O técnico de instalação em fibra ótica, que sofreu uma descarga elétrica de 13 mil volts durante a manutenção de um poste no bairro Vila São Paulo, em Bauru (SP), recebeu alta hospitalar e afirma que sobreviveu “por um milagre”.
Rodrigo Moraes da Silva, 40 anos, estava em estado grave no Hospital Estadual de Bauru e permaneceu em coma induzido por várias semanas devido aos ferimentos. Em uma entrevista ao UOL, ele relata que a recuperação tem sido extremamente difícil e que, devido às sequelas do acidente, ele mal consegue respirar adequadamente.
Em dezembro do ano passado, um vídeo circulou nas redes sociais mostrando o momento em que Rodrigo, funcionário de uma empresa terceirizada que presta serviços para uma provedora de internet, sofreu a descarga elétrica enquanto realizava uma manutenção na rede em Bauru (SP). É possível ver suas roupas pegando fogo durante o acidente.
Nas imagens, fica claro que Rodrigo desmaia e permanece inconsciente por um tempo. No entanto, à medida que suas roupas começam a queimar, ele recobra a consciência e, com grande esforço, consegue se soltar dos cabos elétricos e descer a escada.
“Esse foi o momento em que morri por alguns segundos. Na hora que levei a descarga elétrica, eu tinha na minha mente que eu já estava morrendo. Daí desmaiei. Nem sei como consegui me soltar e descer do poste. Foi um milagre eu ter voltado à vida, porque eu sei que o meu coração parou de bater por um tempo lá em cima.”
![Ele tomou choque surreal em poste: "Morri por segundos e perdi a orelha"](https://osegredo.com.br/wp-content/uploads/2023/06/rodrigo-chegou-ao-hospital-em-dezembro-do-ano-passado-com-queimaduras-graves-na-cabeca-e-em-quase-todo-o-corpo-1685377459546_v2_750x421.png.webp)
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EPI não resistiu
Rodrigo se lembra claramente do momento do acidente. Ele subiu a escada com um equipamento básico de proteção para trabalhar em um cabo de fibra ótica, que não apresenta risco de choque elétrico. No entanto, ele não esperava encontrar um cabo solto no poste, sem proteção, deixado pela empresa de energia elétrica.
“Foi nesse cabo que eu encostei, onde há uma carga elétrica de 13 mil volts. Ele deveria estar enrolado e protegido, mas estava exposto e eu não vi. Hoje não consigo dizer se a dor foi pior na hora do acidente ou agora, durante a minha recuperação.”
No vídeo que circulou, parece que Rodrigo não estava usando o EPI (Equipamento de Proteção Individual). No entanto, segundo ele, isso não é verdade. O capacete que estava usando, por exemplo, ficou completamente chamuscado, e a trava de segurança derreteu imediatamente após a primeira descarga elétrica e caiu no chão.
Segundo ele, as luvas isolantes não eram de boa qualidade, pois não impediram que a descarga elétrica o atingisse e acabaram pegando fogo. “Eu estava usando todos os EPIs fornecidos pela empresa, acreditando que eles me protegeriam. Mas eram de qualidade péssima”, declarou.
Rodrigo nasceu e cresceu em Bauru e está casado há três anos, pela segunda vez, com Viviane Cristina Silva, 45 anos, que trabalha como cuidadora. Ele tem dois filhos com sua primeira esposa. Até o dia do acidente, Rodrigo era o principal provedor da nova família e também cuidava de seis enteados.
Eu sempre fui muito trabalhador e assumi o papel de provedor desde muito cedo. Só que agora estou sem escolha. Depois de passar tantos meses no hospital, me deram alta sem eu ter melhorado. Eu tenho que tomar remédio para dor e também para não dar problema nos enxertos que tive que fazer. Não consigo andar direito, porque a pele e os músculos repuxam. Também não consigo respirar bem, fico o tempo todo soltando uma secreção escura.”
Rodrigo recebeu alta médica em 8 de abril, mas teve que retornar ao hospital em 12 de maio devido à insuficiência respiratória. Sem ter um plano de saúde ou seguro pago pela empresa, ele está recebendo todo o tratamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
![Ele tomou choque surreal em poste: "Morri por segundos e perdi a orelha"](https://osegredo.com.br/wp-content/uploads/2023/06/o-tecnico-ficou-com-cicatrizes-em-diversas-areas-do-corpo-e-ainda-perdeu-a-orelha-esquerda-1685377625710_v2_750x421.png.webp)
Perda da orelha
Além das dificuldades financeiras, é ao olhar-se no espelho que a autoestima de Rodrigo é verdadeiramente desafiada. Além das cicatrizes por todo o corpo, incluindo ombros, braços, tronco, pernas e rosto, o técnico também perdeu a orelha esquerda, que não pôde ser recuperada. Para restaurar sua aparência mais próxima do “normal”, seria necessário passar por várias cirurgias.
Na semana passada, ele iniciou sessões de fisioterapia na Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais). Ele afirma que chora todos os dias ao observar como seu corpo foi deformado pela força da eletricidade.
De madrugada, eu acordo gritando de dor. Minha mulher e meus enteados estão me ajudando no que podem, segurando uma barra bem pesada. Mas é difícil quando, além da dor física, você se dá conta de que não pode mais trabalhar como antes para pagar as contas. Para uma pessoa ativa como eu, é um processo muito difícil. Eu rezo para ficar bem logo. Mas posso garantir que nunca, mas nunca mais mesmo, vou voltar a trabalhar com instalação e manutenção de cabos. Não quero nunca mais precisar subir em um poste novamente.”
Ação judicial
Sentindo-se abandonado pela empresa para a qual trabalhava como prestador de serviços, Rodrigo contratou um advogado para mover uma ação por danos.
“No começo, a empresa pagava a condução da minha esposa e dos meus enteados até o hospital, mas dias depois pararam. Tive que me encostar no INSS e estou recebendo R$ 1.455 por mês. Só de aluguel pagamos aqui em casa R$ 1 mil. E o que sobra a gente compra de comida, por isso temos várias contas atrasadas”.
Para sobreviver com tão pouco e incapaz de trabalhar, Rodrigo está vendendo rifas online e dependendo da ajuda de familiares e amigos. Ele também recebe doações via Pix (chave celular 14991559707) e pelo Facebook.
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O advogado de Rodrigo, Paulo Ribas, explicou que a empresa terceirizada para a qual seu cliente trabalhava é pequena, e por isso a ação também envolve a empresa para a qual prestavam serviços.
Vamos pedir indenização por redução da capacidade laborativa e também por danos morais. Além dele nunca mais poder exercer a função que exercia, ele vai ficar muito tempo afastado, o estado psicológico dele foi abalado. O que me leva também a pedir reparação por dano estético”, disse Paulo Ribas, advogado de Rodrigo.
De acordo com a avaliação do advogado, houve falhas no treinamento de seu cliente para a função e na supervisão do trabalho. O valor da ação, explicou o advogado, refere-se ao salário integral mensal, que seria pago até a data de sua aposentadoria – equivalente a uma pensão vitalícia. No entanto, esse valor pode ser alterado após exames e avaliações exigidos pelo tribunal.