse brincando no momento em que não levantou da água. No entanto, pouco tempo depois, os familiares perceberam algo errado. Ele não conseguia sentir mais nada em seu corpo.
![“Fiquei tetraplégico após um mergulho”, relato de homem é alerta importante sobre acidentes na água](https://osegredo.com.br/wp-content/uploads/2022/12/Screenshot_431.jpg)
Seu cunhado, que possui experiência com resgates, o puxou devagar e levou até a beira do rio. Encontraram uma tábua nas proximidades, amarram o homem em cima do objetivo, o levaram para um lugar fora da localidade e buscaram por sinal com a finalidade de ligar para o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência).
No hospital, exames apontaram que ele havia sofrido uma lesão grave na medula e tinha perdido os movimentos abaixo do pescoço. O neurocirurgião Adalberto Santiago Junior, que acompanhou o comerciante, explica que Elder ficou tetraplégico, pois sofreu uma lesão medular completa.
![“Fiquei tetraplégico após um mergulho”, relato de homem é alerta importante sobre acidentes na água](https://osegredo.com.br/wp-content/uploads/2022/12/Screenshot_433.jpg)
Especialistas consideram que situações como essa são recorrentes. Portanto, casos de pessoas que sofrem uma lesão grave na medula após mergulhar na água – seja em cachoeira, mar, piscina ou rio – não considerados raros.
Entidades como a Sociedade Brasileira de Coluna (SBC) avaliam que o mergulho em águas rasas é uma das principais causas de lesão na coluna em todo o Brasil, principalmente durante o verão.
O ortopedista e traumatologista Orlando Righesso Neto, um dos coordenadores da SBC, o problema acontece quando dão aquele salto que chamam de pulo de “bico” ou de “ponta cabeça”. Isso ocorre quando a pessoa desconhece a água onde está se jogando. Se a água for turva, se torna pior ainda porque não dá para enxergar nada.
“O mundo desabou para mim”, pontuou Elder
No hospital, Elder foi submetido a uma cirurgia para fixação da coluna vertebral. Adalberto Santiago, um dos responsáveis por realizar o procedimento no comerciante, ressalta que uma vértebra dele que estava toda fraturada, foi retirada e no lugar, colocada uma espécie de gaiola metálica, como se fosse um substituto para o corpo vertebral fraturado.
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Tudo isso junto com enxerto ósseo, uma placa e mais alguns parafusos para fixação definitiva, como se fosse uma fusão com as outras vértebras para virar um bloco ósseo fixo. O neurocirurgião frisa que mesmo com a cirurgia, o paciente pode não retomar os movimentos.
O médico pontua que apesar da lesão completa e definitiva na medula, a estabilização foi feita porque ele apresentava uma instabilidade na coluna que não o deixava manter a cabeça sustentada, por exemplo.
Diagnóstico
Elder notou que depois da cirurgia permanecia sem os movimentos dos braços e das pernas, assim como quando foi retirado da água. Logo, o jovem foi informado que havia ficado tetraplégico. Ao receber a notícia, tentou pensar positivamente.
Naquele momento, a vítima do acidente que se considerava tão aventureiro e amante de viagens, começou a traçar novos objetivos para o futuro. Ele passou quase duas semanas no hospital. Quando recebeu alta, passou cerca de três meses na casa dos pais. Somente depois, foi para a cidade em que mora com a esposa, Maira Lazarini (35), em Nova Andradina (MS).
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Foi só no retorno para casa, que a ficha caiu. O mundo de Elder Souza desabou ali no momento em que precisou encarar a realidade e depender de uma cuidadora, uma pessoa que não era de sua família, até mesmo para o alimentar. Ele só queria sua mulher, mas ela não podia ajuda-lo porque o filho estava perto de nascer.
Riscos dos mergulhos
Mergulhos em águas rasas podem ocasionar grave lesão medular quando a pessoa bate a cabeça ao pular. O trauma acontece porque esse tipo de impacto comprime a coluna, o que causa a lesão, que pode ter diferentes níveis — em casos mais graves pode causar tetraplegia ou até mesmo levar à morte.
Lesões como essa podem ocorrer também em acidentes automobilísticos ou quedas. No caso da água, um outro risco é a morte por afogamento, se a pessoa não receber ajuda com urgência, já que perde os movimentos dos membros após o impacto.
Vale salientar que é importante evitar mergulhar em água turva ou desconhecida, não mergulhar ao consumir bebidas alcoólicas ou substâncias que atrapalhem os reflexos e jamais empurrar uma pessoa dentro da água. Caso precise ajudar alguém que se acidentou, deve-se evitar que ela mexa a cabeça para não piorar a lesão, além de buscar uma forma de imobilizar o pescoço.
Elder espera ficar independente o máximo que conseguir
Para tentar evoluir nos movimentos, Elder realiza fisioterapia frequentemente. Ele comemora ter conseguido controlar um pouco mais o tronco e parte dos braços, nos últimos anos. Entretanto, o comerciante comenta estar muito distante de seu objetivo: ficar independente o máximo que conseguir.
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Ele desabafa sobre as dificuldades de precisar de alguém para tomar banho, dirigir, se alimentar ou tomar água. Afirma ser bem melhor fazer as coisas com as próprias mãos. Atualmente, Elder retomou sua rotina de trabalho na loja de roupas que tem junto com a esposa.
Para as atividades do dia a dia, ele recebe apoio de uma cuidadora. O homem levanta cedo e vai até a loja. Todo o acompanhamento é feito de modo particular. Para a família, o custo com a recuperação dele é uma das partes mais difíceis.
Maira, esposa de Elder Souza, alega não terem recebido nenhum apoio do poder público. Agora, eles conseguiram fazer um plano de saúde, com intervenção do Procon para que o plano os aceitasse.
Para ajudar a custear os gastos, o casal faz diversas ações nas redes sociais, como rifas, por exemplo. Em meio a tantos problemas, Elder acredita que as dificuldades foram amenizadas pelo nascimento do filho, hoje com dois anos. E embora tenha ouvido que dificilmente conseguiria retomar plenamente os movimentos, o rapaz ainda tem esperança de que possa surgir um tratamento capaz de fazê-lo andar.