A ex-esposa do policial militar detido por matar a esposa a tiros na zona norte de São Paulo afirmou ter vivido uma relação de uma década permeada por agressões.
“Se me denunciar, eu te mato”
“Era agredida com socos nos braços e nas costas, para que eu pudesse esconder as marcas com a roupa. Quando eu falava em denunciar, ele dizia: ‘Se você me denunciar, eu te mato’. Em outras, respondia: ‘Sou policial, você não é nada. Quem vai acreditar em você?’. Ele até já se ofereceu para me levar à delegacia, dizendo que eu iria passar vergonha lá.”
“Hoje, a palavra que me define é ‘medo’. Ele me agredia muito. Se não tivesse dado basta, teria sido eu.”
“Numa discussão no ano passado, ele começou a ficar agressivo, aí, eu disse: ‘Se quiser ir embora, pode ir’. Eu já estava quase desmaiando e vi tudo escuro por causa da falta de ar. Ele só não me matou porque o nosso filho chegou ali. Aí, ele cuspiu no meu rosto e foi embora.”
“A gente se conheceu em uma igreja evangélica e, na época, ele trabalhava como assistente financeiro de uma empresa. Ele só começou a beber e a se tornar violento depois que entrou para a PM, em novembro de 2014.”
“Depois que nos separamos [em maio de 2022], ele só viu três vezes nosso filho de 7 anos. [O menino] ficava sentado no sofá com a mochilinha pronta, esperando pelo pai que nunca chegava. Nem imagino como vou contar para ele um dia [sobre o assassinato cometido pelo pai]” Técnica de enfermagem de 32 anos que foi casada com o PM Thiago Cesar de Lima.
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Ex-mulher obteve medida protetiva contra policial
O policial Thiago Cesar de Limas, 36 anos, enfrenta um processo por agredir a ex-mulher, que está sob segredo de Justiça. Ao ser questionada, a técnica de enfermagem afirmou que não poderia fornecer detalhes sobre o caso e solicitou à reportagem que não a identificasse.
A equipe de reportagem do UOL obteve acesso ao boletim de ocorrência que originou o processo. No documento, a ex-mulher do policial militar descreve uma sequência de agressões e estupros que ocorreram durante o período em que estiveram casados.
Após o divórcio, ela relatou à polícia que motociclistas circulavam na área onde residia em busca de informações sobre ela. A ex-mulher solicitou à Justiça uma medida protetiva que determina que o PM mantenha uma distância de 100 metros dos lugares em que ela se encontra.
O que se sabe sobre o caso
Lima assassinou sua esposa, Erika Satelis Ferreira de Lima, com tiros à queima-roupa após agredi-la a socos no domingo. Em seu depoimento, ele alegou ter atirado após ela tentar desarmá-lo, uma versão contradita por imagens de câmeras de segurança.
O vídeo mostra que Erika já estava incapacitada de reagir quando o soldado disparou três vezes contra ela. Em meio a uma aparente discussão, ela havia tentado puxá-lo para fora do banco traseiro do carro, onde estavam estacionados na rua Bananalzinho, em Perus, zona norte da capital paulista.
O atirador levou sua esposa ao Hospital Geral de Taipas, onde a sua morte foi confirmada. O PM, que estava de folga no momento do crime, foi detido em flagrante por feminicídio e teve sua pistola apreendida.
Após a prisão, ele foi encaminhado ao Presídio Militar Romão Gomes. A Justiça de São Paulo converteu a prisão em flagrante do soldado em prisão preventiva, sem prazo determinado.
Em caso de violência, denuncie
Ao testemunhar um episódio de agressão contra mulheres, faça uma ligação para o número 190 e denuncie. A maioria dos casos de violência doméstica ocorre, frequentemente, por parte de parceiros ou ex-companheiros, mas a Lei Maria da Penha também pode ser aplicada em agressões cometidas por familiares.
Além disso, é possível efetuar denúncias pelos números 180 — Central de Atendimento à Mulher — e Disque 100, este último responsável por investigar violações aos direitos humanos.
Existem também o aplicativo Direitos Humanos Brasil e a página da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos (ONDH) do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH). As vítimas de violência doméstica têm até seis meses para realizar a denúncia.