Uma mulher de 34 anos compartilhou ter sido atacada com um soco e teve os óculos danificados ao ser confundida com uma mulher transexual no banheiro de um restaurante no bairro do Parnamirim, na zona norte do Recife.
O que aconteceu
A esposa do agressor teria alertado o marido sobre a presença da mulher no banheiro. Ao receber a informação, o homem se levantou da mesa, onde estava com a esposa e um primo, e aguardou na porta do banheiro até que a vítima saísse do local.
O incidente ocorreu no restaurante Guaiamum Gigante na noite de ontem (23).
Um cliente indagou se a vítima era“homem ou mulher”, a vítima, que vamos identificar como L*, questionou a razão da pergunta, ao que o homem respondeu que ela estava no “banheiro errado”, desferindo um soco em seguida, conforme relatou o publicitário e amigo Hilário Júnior ao portal UOL.
O soco resultou em ferimentos no rosto de L* e a agressão foi tão intensa que chegou a quebrar os óculos dela. A vítima não tinha conhecimento prévio do agressor.
Vídeos documentaram tumulto no bar após o ataque. Os vídeos divulgados nas redes sociais exibem o suspeito de agredir a vítima sendo contido por clientes e possíveis funcionários do restaurante. As cenas foram registradas após L* ser atingida pelo soco, correr e começar a gritar no interior do estabelecimento que havia sido agredida, com o suposto agressor ainda a seguindo.
Começaram a apaziguar a situação após descobrirem que ela não era uma mulher trans relata o amigo.
Hilário relatou que a situação só começou a ser amenizada depois que perceberam que a amiga, a única negra usando turbante no local, é uma mulher cisgênero (pessoa que se identifica com o gênero designado ao nascer).
Não queriam que o movimento fosse prejudicado na antevéspera do Natal. Tinha muita gente dentro do bar afirmou.
O suposto agressor foi retirado do estabelecimento por seguranças e fugiu do local. Após serem removidos do restaurante, o homem e sua esposa não aguardaram a chegada da Polícia Militar. Segundo Hilário, as autoridades demoraram a chegar, e o restaurante não prestou assistência à vítima durante esse intervalo.
A vítima chorou e está abalada com o ocorrido. A reportagem tentou entrar em contato com L*, mas ela optou por não se manifestar devido à fragilidade emocional decorrente do episódio. Hilário afirmou que a amiga deseja a descoberta da identidade do homem para que ele seja responsabilizado.
Amigo da vítima destaca que o caso chama atenção para a violência de gênero. Em 2022, o Brasil liderou em número de assassinatos de pessoas trans, totalizando 131 mortes em um ano, conforme o “Dossiê Assassinatos e violências contra travestis e transexuais brasileiras”, da Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais).
O incidente foi registrado como lesão corporal. A Polícia Civil informou ao portal UOL que as “investigações do caso foram iniciadas e seguem até o total esclarecimento do ocorrido”.
*A pedido da vítima, a reportagem se refere a ela como L ao longo do texto.
Restaurante nega que ajudou suposto agressor
O restaurante Guaiamum Gigante, reconhecido na região, refutou a alegação de que protegeu o suposto agressor.
Em comunicado divulgado no Instagram, o estabelecimento argumenta que “cuidou em promover a imediata retirada do agressor do ambiente, de modo a resguardar a integridade física e psicológica da pessoa agredida e demais clientes”.
O estabelecimento também afirmou ter adotado medidas “imediatas” para solucionar a situação, incluindo a chamada da polícia e o oferecimento de suporte à vítima. Essa versão de apoio é contestada pelo amigo da vítima, entrevistado pelo UOL.
Esta casa não tolera qualquer ato de violência ou discriminação contra seus clientes e se solidariza com a parte agredida Restaurante Guaiamum Gigante, em nota
Preconceito contra LGBTQIA+ é crime
Em junho de 2019, o STF (Supremo Tribunal Federal) determinou a criminalização da homofobia e da transfobia, estipulando que essas condutas sejam punidas pela Lei de Racismo (7716/89).
Configura crime praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito em razão da orientação sexual de qualquer pessoa.
A penalidade pode variar de um a três anos, acrescida de multa, podendo atingir até cinco anos se houver divulgação do ato homofóbico em meios de comunicação, como nas redes sociais.
Para relatar casos de homofobia de qualquer parte do Brasil, entre em contato com o Disque Direitos Humanos – Disque 100.
Em caso de violência, denuncie
Ao testemunhar um incidente de agressão contra mulheres, faça uma ligação para o número 190 e denuncie.
A maior parte dos casos de violência doméstica é perpetrada por parceiros ou ex-companheiros das mulheres, no entanto, a Lei Maria da Penha também pode ser aplicada em agressões cometidas por familiares.
Além disso, é viável efetuar denúncias através do número 180, a Central de Atendimento à Mulher, e do Disque 100, que investiga violações aos direitos humanos.