Famosos recorreram às redes sociais para expressar pesar pela morte da artista venezuelana Julieta Martínez, assassinada no Amazonas. Ela estava desaparecida desde 23 de dezembro de 2023. Segundo autoridades policiais, Julieta foi estuprada e seu corpo foi queimado.
O que aconteceu
O cantor Chico César expressou que Julieta confiou “no bom senso e na bondade do ser humano”, mas foi “cruelmente” assassinada.
Sim, ela foi assassinada na Amazônia brasileira, violada e seu corpo cruelmente incendiado em vida. Mulher, palhaça, artista venezuelana. Pessoa livre a rodar a América Latina em sua bicicleta, confiando no bom senso e na bondade do ser humano. Não mais. E por quê? Por ser mulher. A cultura do feminicídio é isso, nossa cultura. Vejo nela muitas amigas minhas, pessoas que amo e admiro, cruzo pelo mundo. Mas não sei como proteger nesse mundo hostil à liberdade das mulheres. Até sempre, Julieta.
A jornalista Renata Ceribelli compartilhou a postagem do cantor, destacando o “ódio” dos assassinos de Julieta.
Quanto ódio… e a menina, uma artista circense, vivia viajando em sua bicicleta só para levar alegria para as crianças e adultos.
Nos comentários da postagem de Ceribelli, outros famosos também se manifestaram.
A comentarista esportiva Ana Thaís Matos declarou:
É desesperador ser mulher no Brasil.
A apresentadora Regina Volpato manifestou indignação:
Meu Deus! escreveu.
A atriz Beth Goulart deixou um emoji triste.
A cantora Luiza Possi também se pronunciou sobre o crime:
Que tristeza escreveu.
Como foi o crime
A série de agressões contra Julieta teve início com o roubo do celular. A iniciativa teria partido de Thiago Angles da Silva, 32 anos, que passou os três dias anteriores consumindo crack, de acordo com informações do delegado Valdnei Silva, da 37ª Delegacia Interativa de Polícia de Presidente Figueiredo (AM).
O homem se aproximou de Julieta empunhando uma faca. Era por volta de 1h, na madrugada de 24 de dezembro, enquanto a vítima dormia em uma rede estendida na área de uma pousada localizada em Presidente Figueiredo (AM).
Como artista de circo, Julieta percorria o Brasil de bicicleta, partindo do Rio de Janeiro em direção a Puerto Ordaz, na Venezuela, onde sua mãe reside. Durante a jornada, ela dormia onde fosse possível.
Na noite do crime, Thiago teria imobilizado Julieta com uma gravata e a jogado no chão. Em seguida, instruiu sua namorada a amarrar os pés da viajante.
Deliomara dos Anjos Santos, de 29 anos, teria inicialmente recusado a ideia de roubar o celular, mas acabou acatando. Além disso, o casal também ficou com a bicicleta da venezuelana.
Estupro na cozinha
Os dois residiam em uma pousada modesta em Presidente Figueiredo, conforme informações do delegado. Ele destacou que a dupla estava no local como favor há sete meses, e o entorno da propriedade estava envolto em mato e lixo.
Apesar disso, a pousada acolhe pessoas que cruzam a pé ou de bicicleta pela BR-174, a rodovia que conecta Manaus a Boa Vista. A hospedagem está próxima de um local para banho no rio.
Sendo a única hóspede naquela noite, Julieta foi arrastada até a cozinha e violentada. De acordo com a polícia, Deliomara afirmou em seu depoimento que o namorado utilizou uma faca para coagi-la a praticar sexo oral nele.
Thiago alegou que sua companheira ficou com ciúmes. O delegado apontou divergências em alguns pontos das declarações, mas ambos confirmaram o estupro.
Deliomara ateia fogo em Julieta e Thiago
Em um surto, Deliomara jogou álcool na artista e no namorado e incendiou-os. Ela permaneceu na cozinha durante o incidente.
Thiago prestou socorro a Julieta, conforme relatado pelo delegado. Ele apagou as chamas utilizando um pedaço de tecido encharcado.
A ajuda foi momentânea, e Thiago aplicou outro estrangulamento na venezuelana. A falta de ar foi tão prolongada que a artista desmaiou.
