A tutora de um cachorro, morto por um tiro na cabeça durante uma ação da Polícia Militar do Distrito Federal, afirma que o animal não apresentou comportamento agressivo e nem latiu para o policial.
O incidente ocorreu na última quinta-feira (9) no Núcleo Bandeirante (DF). A PMDF alega que o cão avançou e que o policial “não teve outra opção”.
O que aconteceu
A responsável pelo animal afirma que os policiais adentraram o quintal. De acordo com Leslye Silva Santana, 26 anos, a situação ocorreu de forma rápida. Enquanto se trocava para ir trabalhar, ela percebeu a presença de policiais no quintal, sem solicitar autorização para adentrar o terreno, conforme alega.
Ela afirma que o cachorro não apresentou comportamento agressivo. “Minha mãe e o Bradock saíram de casa para ver o que estava acontecendo. Ele apenas cheirou o policial, como sempre faz. Não latiu, não avançou. Ele era extremamente dócil”, relatou.
A tutora alega que o policial tropeçou e matou o cachorro. “Nesse momento, o policial sacou a arma e minha mãe gritou dizendo que ele não era pitbull, mas sim um American Bully. O policial começou a andar para trás gritando ‘perigo, perigo’, até que ele tropeçou, caiu e alvejou meu cachorro. E, no fim, não acharam nada suspeito aqui em casa.”
O cão pertencia à raça American Bully, tinha um ano e dez meses e era de porte pequeno. “O Bradock chegou em nossas vidas por meio do meu irmão. Ele chegou tomando conta da nossa casa e depois do nosso coração. Nossa vida mudou para melhor com a chegada dele. Era nosso amigo, nosso companheiro, parte da família”, relata a atendente.
Um vídeo gravado por moradores evidencia o desespero de Leslye ao ver o cachorro no chão, sem vida.
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Moradores afirmam que não houve explicação. “Eles saíram sem pedir desculpas, sem dar uma explicação, nada. Depois voltaram na nossa casa, entraram novamente sem autorização e tentaram levar o Bradock. Mas colocamos um cadeado no portão e não deixamos ninguém entrar, até a chegada da perícia”, afirma Leslye.
A PMDF realizava uma operação no Núcleo Bandeirante em resposta a uma situação de tráfico de drogas. Durante a abordagem, um homem teria lançado um pacote suspeito dentro do lote onde reside a família do cachorro. Uma parte da equipe policial entrou na casa.
A polícia alega que “não teve outra opção”. “Nesse momento, um cão, aparentemente da raça pitbull, veio em direção a um dos policiais, que tentou voltar, mas acabou caindo. Diante do avanço do animal em direção ao seu rosto, o policial militar não teve outra opção a não ser efetuar um disparo”, declarou a PMDF, em nota.
Ainda de acordo com a polícia, o suspeito por tráfico recebeu auxílio para fugir. “Logo em seguida do fato, dezenas de pessoas cercaram os policiais militares, impedindo que o indivíduo fosse detido e atrapalhando o desfecho da ação policial. Oito pessoas foram conduzidas à 21ª Delegacia de Polícia por desacato e por impedirem o trabalho da Polícia Militar”, informou o comunicado. No entanto, a família contesta essa versão.
O corpo de Bradock será submetido a análises. Para esclarecer os acontecimentos, o corpo do animal será encaminhado ao Instituto de Patologia da Universidade de Brasília (UnB) para necropsia, incluindo a retirada da bala.
A vice-presidente da Comissão de Defesa dos Animais da OAB-DF, Ana Paula Vasconcelos, afirmou ao UOL que a ordem acompanhará de perto o caso para garantir a devida apuração dos fatos.
“Trata-se de um crime brutal e não podemos normalizar a violência, tendo como primeira opção dar um tiro fatal na cabeça de um animal. Se ele tivesse sido atacado, a primeira coisa que ele teria de ter feito era ir ao IML para fazer exame de corpo de delito e comprovar isso no inquérito policial.” Ana Paula Vasconcelos, da Comissão de Defesa dos Animais
A família formalizou um boletim de ocorrência na 21ª Delegacia de Polícia, situada em Taguatinga.
“Vamos entrar na Justiça contra a Polícia Militar. Queremos que eles paguem pelos atos deles. Tem sido tudo muito difícil, principalmente ao voltar para casa. Ele sempre estava lá, esperando a gente. Muito alegre, pulando, pedindo carinho. A ficha ainda não caiu.”
Promotoria solicita investigação. Na sexta-feira (10), a 3ª Promotoria de Justiça Militar do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) requisitou à Corregedoria-Geral da Polícia Militar a abertura de inquérito para investigar o caso.