Max Ângelo Alves dos Santos buscou, na manhã desta segunda-feira, a bicicleta elétrica que ganhou e foi direto para o trabalho. Esse é o primeiro dia que o entregador volta ao serviço após ser agredido pela ex-jogadora de vôlei Sandra Mathias, há uma semana. Durante o trajeto do Catete, onde retirou a bicicleta, a São Conrado, conta ter sido parado por diversas pessoas que demonstravam carinho e o apoiavam.
— Sempre trabalhei e estar voltando agora, depois de uma fase turbulenta, é muito bom. Fico feliz de reencontrar meus colegas aqui. A vida do entregador não para. Eu não consigo ficar parado, fico elétrico. Se eu ficar em casa muito tempo, começo a ficar agoniado — disse, com um sorriso no rosto.
Segundo ele, o retorno para o local onde as agressões acontecerem não trouxe nenhuma ansiedade ou medo de represálias:
— Sempre trabalhei aqui. Trabalho em várias áreas, mas foi aqui onde tudo começou. Fico muito feliz, o pessoal ali me recepcionou muito bem quando eu comecei. Hoje, dou muito valor a esse trabalho. Confesso que, há um tempo atrás, antes de começar, eu sentia vergonha, mas a necessidade supera qualquer coisa.
— Estou me sentindo bem melhor. Claro que não é uma coisa que a gente vai esquecer da noite para o dia, porque se trata de um assunto muito complexo. Eu sempre vou lembrar. É o que venho falando: quando acontece com outra pessoa, você vê, mas não enxerga. Mas quando acontece com a gente, a gente passa a ver aquilo com outros olhos — ponderou.
Relembre o caso
Vídeos que circulam nas redes sociais mostram o momento em que Sandra, que estava passeando com o cachorro, passou por alguns entregadores que trabalham em uma loja do bairro. Ela parou e começou a atacar verbalmente o grupo, dizendo para eles “voltarem para a favela”. Depois, ela tirou a coleira do cachorro e chicoteou as costas de Max Angelo.
Após a repercussão do caso, uma vaquinha virtual foi criada para ajudar Max a sair do aluguel e comprar uma casa própria para ele e sua família, cuja meta era arrecadar R$ 190 mil, superou as expectativas e em menos de 48 horas já passou de R$ 230 mil de mais de 7.200 doadores. A iniciativa tem o apoio do apresentador Luciano Huck e do ator João Vicente de Castro.
— Meu objetivo principal é comprar minha casa própria. Morar de aluguel é muito ruim. Minha família sempre morou de aluguel. Então, se eu puder e conseguir, e vou conseguir agora, graças a Deus e a ajuda de todas as pessoas — afirmou, em entrevista.
O que aconteceu com Max Ângelo?
- A professora de vôlei Sandra Mathias Correia de Sá desferiu ao menos quatro chibatadas contra o entregador Max Angelo Alves dos Santos no domingo, dia 9.
- Ao passar por entregadores, começou a atacar verbalmente o grupo, dizendo para eles “voltarem para a favela”.
- Max registrou duas ocorrências contra Sandra Mathias, que foi banida de plataforma de delivery após o caso.
- Após a repercussão, Max ganhou do iFood uma motocicleta e uma bicicleta elétrica.
- Uma vaquinha para entregador agredido por ex-atleta de vôlei comprar casa própria já arrecadou de R$ 100 mil em menos de um dia.
Ouvido novamente neste domingo, o entregador disse que não quer se precipitar e ainda não procurou nenhum imóvel. Ele está esperando a vaquinha ser concluída. Enquanto isso tenta voltar a vida normal. Contou que sua história sensibilizou muita gente, não só no Rio. Max contou que soube por meio de amigos da Rocinha quer estão vivendo no exterior, que a repercussão de sua história ultrapassou as fronteiras do país.
