Participando de um reality show gospel, Aymeê Rocha, 28 anos, apresentou a música autoral “Evangelho de Fariseus” e rapidamente viralizou na internet, aumentando sua base de seguidores de pouco mais de 2.000 para 1,9 milhão em menos de 10 dias.
A “cristã, brasileira e paraense”, conforme sua própria descrição, já compôs mais de 200 músicas religiosas e integra uma pequena igreja com aproximadamente 30 membros em Redenção (PA).
Nessa comunidade, ela desempenha o papel exclusivo de ministra de música, sendo a liderança pastoral exercida por seu padrasto e sua mãe.
Quanto à repercussão, Aymeê conversou com a equipe do portal Splash:
Assustadora, confesso! Mas Deus me preparou e capacitou por anos em secreto para o que eu viveria no público. Eu já imaginava a proporção, mas não imaginei que seria em uma velocidade tão rápida
O que aconteceu:
Na semifinal da segunda temporada do “Dom Reality”, ela apresentou uma música que gerou divergências de opinião entre líderes evangélicos. O programa, exibido no YouTube em 15 de fevereiro, busca selecionar a nova voz gospel do Brasil.
Alguns afirmaram que a letra é impactante, enquanto outros compararam a jovem a João Batista. A analogia com o primo de Jesus foi feita porque, de acordo com a Bíblia, ele confrontou os fariseus com sua pregação, buscando o arrependimento do povo por seus pecados.
Para Aymeê, a comparação “tem suas verdades”. Ela declara ter sido convocada por Deus para cantar “o seu amor, mas também, a sua indignação”.
Letra remete ao caso Marajó
Na canção, que levou os jurados do programa às lágrimas, ela denuncia a suposta presença de “muito tráfico de órgãos e pedofilia ao nível hard” em Marajó (PA).
Há um evangelho de fariseus, cada um escolhe os seus e se inflamam na bolha do sistema. Ah, enquanto isso, no Marajó, o João desapareceu esperando os ceifeiros da grande seara. A Amazônia queima. Uma criança morre. Os animais se vão superaquecidos pelo ego dos irmãos ela escreve.
As criancinhas saem em uma canoa 6, 7 anos e elas se prostituem por R$ 5
Após a repercussão, a ex-ministra Damares Alves voltou a associar a ilha à pedofilia, e perfis bolsanaristas compartilharam vídeos manipulados nos quais crianças eram vítimas de abuso.
O portal UOL já desmentiu a informação de que os vídeos seriam de Marajó — eles foram gravados no Uzbequistão e não têm relação com o contexto local. Além disso, é falso que um vídeo em que um homem beija uma criança em um barco tenha sido filmado na região; na verdade, a gravação foi feita em Mato Grosso do Sul.
Grupos bolsonaristas divulgaram informações falsas, alegando que o governo Lula teria interrompido ações de proteção às crianças no Marajó. Silvio Almeida, o atual ministro dos Direitos Humanos, afirmou em nota que não houve cancelamento das ações do governo federal na região.
Embora o governo estadual do Pará, o Ministério Público e o governo federal não tenham negado a ocorrência de abusos sexuais contra crianças e adolescentes, não há registros de tráfico de crianças, conforme sugerem publicações com notícias falsas.
O reality gospel
Paulo Alberto, um dos criadores do reality show e atualmente encarregado da carreira de Aymeê, afirmou que o programa visa proporcionar entretenimento. Com mais de 3.000 inscrições recebidas, a organização selecionou 30 participantes na 2ª edição, com o objetivo de “levantar e dar voz a novos artistas de todas as regiões”.
Apesar de ser um programa musical de competição, a audiência não tinha influência na escolha de quem continuava no programa ou era eliminado.
Todos os episódios foram registrados na Igreja Batista da Lagoinha em Niterói. Segundo Paulo, a considerável repercussão desta temporada despertou o interesse de canais de televisão e plataformas de streaming para transmitir a próxima edição, programada para 2025.