“Meu maior sonho é ter meu rosto de volta, me sentir linda novamente e ter vida social”. Foi isso o que relatou a influencer e balconista Mariana Michelini Redigolo, de 35 anos, em entrevista ao portal O Segredo.
Mariana viralizou nas redes sociais na última semana ao compartilhar a história de como o seu preenchimento facial deu errado, levando a perda do lábio.
Tudo começou em junho 2020, quando Mariana perdeu a mãe e precisou trancar a faculdade. Morando sozinha e com contas para pagar, ela viu a necessidade de ter uma renda extra, e começou a trabalhar como modelo e influenciadora. A mulher fazia provador de roupas em lojas e outros tipos de divulgação, que eram pagas em dinheiro ou permuta.
A oportunidade da harmonização facial surgiu nessa época. Mariana receberia o procedimento em troca de divulgar o resultado nas suas redes sociais. Mas o resultado foi muito diferente do esperado e ela afirma ter sido enganada.
O procedimento
Mariana sempre foi muito vaidosa, gostava de ir à academia e treinar, mas sempre foi leiga em procedimentos estéticos: “Nunca tinha feito nada relacionado a harmonização facial”.
Em dezembro de 2020, após conversar com a profissional de Matão (SP), Mariana resolveu seguir em frente com a harmonização facial. Segundo o depoimento da influencer para O Segredo, a profissional apenas a informou que usaria ácido hialurônico no procedimento e que em seis meses o corpo absorveria a substância. Maria alega não ter recebido qualquer orientação sobre riscos do procedimento ou do uso do produto.
A substância, que na época Mariana acreditava ser ácido hialurônico, foi aplicada nos lábios, queixo e nas maçãs do rosto. “Fiquei linda, estava radiante. Fiz mais trabalho ainda, inclusive desfile em live”, comentou. No entanto, seis meses depois os resultados mudaram drasticamente.
As consequências
Em junho de 2021, Mariana relatou que acordou inchada e com o rosto vermelho e com aspecto duro. Preocupada, ela voltou à clínica onde havia feito o procedimento estético, mas a profissional disse que não sabia o que fazer e que ia consultar a situação com colegas de profissão.
A influencer então procurou uma dermatologista, que percebeu a gravidade do caso e a encaminhou para outro dermato em São José do Rio Preto, que tinha um hospital com uma equipe e mais recursos para cuidar do seu caso.
Na primeira consulta, Mariana contou a Dr. Carlos Roberto Antônio que a substância aplicada em seu rosto era ácido hialurônico. O médico colheu um pedaço da boca de Mariana para biópsia e os resultados mostraram que na realidade a injeção aplicada era polimetilmetacrilato (PMMA), uma substância plástica.
Mariana pesquisou mais sobre o PMMA e descobriu que várias pessoas morreram após a injeção dessa substância. “Foi nesse dia que meu mundo desabou. Eu fiquei em choque, achando que fosse morrer”.
Dr. Carlos Roberto Antônio, percebendo que a mulher havia sido enganada, aceitou ajudá-la durante um ano, para tentar a conter o inchaço e a dor que ela sentia.
Processos judiciais
Em decorrência dessa situação, Mariana processou a profissional que realizou o procedimento estético, e foi às suas redes sociais alertar os seus seguidores e mostrar como estava o seu rosto.
A influencer não citou nomes, mas a profissional também a processou, e Mariana não pode falar seu nome e nem profissão. No entanto, a influencer relatou que a profissional fugiu da cidade devido ao acontecimento.
Ambos os processos estão em andamento em segredo de Justiça e a polícia investiga se houve negligência na operação.
Remoção do lábio e recomeço da influencer
Mariana passou por sessões de câmara hiperbárica para auxiliar na cicatrização e regeneração do rosto. Mas em 2022 começou a sentir muita dor no buço, e o Dr. Carlos Roberto Antônio afirmou que o PMMA estava migrando para outras partes do seu rosto, e que ela precisava de um cirurgião para remover a substância.
A influencer então conversou com outras mulheres que também tiverem problemas após procedimentos estéticos e elas recomendaram o Dr. Albert Goldman, cirurgião especialista em remoção de PMMA em Porto Alegre (RS).
Dr. Albert fez uma consulta virtual com Mariana, conversou com Dr. Carlos Roberto e aceitou o caso. Para conseguir o dinheiro para viajar a Porto Alegre, bancar passagens, hospedagens e fazer a cirurgia, a influencer recorreu às redes sociais e à rifas.
A inflamação havia piorado ao longo do tempo, e o PMMA havia destruído as células do rosto de Mariana. Por isso, a melhor opção para a sua recuperação naquele momento era fazer a retirada de uma parte dos seus lábios e buço.
“Mesmo me vendo deformada, foi feito o melhor possível”, relatou a influencer a O Segredo. Mariana foi retomando a sua vida aos poucos, apesar da vergonha que sentia da sua aparência. Para não expor o rosto em público, ela continua usando máscara ao sair de casa.
Nessa época, a mulher decidiu criar um canal no YouTube, tanto para mostrar às pessoas a sua rotina após a cirurgia, quanto para deixar o alerta àqueles que pensam em fazer procedimentos estéticos.
Primeiros passos da reconstrução do rosto
Em 2023, uma seguidora mostrou a Mariana o cirurgião de face Dr. Raulino Brasil, de Palhoça (SC). A influencer entrou em contato com ele para fazer uma avaliação e novamente contou com a ajuda das redes sociais para ir até o sul do Brasil e se consultar com o profissional.
