A Secretaria de Estado de Saúde divulgou nota, nesta terça-feira, lamentando o ocorrido com a cabeleireira e passista da Grande Rio, Alessandra dos Santos Silva, de 35 anos, que perdeu parte do braço esquerdo e o útero após operar para retirar mioma.
No texto, o órgão diz que a direção do Hospital Estadual da Mulher Heloneida Sutardart, em São João de Meriti, informou que a equipe da ginecologia da unidade definiu, “em conjunto com a paciente, esclarecendo pros e contras”, o procedimento necessário ao caso em questão. Essa versão é contestada por Alessandra:
— Como disse o tempo todo que queria ser mãe, o médico disse que faria de tudo para preservá-lo. Perguntei se havia outro risco (além de perder o útero). Mas ele alertou apenas que poderia haver sangramento. A única coisa que me disseram sobre risco foi isso. Agora, de perder o braço ninguém falou nada. Se disseram algo desse tipo é mentira. Não havia como dar complicação nenhuma porque não sou alérgica a medicamento nenhum — relatou a paciente que disse ter conversado com um único médico.
Segundo a passista, o único alerta que a ginecologista do hospital fez é de que ela estava com um mioma muito avantajado e isso ela já sabia. Por esse motivo estava querendo fazer a cirurgia. Contou ainda que todos os exames de risco cirúrgico foram feitos no Hospital da Mulher.
— Os exames não apontaram nenhum problema que impedisse a cirurgia. Querem dizer que me alertaram do risco da cirurgia para eu ficar com uma culpa que não é minha — reclamou a trancista.
Ela disse ainda que deixou o hospital com a barriga “infectada e com pele morta” e que precisou ser submetida a novo procedimento no Hospital Municipal Souza Aguiar para limpeza. Antes disso, chegou a passar por outras unidades, que teriam recusado a paciente. Ela reclamou ainda que em nenhum momento foi procurada pela unidade da Baixada.
— Só descobriram que eu estava viva por causa das reportagens — criticou.
Alessandra disse que pretende pedir indenização do Estado, porque era ela quem mantinha o sustento da casa com o seu trabalho, já que a mãe teve câncer de mama e o pai é aposentado. Ela contou que os amigos organizaram uma vaquinha virtual e é com esse ajuda que tem conseguido se manter.
— Eu era trancista implantista. Precisava do meu braço para trabalhar. Daqui para a frente foi precisar de ajuda do estado para me manter. Tem que me dar uma indenização, já que psicologicamente e fisicamente não vão conseguir me restaurar. Não consigo nem me olhar no espelho. Era noiva e nem sei se ainda sou. Sonhava ser mãe e destruíram isso. Era uma passista vaidosa. Não me vejo mais nem sambando sem o meu braço — desabafou.
A nota do Estado diz que “apesar de todo empenho da equipe, lamentavelmente, a evolução clínica da paciente foi desfavorável” e que no pós-operatório, foi identificada uma hemorragia interna. Para salvar a vida da paciente, segundo o texto, foi necessária a retirada do útero, transfusão sanguínea e administração de doses elevadas de aminas vasoativas, “que provocam o estreitamento dos vasos sanguíneos para manter a pressão arterial, mas que podem causar uma oclusão arterial como efeito adverso”. Levantamento preliminar do caso aponta que foi isso que aconteceu no braço da paciente, informou a nota.
Também por meio de nota, a Acadêmicos do Grande Rio informou que está acompanhando de perto o caso da sua passista e se solidarizou com a família. “Nos uniremos ao esforço de buscar justiça diante do ocorrido”, diz o texto. A família registrou queixa na 64ª DP (São João de Meriti).
Entenda o caso:
Em agosto, Alessandra começou a sentir dores e apresentar sangramento. Com o diagnóstico de miomas no útero, ela foi orientada a fazer a cirurgia para retirada. Em janeiro, ela recebeu ligação marcando a operação para 3 de fevereiro no Hospital Estadual da Mulher Heloneida Studart, em São João de Meriti. No dia seguinte, os médicos avisaram à família da paciente que seria preciso retirar o útero por completo. Na sequência, os parentes perceberam que os dedos da mão esquerda da cabeleireira haviam escurecido.
— Nem foto eles deixaram a gente tirar. Eu perguntei por que as mãos dela estavam enfaixadas. Disseram que é porque ela estava com frio, mas já estava necrosando os dedos. Eles esconderam — disse Ana Maria, mãe de Alessandra.
Em 6 fevereiro, a equipe médica comunicou que a paciente teria que ser transferida para o Instituto Estadual de Cardiologia Aloysio de Castro, em Botafogo. Segundo parentes, naquele momento, o braço da passista já estava todo escuro.
Após quatro dias, a família ouviu que “ou era a vida de Alessandra ou era o braço” depois de uma drenagem não dar certo, e autorizou a amputação. Além disso, a situação se agravou, e a passista ficou dois dias em coma, quando os rins e o fígado da paciente quase pararam de funcionar.
Alessandra teve alta em 15 de fevereiro, mas, 13 dias depois, quando foi examinar os pontos das cirurgias, o médico se assustou com o curativo na barriga e a encaminhou de volta para o Heloneida Studart. Traumatizada, a cabeleireira não quis retornar ao local onde começou seu drama e tentou vaga em cinco unidades até conseguir ser internada no Hospital Maternidade Fernando Magalhães, de onde acabou sendo transferida para o Hospital municipal Souza Aguiar, onde ficou de 4 de março a 4 de abril.
Confira o que diz a nota do Estado:
“A Fundação Saúde, que administra o Hospital da Mulher Heloneida Studart (HMulher), lamenta o ocorrido e informa que abriu sindicância para apurar o caso.
A direção do HMulher informa que a equipe da ginecologia da unidade definiu, em conjunto com a paciente, esclarecendo pros e contras, o procedimento necessário ao caso em questão. A paciente tinha um volumoso mioma uterino.
Apesar de todo empenho da equipe, lamentavelmente, a evolução clínica da paciente foi desfavorável. No pós-operatório, foi identificada uma hemorragia interna. Para salvar a vida da paciente, foi necessária a retirada do útero, transfusão sanguínea e administração de doses elevadas de aminas vasoativas, que provocam o estreitamento dos vasos sanguíneos para manter a pressão arterial, mas que podem causar uma oclusão arterial como efeito adverso. Levantamento preliminar do caso aponta que foi isso que aconteceu no braço da paciente.
Com a estabilização da paciente, foi possível a transferência para o Instituto Estadual de Cardiologia Aloysio de Castro (IECAC), unidade com equipe de cirurgia vascular, para o seguimento adequado do caso. Após esclarecimentos à família sobre a necessidade da amputação para salvar a vida da paciente, o procedimento foi realizado.
A direção do HMulher manteve contato constante com a direção do IECAC para acompanhar a evolução da paciente. Após a alta, a equipe do HMulher fez contato com familiares e foi agendada consulta para acompanhamento ambulatorial.”