Durante 24 anos, o dentista brasileiro Daniel Felipe Cervelati do Amaral, 49 anos, desfrutou de uma vida tranquila e segura em Portugal. Contudo, ao retornar a São Paulo em fevereiro deste ano para visitar o pai doente, ele enfrentou uma tragédia: foi assassinado a tiros em um cativeiro do PCC (Primeiro Comando da Capital).
A Polícia Civil conseguiu identificar cinco sequestradores envolvidos no caso. Quatro deles foram capturados e, na última quarta-feira (26), condenados a mais de 40 anos cada um, pela juíza Carla de Oliveira Pinto Ferrari, da 20ª Vara Criminal da Capital. O mentor do crime ainda não foi julgado e permanece foragido.
Daniel chegou ao país em 10 de fevereiro e passou o Carnaval em Rondônia, na casa dos irmãos. No dia 16, veio para São Paulo para visitar o pai doente e acompanhá-lo em uma consulta médica. Entretanto, em 23 de fevereiro, ao sair de casa para encontrar amigos, o dentista desapareceu.
O dentista foi atraído por golpistas em um site de relacionamento e acabou sequestrado às 21h16 por uma quadrilha de criminosos associados ao PCC. Por cerca de 15 horas, a vítima permaneceu em cativeiro na Vila Brasilândia, zona norte de São Paulo.
Às 30 minutos do dia seguinte, Daniel foi coagido a ligar para os cuidadores do pai e inventar uma história: alegou ter sido parado em uma blitz policial e precisar urgentemente da carteira com os cartões bancários. Sob ameaças de morte, ele teve que informar que enviaria um motorista de aplicativo para buscar os pertences.
Os criminosos tinham o objetivo de obter os cartões da vítima para realizar transferências via Pix. No entanto, a carteira do dentista só foi entregue por volta das 7h. A primeira tentativa falhou, pois a família recebeu informações divergentes sobre o motorista, que se apresentou como José Carlos ao invés de Luan.
No cativeiro, os criminosos não conseguiram efetuar as transferências financeiras, mas realizaram diversas compras utilizando o cartão de crédito internacional de Daniel. Os ladrões revezavam-se para vigiar a vítima, com o propósito de mantê-lo em cativeiro por um longo período e esvaziar ao máximo suas contas.
Quatro tiros disparados
No dia 24 de fevereiro, por volta das 15h30, Paulo César Silva Ferreira, conhecido como Chupa Rato, um indivíduo processado três vezes por roubo, chegou à residência na Rua Virajuba, onde estavam seus comparsas Rafael Ourives Rodrigues, conhecido como Lion, e João Vitor Cardoso Baptista, também conhecido como Alemão, responsáveis por vigiar o refém.
De acordo com as investigações da Polícia Civil, o dentista, ao perceber que havia apenas um criminoso na casa, tentou escapar. Uma luta corporal entre Daniel e Paulo César se iniciou. O sequestrador, armado com uma pistola calibre 45, disparou três tiros no peito e um no abdômen da vítima.
Câmeras de segurança da rua registraram o momento em que o criminoso pulou o muro da casa que servia como cativeiro para fugir. A polícia foi acionada e encontrou o dentista gravemente ferido e agonizando no local.
Daniel revelou que havia sido vítima de um golpe e sequestro. Ele foi socorrido por uma Unidade de Resgate da Polícia Militar e levado ao Hospital Geral de Vila Penteado, na zona norte de São Paulo, mas infelizmente veio a falecer uma hora após o ocorrido.
Juíza elogia delegado
Após analisar as imagens das câmeras da rua Virajuba, os policiais civis conseguiram identificar a quadrilha envolvida no sequestro. Ederson Carvalho Barros, conhecido como Gordo, apontado como membro do PCC e mentor do crime, foi reconhecido nas imagens, mas continua foragido e ainda não enfrentou julgamento.
Paulo César foi detido e condenado a 44 anos de prisão. Anderson Rodrigues Ribeiro, também integrante do PCC e com extensa ficha criminal, foi acusado de abordar e levar o dentista ao cativeiro, recebendo uma sentença de 46 anos em regime fechado.
Rafael, considerado pela Justiça como criminoso reincidente, foi condenado a 47 anos e três meses de reclusão, enquanto seu comparsa João Vitor recebeu uma pena de 37 anos e nove meses.
A reportagem não conseguiu entrar em contato com os advogados dos réus, mas publicará na íntegra a versão dos defensores de todos eles assim que houver manifestação.
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Na sentença, a juíza elogiou o trabalho de investigação realizado pelo delegado Ronald Quene Juy Saia Justiano e sua equipe da 4ª Cerco (Central Especializada de Repressão a Crimes e Ocorrências Diversas), da Zona Norte, propondo anotações de reconhecimento nos prontuários de todos os envolvidos.