O homem saiu em busca de ajuda no hospital de Presidente Figueiredo, conforme relatou o delegado. Ele sofreu queimaduras no tronco e na cabeça. Enquanto isso, Deliomara permaneceu em casa com a venezuelana desacordada no chão da cozinha.
Hora da morte indeterminada
A artista foi arrastada por aproximadamente 15 metros e enterrada por Deliomara. O delegado explicou que o corpo foi colocado em uma cova rasa, com um amontoado de lixo para disfarçar a terra mexida.
O corpo, quando desenterrado, apresentava mãos e pés amarrados. O avançado estado de decomposição impossibilitou a identificação de sinais de queimadura.
O delegado aguarda a perícia para determinar o momento da morte. Existe a possibilidade de Julieta ter falecido durante a segunda gravata aplicada por Thiago.
O óbito também pode ter ocorrido devido ao fato de ela ter sido enterrada ainda viva. Não há garantia de que os exames conseguirão determinar precisamente quando a artista morreu.
Thiago não participou da ocultação
Thiago estava no hospital quando Julieta foi enterrada. Devido às queimaduras que necessitavam de cuidados, ele foi transferido para Manaus, de acordo com o delegado. Permaneceu hospitalizado por alguns dias, inclusive durante o Natal, até receber alta.
Depois ele retornou à pousada e foi recebido pela namorada. Ambos continuaram compartilhando o mesmo espaço.
O casal possui cinco filhos pequenos, todos entregues aos cuidados dos avós após a prisão dos pais.
![Famosos lamentam assassinato de atriz venezuelana no Amazonas: "Desesperador"](https://osegredo.com.br/wp-content/uploads/2024/01/2-Famosos-lamentam-assassinato-de-atriz-venezuelana-no-Amazonas-Desesperador.jpg.webp)
Como foi a investigação
Sem receber notícias de Julieta desde o dia 23 de dezembro, amigos e familiares ficaram preocupados. A polícia foi acionada, e fotos dela começaram a ser divulgadas na imprensa local e nacional.
Investigadores visitaram as pousadas da cidade e estiveram no local onde o casal vivia, mas a única informação obtida era de que ela esteve lá no dia 23 de dezembro.
Foi descoberto que Julieta tentou hospedar-se em outros estabelecimentos, mas todos estavam lotados. Assim, a única opção restante foi a pousada onde o casal vivia. Mesmo sem uma cama disponível, ela dormia em uma rede na varanda.
A informação crucial para desvendar o caso surgiu na sexta-feira, quando um homem, ao retornar do trabalho, notou que o quadro da bicicleta jogado no meio do mato se assemelhava ao que ele havia visto nos jornais.
O trabalhador alertou a Guarda Municipal, e a denúncia foi comunicada ao delegado Valdnei Silva. Ele instruiu os agentes a impedirem a saída do casal e se dirigiu à pousada com uma equipe de investigação.
Prisão em flagrante
Questionado sobre a situação, o casal entrou em contradição e admitiu a autoria do crime. Eles conduziram os policiais até o local onde Julieta estava enterrada, indicando também a presença de mais pertences dela próximo ao quadro da bicicleta. A Justiça do Amazonas decidiu manter a prisão preventiva do casal.
Valdnei afirmou que o inquérito também investiga estupro e homicídio duplamente qualificado, por meio cruel e motivo torpe. Ele está aguardando os laudos das perícias no corpo e em uma faca para concluir a investigação.
Thiago informou à polícia que já foi condenado por tráfico de drogas, época em que residia em Roraima. Deliomara negou ser usuária de drogas.
Se você presenciar um episódio de violência contra a mulher ou for vítima de um deles, denuncie o quanto antes através do número 180, que está disponível todos os dias, em qualquer horário, seja através de ligação ou dos aplicativos WhatsApp e Telegram.
O mesmo número também atende denúncias sobre pessoas idosas, pessoas com deficiência, pessoas em restrição de liberdade, comunidade LGBT e população em situação de rua. Além de denúncias de discriminação étnica ou racial e violência contra ciganos, quilombolas, indígenas e outras comunidades tradicionais.