Nove meses após a morte do estudante João Gabriel Cardim, de 16 anos, familiares e amigos se reuniram, pela primeira vez, no posto 3, na Barra da Tijuca, onde o rapaz foi atingido pela moto de Bruno Krupp, solto na quarta-feira (29).
A reunião, que aconteceu na manhã deste sábado, foi em protesto, após o Superior Tribunal de Justiça conceder habeas corpus ao modelo na última segunda.
A decisão foi do ministro Rogerio Schietti Cruz, que considerou a condição de réu primário e os bons antecedentes de Bruno.
Na manifestação, Mariana Cardim, mãe de João, exigiu o retorno de Bruno à prisão, onde ele ficou preventivamente por 8 meses.
O modelo responde em casa, com uso de tornozeleira eletrônica, por homicídio doloso eventual, quando se assume o risco de matar: ele não tinha habilitação e pilotava em velocidade superior à permitida na via.
O habeas corpus apontou não haver “indicação da periculosidade” a justificar a medida cautelar “mais gravosa”, ou seja, que justificasse a permanência dele na prisão.
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“Eu não desejo mal a ele, mas quero que a justiça seja feita. É um absurdo ele ter sido solto. Um rapaz que nem habilitação para moto tinha e ainda numa velocidade quase três vezes maior que a permitida. A Barra da Tijuca está em risco novamente”, denuncia Mariana.
“Meu filho era tão correto em tudo o que ele fazia, meu filho era um garoto tão bom. Só queria ele de volta, não mereço essa injustiça.”
!["Mataram meu filho e agora estão tentando me matar", diz mãe de João Gabriel em protesto contra soltura de Bruno Krupp](https://osegredo.com.br/wp-content/uploads/2023/04/1_whatsapp_image_2023_03_30_at_17_04_47__1_-28531757.jpg)
Abalada, ela chegou ao local carregada pelas tias e pelo sobrinho, com quem mora atualmente. Foi a primeira vez dela no lugar onde o menino foi assassinado. Com lágrimas nos olhos, reforçou a cena vivida no dia 30 de junho do ano passado: “Era um mar de sangue. Meu filho chegou para mim perfeito e morreu sem uma das pernas tamanha a violência do atropelamento.”
Fora da prisão
Bruno Krupp estava preso preventivamente desde o dia 3 de agosto de 2022, em Bangu 8, no Complexo Penitenciário de Gericinó, Zona Oeste do Rio.
Ele responde por homicídio doloso eventual, já que não tinha habilitação para moto e a pilotava a uma velocidade de 150km/h (o limite da via era de 60km/h).
Na segunda-feira (27), o STJ aceitou o pedido da defesa do modelo e o concedeu habeas corpus, afirmando que ele é réu primário e tem “bons atencedentes”.
O ministro Rogerio Schietti Cruz foi quem decidiu pela soltura, criticando ainda o fato de o modelo responder por homicídio doloso, mas entende que não cabe essa discussão no recurso atual.
Agora, Krupp, terá que cumprir medidas cautelares, tais quais: entregar o passaporte, comparecer mensalmente em juízo, ter seu direito de dirigir suspenso, além de estar proibido de tentar obter permissão ou habilitação para dirigir e fazer uso de tornozeleira eletrônica.
No protesto e emocionados, parentes de João afirmam que a liberdade de Bruno é um erro e consequência da boa condição financeira do modelo: “A sentença da Mariana foi dada aqui, nesta via. A única coisa que queremos é a prisão do Bruno, mas a justiça funciona diferente para quem tem dinheiro, para quem pode pagar por um bom advogado”, enfatiza Débora Cardim, tia de Mariana.
Após o crime
Desde que presenciou o assassinato do filho, Mariana Cardim mora com as tias e vive à base de remédios. Nunca mais conseguiu voltar para casa, intacta desde então.
Quando chegou na manifestação desta manhã, precisou ser carregada pela família. Trêmula, ela foi direcionada para um banco, onde levou aproximadamente 20 minutos para conseguir se acalmar.
Ela quem teve a ideia de fazer a manifestação no local do acidente, posto na Barra onde nunca mais voltou. Na Avenida Lúcio Costa, motos passavam sem parar e o barulho aumentava ainda mais o desespero de Mariana.
“Qual o nome do que fizeram com meu filho? Com a minha família? Com a minha vida? É enlouquecedora a dor de uma mãe que perde um filho. Mataram o João e agora estão tentando me matar ao soltarem o assassino dele”, diz.
Para o protesto, Mariana levou todos os remédios prescritos para controlar a pressão, a ansiedade e o estresse. No dia anterior, chegou a ser levada para o hospital após ter uma crise e não conseguir dormir, a pressão dela estava 20 por 10.
“Tem sido assim desde a morte do João”, revela Daniel Cardim, primo do estudante.
“Minha tia tinha crises como essas a cada cinco minutos praticamente. Não conseguia ficar em pé, estava sempre chorando e tomando remédios para se acalmar. O assassinato mudou a vida da minha família, tem sido horrível.”
Relembre
Uma das perícias realizadas na moto do modelo Bruno Krupp, que atropelou e matou o adolescente João Gabriel Cardim Guimarães, de 16 anos, apontou que o veículo atingiu, em dois pontos, ao menos, uma velocidade de 126,1 e 136,3 km/h.
O limite máximo permitido na via da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, é de 60 km/h.
!["Mataram meu filho e agora estão tentando me matar", diz mãe de João Gabriel em protesto contra soltura de Bruno Krupp](https://osegredo.com.br/wp-content/uploads/2023/04/acidentebruno.jpg.webp)
O adolescente e a mãe haviam acabado de sair de uma festa e pretendiam colocar os pés na areia antes de voltar para casa. João Gabriel tentou correr para o calçadão quando notou a moto em alta velocidade, mas não conseguiu atravessar, sendo atingido em cheio.