Imagine descobrir que alguém causou danos ao seu filho. E se essa ação fosse um abuso sexual contra três crianças? Em 2014, Sarah Sands, uma mãe britânica de cinco filhos, viveu essa situação trágica e tomou a decisão de matar o abusador.
Ela foi condenada e presa pelo crime na época. Agora, oito anos depois, ela relembra os eventos em um novo documentário da BBC intitulado “Matando o abusador do meu filho“.
Antes de cruzar a rua para confrontar o homem de 77 anos, Sarah consumiu duas garrafas de vinho. Michael Pleasted estava em liberdade condicional, aguardando julgamento após ser acusado de abusar sexualmente dos três filhos dela. “Eu não sabia o que estava fazendo. Eu estava com medo e cometi um erro terrível. Ele não demonstrou medo – e não sentiu nenhum remorso”, lembra ela.
“Ele falava tipo: ‘Seus filhos estão mentindo’. Eu congelei. Eu não estava ouvindo a fala arrastada dele. Ele veio em minha direção. Eu estava com a faca na mão esquerda e ele tentou agarrá-la… Lembro de ter saído”, conta Sarah. “Eu não pretendia que fosse do jeito que foi. Eu não pretendia matá-lo. A polícia estava certa em fazer perguntas. Eu havia tomado a lei em minhas mãos”, acrescenta.
Inicialmente, a mãe explicou que sua intenção era apenas ameaçar o vizinho e fazê-lo admitir a culpa, para evitar que seus filhos tivessem que testemunhar no tribunal. No entanto, ela o matou.
Sarah foi condenada por homicídio culposo por perda de controle em 2015 e acabou cumprindo uma sentença de sete anos e meio, após ter sua pena aumentada pela Corte de Apelação. No entanto, foi libertada após quatro anos.
Para os filhos, a mãe se tornou uma heroína por matar o abusador, e eles se sentem “aliviados” pelo fato de ele não estar mais vivo. “Eu pensei, ‘tiro o chapéu’. Não vou negar”, declarou Bradley, que tinha 11 anos na época dos acontecimentos.
![“Matei nosso vizinho depois de descobrir que ele abusou sexualmente dos meus três filhos”, diz mãe](https://osegredo.com.br/wp-content/uploads/2023/07/Screenshot_117.jpg.webp)
Alfie, irmão de Bradley, afirmou que isso os fez sentir-se mais seguros. “Não diminuiu os pesadelos, mas deu uma sensação de segurança porque você não precisava andar na rua pensando que ele viria na esquina“, disse. “Ele morava literalmente do outro lado da rua. Eu poderia abrir aquela janela ali e ver a casa dele”, explicou.
Quando se mudou para um apartamento do conselho, localizado em frente a um parque infantil e uma escola, no leste de Londres, Michael Pleasted já tinha histórico criminal. No entanto, ele havia mudado de nome e seus crimes anteriores não eram conhecidos como crimes sexuais. Ninguém suspeitava de nada.
“Se você tocar em crianças, deve haver consequências. E se esconder atrás de mudanças de nome… isso tem que ser tirado deles. Esse direito de mudar seu nome deve ser tirado deles”, lamenta Sarah, que se emociona ao relembrar o assassinato e seu impacto em toda a família.
“Eu trago vida ao mundo. Nunca me ocorreu que eu seria culpada de tirar a vida do mundo”, refletiu.
Sarah Champion, deputada britânica, informou à BBC que alguns criminosos estão mudando de nome para evitar verificações criminais necessárias para empregos, inclusive aqueles que envolvem o trabalho com crianças. “Depois de mudarem de nome, eles podem obter uma nova carteira de motorista e passaporte com esse nome”, afirmou.
“E estamos descobrindo que essas pessoas estão indo para escolas e outros lugares onde há crianças e pessoas vulneráveis e explorando suas posições de confiança das maneiras mais horríveis”, completou.
O Ministério do Interior do Reino Unido declarou que já conduziu uma revisão do assunto e que o país possui regras rigorosas para lidar com criminosos sexuais que vivem na comunidade.
Como proteger as crianças da pedofilia?
Aqui estão algumas orientações de Daniela Pedroso, psicóloga do Hospital Pérola Byington:
– Explique que o corpo da criança pertence apenas a ela e que ninguém tem o direito de tocá-lo. Deixe claro que, se um adulto tentar fazer algo estranho, a criança precisa contar a você.
– Na maioria dos casos, o agressor é alguém conhecido. Se seu filho reclamar que não gosta de alguém com quem convivem, tente entender o motivo. “Muitas vezes, pode não ser uma fantasia”, diz Daniela.
– Mesmo que a maioria dos casos seja cometida por pessoas conhecidas, é importante ensinar seu filho a não conversar com estranhos.
– Uma das formas de abordagem dos agressores é através da internet. Portanto, se seu filho tem um perfil em uma rede social ou usa serviços de mensagens, não permita que dados pessoais sejam acessíveis a desconhecidos e evite postar muitas fotos.
Se você presenciar um episódio de violência contra crianças ou adolescentes, denuncie o quanto antes através do número 100, que está disponível todos os dias, em qualquer horário, seja através de ligação ou dos aplicativos WhatsApp e Telegram.
O mesmo número também atende denúncias sobre pessoas idosas, mulheres, pessoas com deficiência, pessoas em restrição de liberdade, comunidade LGBT e população em situação de rua. Além de denúncias de discriminação étnica ou racial e violência contra ciganos, quilombolas, indígenas e outras comunidades tradicionais.
Também é possível denunciar casos de maus-tratos e negligência a crianças e adolescentes nos Conselhos Tutelares, Polícias Civil e Militar e ao Ministério Público, bem como através dos números Disque 181, estadual; e Disque 156, municipal.