Uma mulher determinada e que exercia suas funções com seriedade na estrutura da 8ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar (DPJM). É assim que colegas de profissão caracterizam a Cabo PM Vaneza Lobão, de 31 anos, vítima de um assassinato na sexta-feira à noite, em frente de casa, em Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio.
Com 10 anos de serviço na Polícia Militar e diploma em Direito, Vaneza recebeu a condecoração com o distintivo “Lealdade e constância” pela corporação e obteve nota máxima no curso especial de formação de cabos.
“Estamos devastados. Estava em casa quando soube da notícia, não acreditei. Minha irmã sempre foi muito tranquila, idônea. Nunca soube de ameaças, ou se ela tinha inimigos. A gente tinha receio pela profissão que ela exercia, mas nunca imaginei que ela poderia ser vítima de uma tragédia” diz, emocionada, Andreza Lobão, irmã mais velha da policial.
A descrição feita pela irmã, que a define como “tranquila, idônea”, coincide com informações obtidas pelo Globo junto a colegas de farda. A policial desempenhava suas funções em serviços internos de inteligência na 8ª DPJM e não participava regularmente de operações de campo.
As duas principais hipóteses para explicar a motivação do crime, até o momento, são: retaliação dos criminosos devido ao trabalho realizado pela policial, que investigava a atuação de milícias, ou a suspeita de milicianos de que ela estaria repassando à corporação informações sobre a movimentação dos criminosos na rotina da localidade onde residia.
Instituídas na época áurea das Unidades de Polícia Pacificadora, as DPJM hoje se dedicam, essencialmente, à investigação da participação de policiais tanto em milícias quanto no jogo do bicho.
Segundo colegas de Vaneza Lobão, a policial raramente participava de operações na rua. Conforme a família, o enterro está marcado para domingo, às 16h, no Jardim da Saudade de Sulacap.
Tiros na porta de casa
Era por volta das 21h30 da última sexta-feira, dia 24, quando a policial militar Vaneza Lobão, de 31 anos, já em um momento de folga, estava pronta para ir à academia e foi alvejada por tiros de fuzil na porta de casa em Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio.
“Às vezes ela ouvia dos parentes perguntas como: “Por que você não muda de área? É muito perigoso”. Mas o militarismo era o que ela mais amava. Ela falava do futuro por lá.”
No entanto, nem tudo se resumia ao trabalho. Vaneza era apaixonada por futebol e pela esposa, Thais, com quem compartilhava uma casa e a vida.
“Ela não comentava de investigações ou rotina de trabalho conosco. Era policial lá dentro. Aqui fora, era a nossa Vaneza. Gostava de jogar bola e sempre foi muito ligada à família. Dedicada até demais”, diz Andreza, novamente em lágrimas.
Polícia prende miliciano
No início da madrugada deste sábado, dia 25, o 27º BPM da Polícia Militar prendeu um miliciano no loteamento Madean, também em Santa Cruz. A ação ocorreu durante as diligências em busca de suspeitos relacionados ao caso da morte de Vaneza Lobão. Com ele, foi encontrada uma arma de fogo, que foi apreendida.
Segundo informações do Disque Denúncia, com a morte da policial, o número de agentes mortos em ações violentas no estado do Rio de Janeiro em 2023 sobe para 52. Desses, 46 são da Polícia Militar, três são Policiais Penais, um é da Polícia Civil, um do Corpo de Bombeiros e um da Guarda Municipal.
Governador determina celeridade na investigação
O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, utilizou as redes sociais para expressar pesar pela morte da policial militar Vaneza Lobão, vítima de tiros em frente à sua residência, em Santa Cruz, Zona Oeste do Rio. Ele acrescentou que ordenou rapidez nas investigações do caso.
“Me solidarizo com a família da nossa policial militar Vaneza Lobão, que foi brutalmente assassinada ontem. Há indícios de que sejam milicianos, o qual ela investigava, ela fazia parte da nossa corregedoria. E eu determinei que a resposta fosse rápida e dura. Nós não deixaremos que policiais, que fazem o seu trabalho bravamente, corram o risco e fiquem a mercê dessa bandidagem. Pode ser miliciano, traficante, estamos combatendo e iremos atrás. Só vai aumentar cada dia mais a nossa vontade de botar esses criminosos na cadeia.”
Flávio Dino oferece ajuda da PF
Em uma postagem nas redes sociais, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, expressou pesar pelo assassinato da PM Vaneza Lobão, ocorrido na noite de sexta-feira em Santa Cruz, Zona Oeste do Rio. Ele declarou ter solicitado à Polícia Federal que auxilie nas investigações do caso.
Na postagem, o ministro lamentou “o terrível crime cometido contra a policial Vaneza Lobão, no Rio de Janeiro”, ofereceu solidariedade à família e “aos colegas da corporação” e afirmou ter orientado “a Polícia Federal a ajudar nas investigações, de competência das autoridades estaduais”.