O médico proctologista Paulo Augusto Berchielli, com 63 anos, enfrenta acusações de ter estuprado no mínimo quatro pacientes em sua clínica localizada no Tatuapé, na zona leste de São Paulo.
Duas das vítimas relataram os abusos após terem passado por cirurgias de hemorroida. O cirurgião encontra-se em fuga desde que a Justiça emitiu um mandado de prisão por tempo indeterminado.
Nesta quarta-feira (25/10), o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) informou que está conduzindo uma investigação sobre “o profissional em questão”. No site do Cremesp, o registro profissional do médico, que está foragido da Justiça, ainda é listado como ativo.
Uma das vítimas, uma enfermeira de 47 anos, relatou ao Metrópoles que sofreu um estupro por parte do médico logo após ter passado por uma cirurgia de hemorroida, em agosto do ano anterior.
“Eu estava ainda grogue, por causa da anestesia. Mas lembro, em flashs, dele me colocando de bruços na maca e minha cabeça batendo na parede. Vomitei. Depois de um tempo, vi que ele limpava o pênis em uma pia ao lado da maca.”
Antes do abuso, o médico teria administrado mais medicamentos à vítima. A enfermeira também mencionou que, devido ao excesso de remédios, “apagou” quando chegou em casa na sexta-feira, só recuperando a consciência no domingo.
“Quando acordei senti uma dor terrível na região do ânus. Ele me abusou no local onde havia feito a cirurgia. Fui em seguida na delegacia, para registrar um boletim de ocorrência.”
Por estar ainda vestindo a mesma roupa que usava quando saiu da clínica do Dr. Berchielli, o vestuário foi recolhido por policiais da 5ª Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) no Tatuapé e encaminhado para exame pericial.
Sumiço de calcinha
A vítima relatou que sua calcinha “desapareceu” da delegacia. Ela notou isso após a conclusão dos exames periciais em seu vestido, que resultaram como negativos.
A enfermeira acrescentou que foi até a 5ª Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) para indagar sobre o desaparecimento da peça íntima e alegou ter sido “humilhada” por duas escrivãs.
“Uma delas perguntou para a outra se ela estava com calcinha, e tirando uma da minha cara porque eu perguntei sobre a minha, que tinha desaparecido.”
A calcinha, finalmente, foi encontrada junto com os resultados periciais, cerca de um ano e meio depois, quando o Ministério Público de São Paulo (MPSP) apresentou uma acusação contra o médico e requisitou os laudos.
O laudo da calcinha revelou a presença de sêmen, com resultado positivo.
A Secretaria da Segurança Pública (SSP) de São Paulo não emitiu comentários sobre a alegada conduta dos policiais da 5ª Delegacia de Defesa da Mulher (DDM), assim como informações atualizadas sobre as investigações envolvendo o médico. O espaço permanece disponível para atualizações.
Comerciante relata abuso
Uma comerciante de 46 anos alega ter sido vítima de abuso sexual pelo médico Paulo Augusto Berchielli em 6 de junho deste ano, logo após passar por uma cirurgia de hemorroida.
Após a intervenção, a vítima “acordou com muitas dores no ânus e vagina”. As dores persistiram por aproximadamente uma semana.
A comerciante compareceu a três consultas de acompanhamento após a cirurgia. Em uma dessas consultas, o médico teria solicitado que ela “dar uma voltinha”. Isso deixou a vítima com as “pernas trêmulas” e sem saber como “sair daquela situação”.
Ao tentar subir na maca, a mulher alega que o médico teria encostado o pênis em suas nádegas.
“Ele ainda apalpou minhas nádegas com o pretexto de ajudar a subir na maca”.
A comerciante ainda observa que, “em todos os exames”, o médico rasgava o dedo indicador das luvas. Ela suspeita que ele fazia isso para manter “contato físico entre o dedo e a parte íntima” da vítima.
Defesa e Cremesp
O advogado Daniel Leon Bialski declarou, em comunicado enviado ao Metrópoles, sua recusa em relação às acusações feitas contra o médico e negou as mesmas.
O advogado também afirmou estar fortemente convencido de que a inocência do cirurgião “será comprovada durante o processo”.
“Declaramos, ainda, que sua atuação sempre se pautou pela ética e respeito a seus pacientes, sendo reconhecido pela reputação ilibada conquistada ao longo dos mais de 40 anos de carreira, na qual atendeu e realizou procedimentos em milhares de pacientes, sem qualquer intercorrência ou acusação semelhante” comunicou.
O Cremesp declarou estar conduzindo uma investigação sobre o cirurgião, “sob sigilo determinado por lei”.
“O Conselho esclarece, ainda, que, até o momento, não foi notificado oficialmente sobre o mandado de prisão” declara o órgão.