A esposa de Perseu Ribeiro de Almeida, um dos médicos mortos a tiros na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, teria pedido ao marido para ficar no hotel e evitar a exposição aos perigos da cidade.
Em entrevista ao O Globo, Verônica Gomes Almeida relata que foi “quase como um pressentimento”. Além da esposa, com quem era casado há cinco anos, o ortopedista deixou uma filha de 3 anos.
Conforme a entrevista, o casal concordou que o profissional não sairia para passear pela cidade, especialmente devido à violência que observavam pelo noticiário. Ela teria mantido essa promessa, pois foi a um quiosque próximo ao hotel onde estavam hospedados. Naquela noite, Perseu foi brutalmente assassinado.
Eles conversaram pouco antes do crime, quando o médico enviou uma foto com amigos e colegas de profissão.
“Eu disse: ‘que Deus te acompanhe, te proteja e guie seus passos’. Pouco antes de sair para beber, ele brincou comigo e mandou foto da Rocinha, dizendo estar indo para lá. Depois disse que ia tomar banho e que estava com o celular na banheira. Falei que aquilo era perigoso e ele respondeu: ‘Deus me livre tomar banho com o celular e morrer de choque na banheira’”.
A representante farmacêutica relatou que tentou entrar em contato com o marido na manhã de quinta-feira, 5, sem saber o que havia acontecido.
Perseu não respondeu à sua última mensagem, e ela tentou ligar para o quarto de hotel através do Instagram, mas não obteve resposta. Foi pela imprensa que ela ficou sabendo que a polícia acredita que ele pode ter sido confundido com um miliciano.
Não foi avisada pela polícia
Quando recebeu a notícia do crime, ela inicialmente pensou que o marido havia sido morto por usar a camisa do Bahia, seu time do coração, mas a situação era muito mais grave. Uma das linhas de investigação sugere que o médico foi confundido com o miliciano Taillon de Alcântara Pereira Barbosa.
Na ocasião do crime, a filha deles estava em Salvador (BA) com a tia de Verônica. A própria mulher tinha planos de viajar para lá, mas teve que alterar seus planos.
“Tive que buscar o corpo do meu marido no aeroporto. Fiquei sabendo pelo noticiário. Ninguém me ligou. A polícia não ligou. O hotel e o evento não ligaram. Ninguém entrou em contato comigo. Por isso, tomei um susto. Minha sogra também não estava sabendo. Não julgarei o hotel e o evento. Agora, imagina se pego meu celular e observo a foto?” questionou.
O filho mais velho de Perseu, de 11 anos, tem ciência do falecimento do pai, enquanto a filha mais nova, de 3 anos, ainda não foi informada.
“Terei que me ressignificar porque tenho uma filha de 3 anos que fica perguntando pelo papai dela. Ela não sabe que o pai está morto, e eu não sei como contarei isso para ela”.
De acordo com Verônica, a filha mais nova olha para a foto do pai e pede para vê-lo pessoalmente.
“Minha filha crescerá, e o pai não estará do lado”.
“Ele não vai mais chegar em casa. Se mandar mensagem, ele não responderá mais. No final dessa guerra, todo mundo sai perdendo. As mães daqueles criminosos que morreram vão sair chorando assim como eu. Elas não têm culpa do caminho escolhido pelos filhos. Nada disso vai trazê-los de volta. Meu marido estava feliz porque estava com os amigos participando de um congresso que ele queria muito. Eu me solidarizo com a família dos amigos deles porque eles estão sentindo a mesma dor que está me devastando. Fui dormi naquele dia e, cinco horas depois, quando acordei, minha vida mudaria completamente” finaliza.
Relembre o caso
Os quatro médicos, sentados no quiosque naquele momento, foram alvos de atiradores que chegaram em um carro branco, aproximadamente às 1h. Imagens das câmeras de segurança do local mostram o carro parado na avenida próxima à praia.
Os ocupantes do veículo, todos vestindo roupas escuras, saem do carro e se dirigem às vítimas, iniciando os disparos. O ataque causa pânico entre as pessoas presentes no quiosque. Após a execução, o grupo corre de volta para o carro, que parte em direção desconhecida.
Tadeu de Lima Barbosa, proprietário do quiosque, relatou que as vítimas estavam se preparando para sair e já haviam acertado a conta no momento em que o crime aconteceu.
Além de Perseu, os médicos Diego Ralf de Souza Bomfim, de 35 anos, irmão da deputada federal Sâmia Bomfim (Psol-SP), e Marcos de Andrade Corsato, de 62, também perderam a vida no ataque. O quarto médico presente era Daniel Sonnewend Proença, de 32 anos, que foi o único sobrevivente do atentado.