Um homem conhecido como Frank, autodeclarado ex-membro do PCC (Primeiro Comando da Capital), a maior facção criminosa do país, criou um perfil em uma rede social com a intenção de partilhar informações sobre a organização, alegadamente para conscientizar os jovens.
A primeira postagem ocorreu no dia 16 de outubro e já atingiu mais de 295 mil visualizações.
Frank alega que está sob ameaça de morte desde que deixou seu posto na “sintonia”, a divisão encarregada de tomar decisões e emitir ordens a outros membros da facção. Desde então, ele se mudou e se escondeu em várias casas.
Veja o vídeo abaixo:
“Eu era a sintonia geral da lista negra dos estados internos e externos. Tinha planilhas, dados de muitos integrantes. Sei como funciona, então não aceitaram que eu saísse” esclarece.
O ex-membro da facção declara que produziu os vídeos devido à falta de algo mais a perder.
“Vou morrer de qualquer jeito, daqui a pouco vão deixar outro cara igual a mim no lugar, outro Frank, que com 16 anos viu no crime uma oportunidade de ganhar dinheiro e sustentar a família” declara.
O homem relata que, aos 31 anos de idade, depois de ascender a vários postos dentro da facção até alcançar uma posição de liderança, chegou ao ponto de se cansar da constante sensação de medo, da necessidade de portar armas e de dormir apenas durante o dia.
Ele também esclarece que, quando ingressou no PCC, acreditava no estatuto e na “revolução” que a facção propunha.
Drogas, luxo e política: qual é a realidade?
Frank nega que tenha traído a facção ao longo de sua “carreira”, mas pondera que talvez esteja agindo dessa maneira atualmente devido à sua percepção de que era necessário revelar a realidade.
De acordo com o ex-membro, o PCC não se limita ao retrato exibido em videoclipes de MCs, caracterizado por “muito dinheiro, luxo e diversão”, nem à representação da relação da facção com o tráfico de drogas feita pela polícia.
“Eles estão até dentro da prefeitura, tem senador e prefeito integrante. Vereador, então… é o que mais tem” conta.
Para Frank, o PCC representa uma esfera política, em contraste com o Comando Vermelho, que se envolve em atividades armadas devido à sua inclinação para o conflito.
“É tipo um sistema político, uma revolução. Foi nisso que acreditei, mas depois começaram a batizar menor de idade, comecei a ter que ficar isolado em chácaras, ir para o Paraguai, ficar longe da minha família, dos meus filhos” comenta.
Mas dá para sair do PCC?
Especialistas que investigam a facção por anos geralmente afirmam que a saída do PCC, na maioria das situações, resulta em morte. No entanto, Frank expõe que existem duas maneiras de deixar a organização: ser diagnosticado com uma doença que impeça a realização de suas tarefas ou se converter à igreja.
De qualquer forma, o ex-integrante da facção passa a ser monitorado pelos antigos colegas.
“Foi para a igreja e está fumando cigarro, maconha, frequentando baile funk ou bebendo, vai ser cobrado” relata.
Com emoção, Frank destaca que um dia foi uma criança, um ser humano bondoso, mas que se deixou corromper.
“Não quero ser a vítima. Meus motivos foram o caminho fácil, falta de vergonha na cara e de ouvir meu pai e minha mãe.”