Ouvido novamente neste domingo, o entregador disse que não quer se precipitar e ainda não procurou nenhum imóvel. Ele está esperando a vaquinha ser concluída. Enquanto isso tenta voltar a vida normal. Contou que sua história sensibilizou muita gente, não só no Rio. Max contou que soube por meio de amigos da Rocinha quer estão vivendo no exterior, que a repercussão de sua história ultrapassou as fronteiras do país.
— Minha história sensibilizou todo mundo e fico feliz, porque foi algo que aconteceu da forma mais horrível. Não joguei o vídeo (da agressão) nas redes sociais buscando fama, mas justiça. Isso que está acontecendo é o reconhecimento de que nossa classe de entregadores vem sendo muito hostilizada. Fico triste que esse tipo de coisa (discriminação e racismo) ainda aconteça. Meu caso tem sensibilizado outras pessoas que foram vítimas de racismo. Quando elas me procuram digo que o problema não vai acabar, mas se denunciarmos, como fiz, poderá ajudar a reduzir.
O entregador também ganhou uma motocicleta e uma bicicleta elétrica na sexta-feira. Nas redes sociais, circula um vídeo no qual o entregador recebe as chaves da moto. Além disso, o rapaz contou que também está recebendo diversas propostas de emprego. Nessa segunda-feira, disse que comparecerá a uma entrevista de trabalho na Barra da Tijuca, mas preferiu não dar detalhes, para não atrapalhar.
— Quero continuar trabalhando, tento uma vida normal.
Até setembro do ano passado, Max trabalhava como porteiro em um prédio na Zona Sul. Paralelamente atuava como entregador de aplicativo. O que era para servir de reforço na renda acabou virando sua principal remuneração, com o desemprego. As entregas rendem em média R$ 1 mil, por mês. Somente o aluguel (R$ 600 mensais) e pensão dos filhos R$ 400), consomem integralmente esse valor.
Max tem usado seu perfil nas redes sociais para falar sobre o caso. Nas publicações, muitas mensagens de carinho e de apoio são enviadas por pessoas até mesmo de outros estados que souberam das agressões, após a grande repercussão na internet e em notícias. Já Sandra, tem recebido ofensas e xingamentos, não raro chamada de racista.
Mulher foi banida
A ex-jogadora de vôlei Sandra Mathias Correia de Sá, que agrediu entregadores em São Conrado, no domingo passado (9), foi banida do iFood. A empresa disse em nota que “não tolera ofensas ou agressões a entregadores e entregadoras nem manifestações de preconceito, assédio, bullying e incitação à violência”.
A empresa explicou que “também serão punidos com a suspensão ou o cancelamento da conta os clientes que demonstrarem atitudes que envolvam homofobia, racismo, intolerância religiosa ou política, machismo, capacitismo — ou qualquer ação cujo objetivo seja ferir física ou emocionalmente os entregadores e entregadoras”.
Relembre o caso
Vídeos que circulam nas redes sociais mostraram o momento em que Sandra Mathias Correia de Sá, que estava passeando com o cachorro por uma rua de São Conrado, bairro da Zona Sul do Rio, passou por alguns entregadores que trabalham em uma loja do bairro. Ela parou e começou a atacar verbalmente o grupo, dizendo para eles “voltarem para a favela”. Depois, ela tirou a coleira do cachorro e chicoteia as costas de um deles, Max Angelo dos Santos.
Após a agressão, o entregador foi à delegacia, prestou depoimento e passou por exames no Instituto Médico Legal (IML), onde foram confirmadas os hematomas causados pela agressão.
Na terça-feira, Sandra foi intimada a comparecer à 15ª DP (Gávea) por duas novas acusações: injúria e lesão corporal contra dois entregadores negros. A confusão, no último domingo, teria começado por insatisfação da mulher ao ver entregadores andando de moto na calçada em que ela passeava com o cachorro. A mulher já havia sido convocada para depor na quarta-feira passada, mas não compareceu. Sua defesa apresentou um atestado na ocasião, alegando que a sua cliente estaria machucada.