Laianne, uma jovem da periferia de Fortaleza e filha da zeladora da Universidade Federal do Ceará, conquistou sua aprovação em Medicina, mesmo sem ter tido acesso a condições básicas de estudo. Olha a garra dessa garota!
Sem estrutura ou materiais adequados, Laianne revelou que se dedicava aos estudos utilizando apenas o celular e contando com apostilas doadas:
Não tinha livros, apostilas, computador ou uma mesa para estudar. Não tinha tutor, professor, alguém que dissesse que ia dar certo. Não tinha referências contou Laianne Plácido Lima, de 25 anos.
Aqui onde eu vivo, quando você olha pro lado, dificilmente vê exemplos de pessoas que conseguiram entrar numa universidade e se formar. Era uma realidade distante da minha, porque eu não tinha exemplos concretos. As pessoas diziam que era improvável lembrou.
É uma coisa que você pensa ‘por que ainda tô tentando? Isso não faz parte da minha realidade’. Você acaba se autossabotando. Na minha escola, nunca se conversava sobre sonhos, sobre passar numa universidade. Isso também contribuiu disse.
Laianne se esforçou muito, porém, duvidava de sua capacidade, até sair o resultado.
E nesta terça-feira, foi divulgado o Sistema de Seleção Unificada (Sisu). Ao acessar a plataforma, Laianne ficou surpresa ao ler:
Parabéns! Você foi selecionada na chamada regular.
A conquista na área de Medicina mexeu com as emoções da família:
Quando fui dizer pra minha mãe, nem ela acreditou. Tô tentando passar desde 2015, há 8 anos faço essa prova. Acho que ela só acreditou quando chegou no trabalho, mostrou o resultado pros professores e todo mundo começou a chorar contando os anos.
Laianne é filha de Maria Célia, de 56 anos, que trabalha como zeladora em um dos campi da UFC em Fortaleza há 11 anos e é a maior incentivadora das metas e sonhos da jovem. Ela não chegou a concluir seus estudos, no entanto, proporcionou um caminho diferente para sua filha.
Pra me manter no cursinho, eu tinha ajuda dela somente. Muita gente desistiu porque não tinha apoio. Eu, sem o apoio dela, não passaria. Ela acreditou em mim emociona-se.
Dona Célia está radiante com a conquista da filha!
Tô muito feliz, graças a Deus a minha filha ter alcançado esse objetivo. Porque é muito difícil um filho de um pobre alcançar o que ela alcançou. Foi muita luta. Ano passado, ela passou na Universidade da Bahia, mas como não tive condição de manter ela lá, ela ficou aqui, continuou a estudar relata a mãe.
Para alcançar seu objetivo, Laianne se inscreveu no Curso Pré-Vestibular XII de Maio, o cursinho da Famed/UFC. Na biblioteca do campus, descobriu o ambiente ideal: chegava pela manhã e só saía às 22h.
Em casa, eu estudava me balançando na rede, porque não tinha mesa. Pegava o celular, ficava na rede e muitas vezes, quando eu via o pessoal com livros, apostilas e estrutura, pensava ‘meu Deus, nunca vou conseguir’ relembra a jovem.
Minha preparação mental foi ver a minha realidade e perceber que eu poderia ser o exemplo pra alguma pessoa. Sempre pesquisava sobre doações de materiais, e passei a estudar através desse material doado disse.
Acredito que sem a Lei de Cotas eu não teria entrado de forma nenhuma. Foi a Lei de Cotas que me abriu a porta e a possibilidade de eu entrar na Faculdade de Medicina agradeceu.
Em 13 de março, no início do semestre letivo da UFC, Laianne sairá da casa que divide com outras 7 pessoas, localizada no bairro Pirambu, em direção ao Campus do Porangabuçu, onde se encontra a Faculdade de Medicina.
O desejo dela de se tornar oncologista surgiu em decorrência do falecimento do pai, que sucumbiu ao câncer na década de 2000.
Meu sonho é ser oncologista. Espero poder aprender muito, absorver muito conhecimento pra, futuramente, me tornar uma excelente profissional, ajudar as pessoas, acolher meus futuros pacientes. Quero crescer muito como pessoa concluiu.