A consulta aconteceu em fevereiro do ano passado, e o Dr. recomendou que Mariana fizesse injeções de corticoide na região ao longo do ano, pois ainda estava muito dura. A influencer voltou para casa e o Dr. Carlos Roberto Antônio a ajudou nesse processo, e em dezembro de 2023 foi feita a primeira etapa da reconstrução do rosto.
Após a cirurgia, Mariana passou 20 dias com a boca costurada, se alimentando apenas de líquidos em um canto da boca. Até o momento, o meio do lábio superior foi recuperado. As próximas etapas de recuperação do rosto serão feitas nos próximos meses, e o foco será nas laterais da boca.
“Não tenho outra alternativa além de ser forte”, disse Mariana a O Segredo.
Mariana contou a O Segredo que não imaginava que o seu caso teria uma repercussão tão grande, mas é grata por isso, porque ajuda a expor uma situação que acontece com muitas mulheres. Ela ainda relatou que é procurada por várias mulheres que fizeram procedimentos com PMMA e tiveram reação 30 anos depois.
Em seu perfil no Instagram com 44 mil seguidores e em seu canal do YouTube, Mariana segue compartilhando a sua luta pela recuperação e inspirando outras pessoas que passam pela mesma situação.
E para quem pensa em fazer procedimentos estéticos, a influencer tem um alerta: “É sempre importante pesquisar o histórico do profissional e pedir para abrir as embalagens na sua frente, coisa que eu não fiz”.
O que a Anivsa diz sobre o PMMA
De acordo com informações da Anvisa, o polimetilmetacrilato, ou PMMA, é uma matéria-prima plástica com várias utilizações dentro da área de saúde e em outros setores produtivos.
O PMMA está presente em implantes de esôfago, lentes de contato, cimento ortopédico, entre outros. Uma outra forma de aplicação do produto é em preenchimento cutâneo, sendo usado em microesferas, em numa forma semelhante ao gel. Nesse caso, o produto só pode ser utilizado por profissionais habilitados.
A Anvisa autoriza o uso do produto nas seguintes aplicações:
- Correção volumétrica facial e corporal, usada para tratar depressões e irregularidades no corpo através do preenchimento das áreas afetadas por meio de bioplastia.
- Correção de Lipodistrofia, uma alteração no organismo que faz com que a gordura se acumule em certas partes do corpo. Essa condição é provocada pelo uso de antirretrovirais em pacientes com síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS).
Além disso, concentração de PMMA também varia radicalmente em cada tipo de produto. E há aconselhamentos claros sobre os locais onde essas aplicações podem ou não ser feitas. Segundo informado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, o fabricante do produto informa que pode ele conter 5, 10, 15 ou 30% de polimetilmetacrilato, apresentado em seringas plásticas de 1,0 mL ou 3,0 mL.
Veja abaixo onde cada uma dessas concentrações podem ser injetadas:
- Biossimetric com 5% de PMMA: injetado na derme profunda.
- Biossimetric com 10 ou 15%: injetado no tecido celular subcutâneo.
- Biossimetric com 30%: injetado a nível intramuscular ou justa periosteal ou pericondrial.
Sobre os limites de aplicação, as orientações aprovadas pela Anvisa indicam que a dose liberada pela uso deve ser apenas o necessário para a correção de defeitos tegumentares ou da pele.
Cabe ao profissional médico fazer a avaliação do paciente e determinar qual a quantidade necessária e não ultrapassar esse valor.
Em um caso como atrofia tegumentar da face secundária à AIDS, por exemplo, o fabricante do Biossimetric pontua que a quantidade necessária de produto está entre a casa de 4 a 12mL para cada lado do rosto.
No entanto, se o caso a ser tratado é uma sequela de poliomielite com atrofia de musculatura da panturrilha, esse valor pode aumentar para 120mL, a depender do volume desejado para a correção.
O profissional pode fazer a aplicação do produto de uma vez ou dentro de um intervalo de 45 dias, dependendo da elasticidade da pele de cobertura.
A Anvisa ressalta que em hipótese alguma esse produto deve ser usado por pessoas sem treinamento e capacidades médicas. Isso porque essas pessoas não saberão analisar fatores essenciais para determinar as doses necessários e número de injeções, como:
- Características cutâneas, musculares e ósteocartilaginosas
- Áreas a serem tratadas
- Tipo de indicação.
Outro ponto essencial levantado pela Anvisa é que PMMA não é contraindicado para aplicação nos glúteos para fins corretivos. No entanto, não há indicação no que se refere ao aumento de volume, seja corporal ou facial.
Cada profissional deve avaliar a aplicação levando em conta a correção a ser realizada e as recomendações técnicas de uso.
O PMMA para uso em preenchimento subcutâneo precisa ser registrado na Anvisa, uma vez que se trata de um produto de máximo risco na saúde.
Nota da SBCP sobre o PMMA
Em nota pública sobre o PMMA, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) afirmou que o uso da substância polimetilmetacrilato, também conhecido como PMMA ou bioplastia é “extremamente perigoso”, se administrado de maneira contrária às recomendações oficiais sobre o produto.
Embora esse plástico não absorvível tenha a liberação da Anvisa para fins específicos, ele não é recomendado para uso estético exatamente devido às reações que pode causar nos pacientes após os procedimentos. Algumas consequências do uso indevido do PMMA são: nódulos, massas e processos inflamatórios e infecciosos. E nos casos mais graves podem ocorrer embolias, cegueiras, necroses, e até mesmo o óbito.
Devido a todos esses riscos, o órgão salientou que de forma alguma recomenda o uso dessas substâncias para fins estéticos. O PMMA deve ser usado apenas para fazer pequenas correções de pequenas deformidades e em pacientes com lipodistrofia de HIV.
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