A família de Lívia Ramos de Souza, uma jovem de 19 anos, afirma que ela foi presa por engano durante uma operação da Polícia Civil no Centro do Rio, realizada em 5 de junho, contra um esquema de golpes de consórcio. Segundo a família, Lívia estava no escritório da empresa Icon Investimentos, apontada como alvo da ação, para participar de uma entrevista de emprego.
Lívia, que comparecia ao local pela primeira vez naquele dia e estava participando de um treinamento, teria sido detida erroneamente. Além dela, outros 17 jovens com idades entre 18 e 30 anos foram presos sob suspeita de envolvimento no esquema. Desde o dia da prisão, Cristiane Pinto Ramos, mãe da jovem e auxiliar de serviços gerais de 51 anos, afirma que não consegue entrar em contato com a filha.
De acordo com Cristiane, Lívia estava em busca de emprego após encerrar um contrato como jovem aprendiz e viu na empresa Icon Investimentos uma oportunidade de entrar no mercado de trabalho com carteira assinada. Ela seria contratada para vender consórcios e receberia comissões pelas vendas realizadas.
“Ela viu a vaga na internet, no site Infojobs. Chegando lá, já colocaram ela para fazer treinamento no computador. Não assinou nada, não chegou a fazer venda e não teve movimento de dinheiro entrando na conta dela, só estava treinando. Eu estava no trabalho, e quando foi 20 horas ela me ligou desesperada dizendo que estava presa”, explica.
Lívia chegou ao escritório por volta das 10h. Porém, às 14h, os policiais chegaram e prenderam todos os presentes, conforme relato de Cristiane. Horas depois, Lívia conseguiu entrar em contato com a mãe e pediu que ela fosse até a 58ª DP (Posse) para tentar libertá-la, mas sem sucesso.
Cristiane foi até a delegacia e teve sua última conversa com a filha. Depois disso, não conseguiu mais contato. Segundo a mãe, um advogado da empresa prometeu cuidar do caso de todos os jovens presos.
“Quando vi que nada estava acontecendo, que o habeas corpus foi negado e que ela não saiu na audiência de custódia, rapidamente separei um advogado particular para cuidar do caso da Lívia. O caso da minha filha é diferente, primeiro dia de emprego dela, não sabia nada sobre essa empresa. O juiz não libera ela, ninguém está entendendo”, disse Cristiane.
Além da mãe de Lívia, os familiares dos outros jovens presos na operação também afirmam a inocência deles. Nas redes sociais, alguns parentes estão exigindo justiça, alegando que eles não tinham conhecimento dos golpes e se candidataram às vagas pelo mesmo site utilizado por Lívia.
Além da mãe de Lívia, outros familiares dos jovens presos na operação também estão defendendo a inocência deles. Nas redes sociais, alguns parentes iniciaram uma campanha por justiça, afirmando que os jovens não tinham conhecimento dos golpes e se candidataram às vagas pelo mesmo site utilizado por Lívia.
Ubirajara Tavares, pai de Kyara Rabelo, uma jovem de 18 anos, declara que sua filha trabalhava no local há menos de um mês.
“É muito mole prender para investigar depois. Essa é a minha indignação. Eu estou há uma semana sem conseguir dormir, é só angústia. Criei minha filha dentro de casa, ela não era de rua. Sempre dei educação para ela, ela não tinha maldade. Eu sei como minha filha é, ela é muito inocente. Está difícil para caramba. Não sei expressar”, desabafa.
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18 presos em flagrante
De acordo com a Polícia Civil, as investigações foram iniciadas devido aos registros de múltiplas vítimas relacionadas à empresa. Durante as diligências realizadas no escritório, “18 pessoas que trabalhavam no local, naquele momento, foram presas em flagrante”.
A polícia informa também que foram apreendidos computadores, celulares e documentos, incluindo contratos em nome das vítimas, além de um roteiro utilizado para a prática do crime de estelionato.
O delegado responsável pela investigação, José Mario Salomão Omena, defende a legalidade das prisões em flagrante e afirma que o caso foi encaminhado ao Setor de Inteligência para uma investigação em grupo. O delegado ressalta que a decisão judicial menciona o tempo de trabalho de cada um dos envolvidos.
Segundo José Mario, mais de mil pessoas foram vítimas dessa empresa e estima-se que os ganhos obtidos por meio do golpe ultrapassem os R$ 3 milhões.
“Encontramos uma pessoa negociando um carro inexistente e encontramos o esquema funcionando. Nunca teve carro entregue. Enriquecimento ilícito. Antes, funcionaram em outro endereço, com outro nome”, relata o delegado.
A mãe de Lívia descreve os últimos dias como momentos de “aflição” e afirma que a filha é uma pessoa estudiosa e querida por todos que a conhecem.
“É uma menina estudiosa, terminou os estudos com 17 anos. Concluiu curso de administrativo em dois anos. Estudiosa, trabalhadora, carinhosa. Muito família, tranquila, educada e do lar. Uma menina meiga. Não tem nada que desabone a conduta dela. É cheia de amizades”, diz.
Procurada pelo GLOBO, a Secretaria de Administração Penitenciária (Seap) informou que Lívia está detida no Presídio Oscar Stevenson, em Benfica, e aguarda transferência. A secretaria ressalta que não houve “qualquer restrição de acesso legal à custodiada”.