Livian Malfará de Mesquita Dias, uma jovem de 18 anos, teve sua entrada no curso de engenharia da computação na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) impedida.
O motivo? A Comissão de Verificação de Autodeclaração, encarregada de entrevistá-la pessoalmente, não a reconheceu como parda, apesar de sua autodeclaração no Sistema de Seleção Unificada (Sisu).
Nascida em Ibaté, interior de São Paulo, Livian cursou toda a educação básica em escolas públicas. Ao se candidatar por meio do sistema de cotas, ela encaminhou todos os documentos requeridos, incluindo fotos do rosto e corpo inteiro, e deslocou-se até Vitória (ES) para a entrevista presencial.
Conforme o portal G1, a comissão universitária determinou que ela não apresentava características fenotípicas de uma pessoa parda, desconsiderando sua ascendência paterna negra. Livian, filha de pai negro, acredita que os entrevistadores deram ênfase à cor de sua pele em detrimento de outras características.
![Por não ser considerada parda, jovem perde vaga em engenharia da computação](https://osegredo.com.br/wp-content/uploads/2024/03/2-jovem-perde-vaga-engenharia-computacao.jpg.webp)
Durante a entrevista, ela relatou que um membro da comissão destacou a questão da cor da pele, enfatizando a necessidade de características fenotípicas mais escuras para ser considerada parda.
O edital da Ufes determina que apenas o fenótipo negro é levado em consideração para validar a autodeclaração como pardo, excluindo qualquer análise de ascendência. Livian contestou a decisão, que foi aceita, mas implicava retornar ao Espírito Santo para outra entrevista.
Contudo, ela não possuía recursos financeiros para realizar essa segunda viagem. A Ufes a notificou para comparecer à segunda entrevista apenas dois dias antes do evento, impossibilitando-a de se organizar financeiramente para tal.
![Por não ser considerada parda, jovem perde vaga em engenharia da computação](https://osegredo.com.br/wp-content/uploads/2024/03/3-jovem-perde-vaga-engenharia-computacao.jpg.webp)
Livian, sem meios para viajar novamente a Vitória, perdeu a oportunidade de tentar novamente a vaga e não tem mais possibilidade de se inscrever em outra universidade.
Mesmo discordando da decisão, Livian não planeja buscar a vaga através de meios judiciais. Em uma entrevista ao G1, ela explicou:
“Escolhi a Ufes por causa da proposta de curso. Tinha gostado das matérias e de como falavam bem da faculdade, na questão de apoiarem bastante o estudante, segundo eles. Depois de todo esse ocorrido e da falta de apoio deles para ajudar, fiquei muito desanimada. Eu me senti muito constrangida no dia e deslocada pelo jeito como tudo foi tratado, como se toda a proposta deles de acolhimento e inclusão só não se aplicasse a mim. Não tenho mais vontade de estudar lá”
Nota da Ufes
Como resposta, a Ufes afirmou que não faz comentários sobre casos específicos durante o processo seletivo do Sisu e ressaltou que está aprimorando suas avaliações por meio de um processo misto de heteroidentificação.
“A equipe da Pró-Reitoria de Graduação (Prograd) da Ufes informa que, enquanto o processo do Sisu 2024 estiver em andamento, não se manifestará sobre nenhum caso específico do processo seletivo.
Desde a implementação do sistema de reserva de vagas, a Ufes, assim como as demais universidades, vem aperfeiçoando as análises ao realizar um processo misto de heteroidentificação, em que a autodeclaração é validada ou não por uma comissão avaliadora, conforme normatizado pela Resolução nº49/2021.
Atualmente, a avaliação étnica-racial para candidatos pretos e pardos é realizada de maneira PRESENCIAL pela Comissão de Verificação de Autodeclaração, considerando única e exclusivamente o fenótipo negro (preto ou pardo): predominantemente a cor da pele, a textura do cabelo e os aspectos faciais que, combinados ou não, permitem validar ou invalidar a autodeclaração.
Esse processo visa a coibir eventual destinação de vagas reservadas para quem não é alvo da política social, considerando possíveis fraudes, bem como declarações equivocadas devido à ausência de compreensão das questões raciais.”
1 comentário
Livian é minha neta
Nasceu em São José do Rio Preto-SP
Fez o ensino médio na cidade de Ibaté-SP