Homem foge após derrubar o relógio de Dom João VI durante a invasão de manifestantes no Planalto, em Brasília.
Durante a invasão golpista de 8 de janeiro, imagens das câmeras de segurança do Palácio do Planalto, no Distrito Federal, rodaram a internet, onde um homem aparece jogando no chão o relógio de Dom João VI. De acordo com a Carta Capital, a cena chocou todo o país, impulsionando as investigações sobre o suspeito pela internet.
Mais de uma semana depois do vandalismo, o jornal O Globo foi ao local onde o suspeito morava antes de sumir, em Catalão, Goiás, a 314 quilômetros da capital federal. Em entrevista, quatros pessoas que assistiram às cenas do crime, conseguiram identificar o suspeito como Antônio Cláudio Alves Ferreira, de 30 anos, que é mecânico.
A própria irmã de Ferreira, Rosinaline Alves Ferreira, confirmou ao jornal a identidade do homem, entretanto, evitou dar detalhes sobre o irmão, afirmando estar muito triste e preocupada com o caso. Segundo a Carta Capital, Rosinaline disse que ficou sabendo sobre o vandalismo praticado pelo irmão ao assistir uma reportagem do “Fantástico”, na Globo, quando o identificou nas imagens, depois que ele desapareceu.
Segundo a proprietária da casa alugada pelo suspeito, que não quis se identificar, disse que desde novembro Ferreira está devendo os pagamentos mensais do local, que custa R$ 400. O homem teria justificado que gastou o dinheiro do aluguel nas viagens que fez a Brasília, onde ele participava do acampamento em frente ao Quartel General do Exército.
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Ainda segundo a Carta Capital, a dona do imóvel ainda disse que ficou horrorizada depois que reconheceu o seu inquilino nas imagens que chocaram o país afora, visto que o relógio de Dom João VI é uma peça rara e preciosa do Brasil. Na residência do suspeito, foi encontrado uma bandeira do Brasil na fachada, além de um adesivo personalizado com a foto, nome e número de campanha do ex-presidente Jair Bolsonaro, que estava colado na parte superior do portão, na entrada do estacionamento.
O pintor Valderlei Gonçalves, vizinho do vândalo que destruiu o relógio, que mora em um imóvel nos fundos do mesmo terreno, teve acesso ao interior da casa de Ferreira, e relata que o homem deixou poucas coisas para trás: uma faca, uma Bíblia, roupas, uma panela com arroz e um boné com o nome de Bolsonaro. Segundo ele conta, no sofá da residência também havia um caderno de anotações escritas à mão ao lado do nome “BOLSONARO”, em letras maiúsculas.
O vizinho conta que uma das anotações é o endereço de um site com informações falsas sobre as urnas eletrônicas. Além disso, ele relembra que o Ferreira sumiu um dia depois do episódio de vandalismo, mas antes disso, o hino da Bandeira era uma música recorrente na casa dele, que era tocada por horas.
Conforme as informações da Carta Capital, os investigadores apontam que o veículo do suspeito foi flagrado por câmeras de uma rodovia na madrugada do dia 9 de janeiro, no qual Ferreira dirigia de Brasília para Catalão. Ao jornal O Globo, a Polícia Civil de Goiás enviou uma nota e confirma que “tem contribuído com a Polícia Federal com informações sobre um suspeito de atos de vandalismo no Palácio do Planalto que teria moradia em Goiás”.
O ex-chefe de Ferreira, Fernando Zorzetti, proprietário de uma oficina mecânica da região, também confirmou ter visto o ex-funcionário na televisão. Segundo o empresário, o suspeito era uma pessoa simples e acredita que Ferreira pode ter confundido o relógio com um vaso de planta comum, sem ter noção de que o objeto era um patrimônio histórico.
Além disso, pessoas que tiveram contato com Antônio Cláudio Alves Ferreira relatam que o homem costumava mandar mensagens de apoio ao ex-presidente do Brasil, bem como fotos dos acampamentos golpistas em Brasília, segundo a Carta Capital. No WhatsApp do mecânico, a foto de perfil do homem é dele em um acampamento, junto com um boneco extraterrestre verde que segura uma mensagem inconstitucional: “Intervenção militar com Bolsonaro no poder”.
Vale lembrar que o relógio de Dom João VI, destruído no Planalto, é uma das duas peças existentes do relojoeiro francês Balthazar Martinot. Sua outra peça está exposta no Palácio de Versalhes, na França, onde fica guardado no quarto da rainha Maria Antonieta. A peça destruída só poderá ser constituída com ajuda internacional.