A ativista Vana Lopes, primeira vítima a denunciar o médico Roger Abdelmassih, morreu neste sábado (28) aos 62 anos em decorrência de complicações provocadas por um câncer de mama em estágio avançado.
Lopes disse no ano passado que iria se despedir da vida sabendo que o homem pagou pelo que fez. “Ele é o que é: um nada.”
“A história da Vana muda a luta das mulheres. A palavra da mulher não tinha valor”, disse Maria do Carmo, presidente do grupo Vítimas Unidas.
Um dos médicos mais famosos em fertilidade e inseminação do país, Abdelmassih foi indiciado em junho de 2009 por estupro e atentado violento ao pudor contra 39 pacientes, e condenado a 278 anos de prisão — a sentença foi reduzida a 173 anos.
Ele cumpre sua pena no presídio de Tremembé (SP). Em 2021, a CIDH (Corte Interamericana de Direitos Humanos) decidiu julgar o Brasil por omissões praticadas no caso Abdelmassih, incluindo o sumiço de embriões, óvulos e sêmen de pacientes.
Caça ao médico
Em 1993, enquanto fazia uma fertilização in vitro na tentativa de engravidar, Lopes foi estuprada por Abdelmassih dentro do consultório. Ela teve diversos problemas de saúde e entrou em depressão.
Passou a buscar informações sobre ele e descobriu — e reuniu — outras vítimas. As primeiras denúncias de abuso sexual sofridas por algumas pacientes começaram a surgir em 2007 e o caso explodiu em 2009 a partir de uma reportagem da Folha.
Há cerca de 12 anos, conta Maria do Carmo, Lopes fundou o grupo Vítimas de Roger Abdelmassih, que hoje se chama Vítimas Unidas. Com sua ajuda, a Polícia Federal prendeu Abdelmassih em 2014, no Paraguai.
“O Brasil fica menor se a gente não souber honrar o legado dela”, disse Maria do Carmo.
Em 2015 Lopes lançou o livro “Bem-vindo ao Inferno”, no qual conta a sua história.
“Nossa MESTRA agora é uma estrela e vai ajudar a iluminar as mentes das autoridades para punir os criminosos e vai pedir ao ‘pai do céu ‘que dê conforto espiritual às vítimas. Nosso grupo comunica que Vana Lopes faleceu no dia de hoje.”
Ainda não foram divulgados os detalhes sobre velório e enterro de Lopes.
Se você presenciar um episódio de violência contra a mulher ou for vítima de um deles, denuncie o quanto antes através do número 180, que está disponível todos os dias, em qualquer horário, seja através de ligação ou dos aplicativos WhatsApp e Telegram.
O mesmo número também atende denúncias sobre pessoas idosas, pessoas com deficiência, pessoas em restrição de liberdade, comunidade LGBT e população em situação de rua. Além de denúncias de discriminação étnica ou racial e violência contra ciganos, quilombolas, indígenas e outras comunidades tradicionais.