A mãe de Danilo Cavalcante, brasileiro foragido nos Estados Unidos, expressou sua preferência por ver seu filho morto do que se entregando à polícia americana. Em entrevista ao jornal The New York Times, ela afirmou que ele foi treinado para “sobreviver”.
O que aconteceu:
Iracema Cavalcante acredita que, frente à sentença de prisão perpétua, é melhor que seu filho morra agora.
Ela lamentou que, se a alternativa for “para ir para um lugar para sofrer e morrer naquele lugar, melhor antes morrer logo”.
“Não precisa sofrer tanto” acrescentou.
De acordo com a mãe, a trajetória de vida ensinou seu filho a viver de forma independente e enfrentar desafios.
“O treinamento dele foi sofrer”, declarou a mãe. “Ele ia dormir com fome” lembrou.
Com uma busca envolvendo mais de 500 policiais pelo brasileiro, a mãe admitiu que está perdendo as esperanças e agora “vê o filho como morto”.
Ao abordar a fuga de seu filho, ela assegurou que ele não representa uma “ameaça a ninguém”, apesar das afirmações da polícia dos EUA de que ele está armado.
Segundo ela, o filho está simplesmente “lutando para sobreviver”, assim como fez durante a maior parte de sua vida.
A mãe também mencionou que Cavalcante nunca frequentou a escola e começou a trabalhar aos cinco anos como engraxate de sapatos. Aos sete anos de idade, ele já estava trabalhando nas plantações da fazenda de outra pessoa.
“Éramos pobres. Somos humildes. Mas somos trabalhadores” acrescentou.
As autoridades da Pensilvânia afirmaram que a trajetória de vida de Cavalcante provavelmente tornou sua captura muito mais desafiadora.
“Não é surpresa para mim que ele consiga sobreviver lá” disse o tenente-coronel George Bivens, da Polícia Estadual da Pensilvânia, aos repórteres na semana passada.
Questionada a respeito dos delitos cometidos por seu filho, a mãe não apresentou objeções.
No entanto, ela argumentou que, em ambas as situações, ele teria sido “encurralado”, insinuando que sua ex-namorada ameaçou denunciá-lo às autoridades e que o homem que ele fatalmente atirou em 2017 tinha a intenção de matá-lo primeiro.
“Isso aconteceu? Aconteceu” afirma Iracema Cavalcante.
“Mas aconteceu por causa do sufoco que ela impôs a ele, da postura que ela teve com ele.”
Ela complementa:
“Não foi feminicídio. Ele fez obrigado, ele não teve outra saída.”
Contudo, ela ressaltou que Danilo deve responder pelas implicações de seus atos. No entanto, expressou que vê a sentença de prisão perpétua como “injusta”.
“Se eu disser que meu filho não errou, eu estou mentindo. Eu sei que meu filho errou. Eu sei que meu filho deveria pagar pelo erro dele” disse ela.
“Mas eu queria que meu filho pagasse pelo erro dele com honestidade. Não pagar com a vida dele.”
A mãe esclareceu que, caso pudesse enviar uma mensagem ao filho neste momento, não seria um pedido para que ele se entregasse, mas sim um desejo de que “ele peça a Deus que o perdoe pelo que fez”.
Entenda o caso
Danilo Cavalcante recebeu uma sentença de prisão perpétua no dia 22 do mês passado por assassinar sua ex-namorada, Déborah Brandão, na época com 34 anos, utilizando facadas.
Ambos são brasileiros, no entanto, o crime aconteceu na cidade de Phoenixville, no estado da Pensilvânia (EUA).
O brasileiro conseguiu fugir da prisão do condado de Chester na manhã de 31 de agosto, sendo identificado como um indivíduo de extrema periculosidade.
De acordo com a promotoria, Danilo, diante dos filhos dela, de 4 e 7 anos, cometeu o homicídio a facadas da mulher, levando-a à morte. Isso aconteceu em abril de 2021, e o ato violento foi motivado pela recusa em aceitar o término do relacionamento do casal.
Após o ato criminoso, Cavalcante fugiu para o estado da Virgínia, porém, menos de duas horas depois do assassinato, foi detido pela polícia local.
Sarah Brandão, irmã de Deborah, contou ao UOL em 2021 sobre a dinâmica do que ocorreu:
“Foi enquanto ela pegava as compras do supermercado no carro dela, com as crianças. Ele pegou ela pelo cabelo e a golpeou no tórax, deixando as crianças verem tudo”.