O renomado dramaturgo, diretor, ator e encenador José Celso Martinez Corrêa, ícone das artes cênicas brasileiras, faleceu nesta quinta-feira (6) na cidade de São Paulo, aos 86 anos. O Teatro Oficina, companhia teatral fundada por Zé Celso em 1958, confirmou a notícia.
“Tudo é tempo e contra-tempo! E o tempo é eterno. Eu sou uma forma vitoriosa do tempo. Nossa fênix acaba de partir pra morada do sol. Amor de muito. Amor sempre”, escreveu o Teatro Oficina em sua conta no Instagram.
Zé Celso, como era carinhosamente conhecido, havia sido hospitalizado na terça-feira (4) na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital das Clínicas após um incêndio em seu apartamento. Ele sofreu queimaduras em 53% do corpo, foi sedado, entubado e recebeu ventilação mecânica.
Além do dramaturgo, estavam presentes no apartamento de Paraíso, localizado na Zona Sul da capital, Marcelo Drummond, esposo de Zé Celso, Ricardo Bittencourt e Victor Rosa, juntamente com o cachorro Nagô. Os três, incluindo Nagô, foram mantidos em observação devido à inalação intensa de fumaça.
Quem foi Zé Celso
Nascido em 1937, na cidade de Araraquara, interior de São Paulo, o renomado dramaturgo é reconhecido por sua abordagem excêntrica e ousada na montagem de suas peças teatrais, sempre buscando provocar a plateia.
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Em junho deste ano, Zé Celso oficializou seu relacionamento de quase 40 anos com Marcelo Drummond, de 60 anos. Em uma cerimônia realizada no Teatro Oficina Uzyna Uzona, sede da companhia teatral fundada pelo próprio dramaturgo na região central de São Paulo, o casal trocou votos vestindo ternos brancos.
Zé Celso deu início à sua carreira no final dos anos 1950 com duas peças de sua autoria: “Vento Forte para Papagaio Subir” e “A Incubadeira”. Sua influência artística transcendeu os palcos e se estendeu ao cinema, com obras como “O rei da vela” e “25”.
Sem temer experimentações e sempre buscando a renovação, Zé Celso desafiou atores e público, criando um teatro mais sensorial, sempre conectado com a realidade política e cultural do país.
Ele frequentou a Faculdade de Direito do Largo São Francisco, onde se envolveu com o Centro Acadêmico. Embora não tenha concluído o curso, foi durante seus anos universitários que fundou o Grupo de Teatro Amador Oficina no final dos anos 1950.
Sempre inquieto e irreverente, Zé Celso se destacou por suas montagens colaborativas. Em 1961, o grupo encontrou uma sede na Rua Jaceguai, no centro de São Paulo, e se profissionalizou, dando origem ao icônico Teatro Oficina. Desde 1982, o Teatro Oficina é reconhecido como patrimônio histórico e a companhia é considerada uma das mais antigas em atividade no Brasil.
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Em 1964, Zé Celso apresentou a peça “Andorra”, marcando sua transição do realismo para um teatro mais crítico, inspirado no teatro épico de Bertolt Brecht, renomado dramaturgo alemão.
Durante esse período, Zé Celso viajou para a Europa para aprofundar seus estudos sobre Brecht. Após retornar, o diretor encenou a peça “Galileu Galilei” nos palcos do Teatro Oficina, com base na obra do autor alemão.
Improviso no palco, provocações na plateia
Em 1966, a sede do teatro foi destruída por um incêndio provocado por grupos paramilitares. Para reconstrução do espaço, o grupo levantou fundos fazendo remontagens de antigos sucessos no palco.
No final da década de 1968, Zé Celso levou ao Rio de Janeiro sua primeira peça fora do Teatro Oficina. Na ocasião, ele dirigiu o histórico espetáculo Roda Viva, de Chico Buarque, com um tom provocador. O espetáculo ganhou remontagem em 2019.
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Na peça, os atores incitavam a plateia fisicamente, iniciando algo que se tornou uma marca nos trabalhos do diretor.
Com os trabalhos seguintes, Zé Celso foi aumentando ainda mais os projetos sensoriais, que estimulam os atores ao improviso e colocam a plateia em uma posição secundária.
Essas iniciativas de Zé em transformar a relação entre o palco e a plateia chegaram a se transformar em um movimento chamado de te-ato.
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Exílio em Portugal
Os integrantes do Teatro Oficina foram perseguidos pelo regime militar. Em 1974, Zé Celso partiu para o exílio em Portugal depois de ficar detido por 20 dias e ser torturado. Durante o exílio, apresentou algumas peças e dirigiu o documentário O Parto, retornando para o Brasil em 1978.
Na década de 1980, Zé Celso ficou afastado dos palcos, se dedicando a pesquisas e a oficinas ministradas no espaço.