O entregador negro Max Ângelo dos Santos, 36, trabalha há um ano e meio em aplicativos e pedala diariamente na zona sul do Rio de Janeiro. No domingo (9), ele foi agredido por uma mulher e o caso ganhou repercussão nacional.
O que aconteceu
- A ex-atleta de vôlei e nutricionista Sandra Mathias Correia de Sá agrediu Max. Ela é aguardada pela 15ª DP (Gávea) para ser ouvida hoje.
- Imagens mostram Sandra puxando a camisa e dando socos no entregador. Ela pega a guia da coleira do cachorro e dá uma chicotada nas costas dele.
- A nutricionista mandou os entregadores voltarem para favela e os xingou de “lixo”, conta a vítima. As agressões teriam começado porque Sandra não gostou de ver os entregadores na calçada.
Eu fui muito humilhado. Quis me afastar e não quis revidar, mas se eu boto a mão nela, hoje eu estaria em [um presídio de] Bangu, porque ela iria alegar que eu a agredi. Não quero que aconteça com outra pessoa, quero justiça.” – Max Ângelo dos Santos, entregador
O trabalho é muito cansativo. Para vir alguém e me xingar? Não é certo. Eu saio de manhã todos os dias, em sol e chuva, e minha única fonte de renda é o aplicativo.”
Rotina como entregador
- Os aplicativos se tornaram a principal fonte de renda quando Max ficou desempregado. Antes, trabalhava como porteiro e fazia as entregas somente nas horas vagas.
- Para pagar as contas, Max conta que pedala no mínimo 12 horas por dia, podendo chegar a 16 ou 18 horas. O entregador diz que, no auge da pandemia, era possível faturar um bom valor em 5 ou 6 horas de trabalho.
- Sem moto, faz todo trabalho de bicicleta por São Conrado e adjacências.
Tem dias que vai a bairros mais distantes, em busca de mais movimento nas entregas.
Para mim é muito cansativo. Às vezes pego uma entrega muito longe, levo de 15 a 20 minutos para chegar e o mesmo tempo para voltar. Quando o movimento está fraco, vou pro Leblon, Ipanema, Copacabana ou Botafogo. De bicicleta é cansativo. – Max Ângelo dos Santos, entregador
Expectativa por justiça e menos racismo
- Max é casado e pai de três filhos, de 13, 12 e 8 anos de idade. As crianças viram o vídeo, mas ele diz que não teve uma conversa longa com os filhos ainda por causa da rotina de exames no IML, depoimento à Polícia Civil e entrevistas.
- O entregador decidiu publicar as imagens das agressões após uma noite inteira sem dormir. “Sabemos que o racismo não vai acabar, existem muitos racistas, mas se as pessoas denunciarem o que acontece, pelo menos pode diminuir”, disse.
- Ele conta que não quer nenhum acordo judicial, mas que Sandra pague integralmente pelos crimes sob investigação.
Continua perto da casa da agressora
- Após a repercussão do caso, ele segue no mesmo ponto de trabalho — perto da casa de Sandra — e não teme represálias. “Não pensei nisso [que ela pudesse se vingar], vou só ficar um pouco mais atento do que geralmente fico.”
- Max diz que recebeu apoio dos aplicativos em que está cadastrado, com suporte psicológico e o que mais ele precisar.
Todos nós podemos ser melhores, todos cometemos erros e temos nossas falhas. Mas acho que todos podem ser um pouco melhores. Não é porque tem dinheiro que pode humilhar outra pessoa que é de classe mais baixa, ou tem o tom de pele diferente do dela. Isso está completamente errado.”
!["Fui humilhado. Se revidasse, estaria preso", diz entregador agredido no RJ](https://osegredo.com.br/wp-content/uploads/2023/04/sandra-mathias-correia-de-sa-filmada-agredindo-entregadores-em-sao-conrado-no-rio-1681248342117_v2_450x600.png.webp)